Sua revista escolar de filosofia.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A alegria da natureza

Transformar o mundo ou se reconciliar com a realidade?

Para o homem, projetar a vida sob valores transcendentes pode ser uma necessidade contra a qual será impossível propor outra atitude. Faz parte da consciência da finitude, da impotência humana diante de tudo o que é considerado inevitável e impede a felicidade.

Neste caminho, o idealismo é o conjunto de fundamentos metafísicos que norteiam a existência.

Por outro lado, viver a imanência é aceitar o real ele é. É fruir a alegria da natureza presente sem esperanças ilusórias, extraindo do aqui e do agora, o que for possível para fazer da existência tão feliz quanto se consegue.

Um modo bastante epicurista de levar as coisas.

O que fazer?

O balanço da vida exige transitar entre realidade e idealidade.

Uma aula sobre Nietzsche (clique aqui) procura esclarecer melhor os conceitos antiniilistas (e alguns estoicos) que propõem atitudes de vida conectada ao presente e à conformação do homem com sua condição existencial concreta.

fonte: Espaço Ética
imagem: artelista

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Uma educação para além das relações mercadológicas

Quem o professor educa?
Para quem?
Para o quê?

A colega Naiama Porto, acadêmica de Sociologia e Administração, produziu como trabalho para o encerramento do semestre 2013/2 da turma SOC 0022 do Centro Universitário Leonardo da Vinci, um texto que ingressa na questão da educação preparatória para o grande mercado e seu sistema de política, economia e cultura.

Mas, antes de ler o que ela escreveu, vamos tentar pintar um breve retrato do professor?

Quadro docente

Dar contornos à figura do professor é delimitar uma forma enigmática.

Isto porque o docente é móvel e dinâmico. Jamais ele pode ser visto afastado do contexto de sua época. O professor é um pintor do mundo para aqueles que estão iniciando a ver a realidade. E ambos, educador e aluno, pertencem ao universo escolar que, por sua vez, está inserido na sociedade que vai da cidade aos outros continentes.

A educação se dá sem estar descolada do paradigma do seu tempo. Claro que isto não significa silenciar ao momento. A construção do futuro depende da crítica se esta marcha pretende ser positiva e crescente.

Hoje, ser professor é ser, em parte profissional. Quer dizer que a academia prepara com teoria e prática aqueles que vão à escola ensinar. Esta preparação é suficiente, boa, orientada? Se for considerado o esqueleto pedagógico, metodológico e didático que sustenta o professor, pode-se dizer que, em geral, ele mantém em pé a própria estrutura da sociedade presente. Ou seja, a escola educa para um mundo político, social, cultural e econômico que tem sua dinâmica no agora, como prioridade e no depois como possibilidade. Neste sentido, o professor é ainda um reprodutor de ideologias da sociedade burguesa. E neste século, o paradigma é o do conhecimento como fundamento da máquina global geradora de riqueza.

Percebe?

O conhecimento serve à geração de riqueza.

Aquele que não dominar a lógica atual da tecnologia, da comunicação, da pró-atividade, criatividade, da autonomia para pensar de modo sistêmico, global...

Opa!

Pensar?!

Mas, o trabalhador (modelado pela escola) não é alguém restringido à função que lhe cabe? O funcionário não é peça do mecanismo?

O mundo mecanicista vai dizendo adeus. É o que estão dizendo os pensadores contemporâneos. A modernidade foi esgotada na possibilidade de racionalização e com ela as divisões que nos afastavam expressas em nacionalismos, sectarismos de variada ordem, tradicionalismos pétreos, teorias totais, mas conservadoras. Se fôssemos à Física, diríamos que Newton foi confrontado por Planck. O cenário é de probabilidades quânticas, inclusive na educação.

A homem é plural e não é possivel mais educar de outro modo que não seja valorizando isto, lembra Gadotti (2007). Ao falar sobre educação, Russell (2002, p. 168) afirma que as regras "por mais sábias que sejam, não substituem a afeição e o tato." Rousseau (1992, p. 536)  declara ao Emílio: "Os encantos da virtude juntam-se para vós aos do amor; e a doce ligação que vos espera não é menos o prêmio de vossa sabedoria que o de vossa afeição." O balanço entre o técnico, o estético, o racional e o emocional integralizando o homem em todos os seus potenciais define um pouco o que se espera da educação contemporânea.

Educar é fazer com que o homem se autoilumine, conforme Kant, que traçou os limites da razão ao mesmo tempo em que a entronizou.

O professor é este que educa hoje para hoje e também para amanhã. Que infiltra no paradigma tintas que vão se misturar na tela para fazer surgir novos matizes de saber e com eles, novas colorações para a vida.

Neste sentido é que Naiama Porto estabelece sua reflexão e defende a docência conscientizadora, libertadora e reflexiva, que transcenda a instituição. Pois, educar não é somente instruir.

Boa leitura!

ROUSSEAU, Jean Jacques. Emílio ou da educação. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.
RUSSELL, Bertrand. O elogio ao ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.
GADOTTI, Moacir. A mudan;a está conosco. FILOSOFIA ciência & vida, ano I, ano 10, p. 6-13, 2007.
imagem: artodyssey, city.ogaki


UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DAS RELAÇÕES MERCADOLÓGICAS
 
Naiama Porto
Ana Cláudia Alves
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Curso (Soc 0022) – Prática do Módulo III
03/11/2013


RESUMO
 
Esse estudo tem como objetivo dissertar sobre o papel do professor na atualidade, portando será analisado o papel do educador como emancipador social, o que pressupõe que a sua atuação, juntamente com o educando, vá além da sala de aula, de como a educação deve estar voltada para além dos anseios mercadológicos, deve estar voltada para o anseio do próprio educando como protagonista direto de seus anseios pessoais e coletivos, e que muitas vezes, a educação escolar e os anseios do educando são pontos antagônicos. O que gera um desacordo por parte dos atores envolvidos.

 
Palavras-chave:Educação.Capitalismo.Emancipação .

 
1 INTRODUÇÃO

 
A educação escolar é acessível a grande parte da população brasileira, mas em pleno século XXI, temos um índice de analfabetismo, de acordo com Pnad no ano de 2012, que 11,9% da população com 25 anos ou mais de idade não têm qualquer instrução, ou têm menos de um ano de estudo. Um ano antes, tal proporção era de 15,1%. Com ensino fundamental incompleto ou equivalente, estavam 33,5% do total da população desta faixa etária.  
Mesmo com obrigatoriedade do ensino escolar para crianças na faixa etária de 6 a 8 anos de idade, a escola ainda possui grande evasão. A faixa etária, de acordo com a amostragem, dos 14 aos 17 anos ,é a mais incidente. Os adolescentes apresentam a mair evasão escolar, o que reflete o descaso não só por parte dos alunos em relação a educação escolar, mas da relação inversa .
A escola é pouco atrativa, existe uma expectativa grande por parte do educando na sua introdução no ambiente escolar de aprendizado, as crianças ao iniciarem sua vida escolar apresentam grande interesse no que tange aos diversos tipos de aprendizagem, através do estímulo, ela está receptiva aos diversos tipos de saberes, além de apresentar grande interesse em novas descobertas,  mas parece que o entusiasmo é inibido durante a trajetória do educando, uma parcela significativa dos jovens, já mencionados nesse estudo, se mostra desinteressada, ou tem seu estímulo inibido ao longo do 1° grau. Não é objetivo desse estudo analisar os porquês da evasão escolar, mas analisar o objetivo da educação como emancipador social e do papel do professor como protagonista de mudanças, e porque não dizer,  de mudança de paradigma.
Ou seja, a educação escolar contemporânea está voltada para que objetivo, de atender os anseios mercadológicos, ou de atender os anseios dos educandos, ou seja, de emancipação social? E as relações construídas entre o sistema de ensino de países capitalistas de economia dependente, o caso do Brasil, atendem a quem? Aos interesses do mercado? Ou aos interesse sociais da população?  Sendo que grande parte da população, apesar do acesso, não possui grau de instrução que desenvolva significativamente seus anseios pessoais, coletivos, profissionais, intelectuais e que ao mesmo tempo atenda aos anseios mercadológicos do sistema econômico ultraliberal.

 
2 DESENVOLVIMENTO

 
É importante antes de entramos propriamente no objetivo do texto, de salientarmos qual a conjuntura econômica vigente em nosso país para começar o estudo pertinente a proposta do texto, de uma educação para além das relações mercadológicas, que atenda aos anseios da população e não apenas de uma parcela responsável pela concentração e manuseio da grande parte do capital oriundo desse sistema econômico, precisamos resgatar alguns conceitos.
De acordo com Cristian Caubet, não vivemos hoje num modelo novo de capitalismo, neocapitalista, mas sim num modelo capitalista de uma proporção em sua magnitude de desenvolvimento econômico, o capitalismo toma grandes proporções a partir da mundialização cada vez mais exacerbada, onde existe cada vez, mais nítido, grandes contrastes sociais. A luta de classes de Marx está cada vez mais acirrada, e mais presente. A população torna-se mais consciente, também por causa do processo de mundialização, que é o aspecto positivo, da sociedade do conhecimento, mas é através da educação que novos instrumentos de mudanças são construídos para e com a sociedade em geral.
Mészáros nos convida a pensar a sociedade tendo como parâmetro o ser humano, e para isso devemos superar a lógica desumanizadora do capital, que tem no individualismo, no lucro e na competição seus fundamentos. O que é educar, segundo Gramsci, senão colocar fim à segmentação entre Homo faber e Homo sapiens, é resgatar no sentido amplo o sentido estruturante da educação e de sua relação com as relações de trabalho, de suas possibilidades de criação, de formas criativa e principalmente emancipatórias. E ainda contribui o autor, que a educação não pode estar restrita ao ambiente escolar, além de ser constante.
A educação, em sentido amplo, desempenha uma importância enorme como fator determinante de mudanças, os primeiros passos para uma grande mudança social atualmente envolvem a necessidade de manter controlada o estado político hostil que se opõe, por causa de sua própria natureza antagônica a qualquer ideia de uma reestruturação mais ampla da sociedade. Portanto se faz necessário a negação radical de toda a estrutura de comando político do sistema do estado ultraliberal que defende seus próprios interesses. 
Diante do exposto acima, a tarefa histórica que temos que enfrentar é incomensuravelmente maior que a negação do capitalismo, a educação deve proporcionar a quebra das estruturas hegemônicas de produção. O conceito emprestado de Meszáros, para além do capital é inerentemente concreto. Ele tem em vista a realização de uma ordem social metabólica que sustente concretamente a si própria, sem nenhuma referencia autojustificativa para os males do capitalismo. E que diante da condicionalidade das demais manifestações de alienação que o sistema impõe a negação deve ser direta. Ou seja, a educação não pode estar entrelaçada às negações que o capitalismo oferece de forma osbcura, às condições de uma educação voltada para o mercado e não para o homem.(MESZÁROS, 2012)
Paulo Freire, educador brasileiro conhecido no mundo inteiro, disserta sobre o papel do educador dentro desse contexto e levanta alguns pontos importantes nesse estudo, dentro deles ressalta o compromisso do profissional da educação para com a sociedade. A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir, é preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele,  saber que, se a forma pela qual está no mundo condiciona a sua consciência deste estar, é capaz, sem dúvida, de ter consciência desta consciência condicionada, ou seja, é capaz de intencionar sua consciência para a própria forma de estar sendo, que condiciona sua consciência de estar. (FREIRE, 1979)
   Ainda dentro da concepção freiriana, não é possível fazer uma reflexão sobre educação sem refletir sobre o próprio homem, para ele, a educação é uma resposta da finitude da infinitude, e ela é possível para o homem, pois este é inacabado e sabe-se inacabado, o que o leva a perfeição, para isso a educação implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem e consequentemente, o homem deve ser o sujeito de sua própria educação, não podendo ser objeto dela. O autor completa, que por isso ninguém educa ninguém.(FREIRE, 1979)

 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 
Diante do estudo podemos concluir que uma educação voltada para atender as relações de mercado muitas vezes vão de encontro aos anseios do educando, e porque não da sociedade como ambiente das relações humanas, tendo em vista a manutenção do sistema econômico, os quais não atendem a todos os atores sociais. 
A educação em sentido amplo deve atender aos anseios do homem como protagonista de suas próprias mudanças e desejos. O homem, como ser complexo que é, não tem suas necessidades atendidas unicamente pelo mercado, o homem como ser humano, tem como fator determinante as suas relações humanas para com o meio, para com a sociedade em que vive e ajuda a desenvolver.
O homem não deve ser objeto das relações mercadológicas, e sim ser o precursor de sua própria mudança, individual e coletiva afim de assegurar que seus anseios pessoais sejam efetivamente atendidos, sem prejuízo de seus valores. O sistema econômico ultraliberal, não está para servir os anseios da população, que está em constante luta de classes, onde muitos são protagonistas de relações de trabalho e não de relações humanas, onde elas estão dissociadas. E que não atendem as perspectivas reais de mudanças sociais.

CANÇÃO PARA OS FONEMAS DA ALEGRIA

Peço licença para algumas coisas.
Primeiramente para desfraldar
este canto de amor publicamente.
 
Sucede que só sei dizer amor
quando reparto o ramo azul de estrelas
que em meu peito floresce de menino.
 
Peço licença para soletrar,
no alfabeto do sol pernambucano,
a palavra ti-jo-lo, por exemplo,
e poder ver que dentro dela vivem
paredes, aconchegos e janelas,
e descobrir que todos os fonemas
são mágicos sinais que vão se abrindo
constelação de girassóis gerando
em círculos de amor que de repente
estalam como uma flor no chão da casa.
 
Às vezes nem há casa: é só o chão.
Mas sobre o chão quem reina agora é um homem
diferente, que acaba de nascer:
porque pouco unindo pedaços de palavras
aos poucos vai unindo argila e orvalho,
tristeza e pão, cambão e beija-flor,
e caba por unir a própria vida
no seu peito partida e repartida
quando afinal descobre num clarão
que o mundo é seu também, que o seu trabalho
não é a pena que paga por ser homem,
mas é um modo de amar – e de ajudar
o mundo a ser melhor. Peço licença
para avisar que, ao gosto de Jesus,
este homem renascido é um homem novo:
ele atravessa o campo espalhando
a boa-nova, e chama os companheiros
a pelejar no limpo, fronte a fronte,
contra o bicho de quatrocentos anos,
mas cujo fel espesso não resiste
a quarenta horas de total ternura.
 
Peço licença para terminar
soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria:
cancão de amor geral que eu vi crescer
nos olhos do homem que aprendeu a ler.
 
Thiago de Mello, Santiago do Chile, verão de 1964.

 
REFERÊNCIAS

 
CAUBET, Cristian. O ultraliberalismo. Palestra uergs, setembro de 2010.
 
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança.23° edição. Paz e Terra, 1979.

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. 2° Edição. Editora Boitempo, 2012.