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domingo, 14 de dezembro de 2014

Trabalho acadêmico: A aprendizagem como um processo individual e coletivo

Postei no meu outro blog, o Capinando, uma reflexão sobre os rumos recentes de alguns sistemas de ensino no Brasil, no caso, o da rede estadual do Rio de Janeiro.

O texto compartilha opiniões do professor de Jornalismo Cristiano de Sales e foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

Vale a pena ler, pois aponta uma tendência política para a educação que não está restrita ao Rio. A crítica surgiu a partir da publicidade e mostra o quanto a comunicação reproduz significados da estrutura. Se eles não são bons, afetam a todos e modo prejudicial.

Como objetivo maior, a lei brasileira orienta para uma formação cidadã do aluno, como sempre repetimos. No processo de ensinar e aprender, lida-se com sujeitos e padronizar metodologicamente o ensino é um caminho que já se mostrou autoritário, controlador e pouco democrático.  

Para contribuir com a análise a partir do ponto de vista de Sales, trago aqui um texto produzido para a pós-graduação.

Veja se gosta!


A APRENDIZAGEM COMO UM PROCESSO INDIVIDUAL E COLETIVO

Charles da Silveira Dalberto
Professora Denise Voltolini
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - PÓS
Pós-graduação em Docência no Ensino Superior – Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 01/06/2013

Estudantes de uma mesma disciplina podem variar no desempenho escolar. Isto ocorre porque o processo de aprendizagem diverge e indivíduos diferentes aprendem de modo distinto, onde a relação aprendiz/conhecimento se dá sob a interferência das características pessoais do aluno, de seus valores culturais e aptidões cognitivas e também da maneira como o professor interfere positiva ou negativamente na construção do saber. Pelo lado dos alunos, o processo cognitivo resulta de variantes que vão desde os aspectos biológicos aos sociais.

Sobre os primeiros, cada período da vida é marcado por fases do amadurecimento intelectual e emocional que determinam o modo como cada pessoa apreende as informações do meio e as elaboram em si mesmas transformando-as em conhecimento e na consequente aprendizagem. É o que estudam ciências como a neurociência e a psicologia aplicada à aprendizagem. Com o auxílio das observações realizadas por estas áreas, pode-se compreender melhor a maneira como se aprende. De que forma os estudantes executam seus métodos próprios de investigação, o que se chama de estilos cognitivos. Dois grupos básicos podem ser apontados: o daqueles que procuram o saber, sendo ativos e independentes, levados por estímulos internos a formular o conhecimento de modo construtivo, reelaborando esquemas que permitem a transformação necessária para o aprendizado; e o dos estudantes com perfil de maior dependência externa, ou seja, passivos ao conhecimento transmitido e aos estímulos do meio, mais inclinados a respostas programadas, reforçadas pelo agente transmissor do saber, no caso, o professor ou instrutor. Da parte de quem ensina, é fundamental entender quais as principais variáveis que interferem na aprendizagem. Um professor ciente das teorias cognitivas pode intervir com maior eficácia no processo pedagógico com o objetivo de proporcionar aos alunos um desenvolvimento harmônico do ensino, levando-os à meta, que é o saber. Ao trabalhar com alunos de estilos cognitivos diferentes, o professor pode usar como ferramentas as teorias de aprendizagem.
 
Úteis, elas orientam na adoção de técnicas didáticas e ainda ajudam aos próprios aprendizes a se autoconhecerem melhor, proporcionando descobertas que podem conduzir à automotivação pelo prazer do estudo e à metacognição, por exemplo, para uma relação mais livre e produtiva com o trabalho de estudo. Como caso específico, pode-se citar uma aula de Jornalismo para o Ensino Médio de uma escola pública onde se trabalha o perfil editorial de diferentes jornais impressos. O professor pode propor que os estudantes avaliem as notícias políticas de alguns veículos de comunicação indicados por ele. Na instrução, pode orientar os estudantes a perceber a carga editorial presente na estrutura do texto e na seleção das imagens fazendo uma análise semiológica. Porém, o professor consciente da realidade social de seus alunos e dos interesses predominantes na faixa etária, pode traçar limites flexíveis quanto à editoria escolhida. Em vez de impor a análise do conteúdo político do noticiário, o professor pode abrir espaço que para os próprios estudantes tragam também exemplos de reportagens de assuntos de interesse deles para que sejam comparadas. A estratégia tem como função ser estimulante e criadora de motivação nos alunos para a leitura crítica daquilo que os atrai na comunicação. Pode ser indutora do crescente apetite pelo consumo de notícias ao mesmo tempo em que aumenta a independência de campo dos estudantes e reforça o lócus de controle interno, características importantes para a carreira profissional futura destes alunos.

Esta postura libertária faz do professor um agente transformador por meio da educação, na medida em que assume a identidade do educador progressista, como afirma Freitas (2001). Nesta perspectiva pedagógica identificada coma construção do saber, o educador é um interventor no sentido positivo do termo, pois ele conduz seus alunos à libertação como indivíduos, orientando-os a estar no comando de suas próprias capacidades para que assim construam a si como cidadãos conscientes, inteligentes, emocionais, éticos e socialmente participativos e úteis. O aprendizado não ocorre no indivíduo se ele estiver sozinho. Sem entrar na discussão a respeito da existência ou não de conhecimentos inatos, o que se observa é que o homem repete o que aprende na medida em que se repete criando hábitos. Mas nunca de modo estanque. Por esta razão há o progresso humano. Aquilo que se conhece não é suficiente para saciar a curiosidade e a necessidade de resolução de problemas que surgem como o oposto do saber, ou seja, a resposta a um problema é um mistério até ser descoberta ou inventada. Assim, de um determinado patamar do conhecimento, migra-se para outro superior provocado por questões que desafiam o próprio conhecimento e sua aplicação, num processo dialético como defendeu, entre outros, Hegel. (STÖRIG, 2009). Deste modo, a interação entre os estudantes e seus pares e entre eles e o professor é imprescindível para que haja avanços no aprendizado. Uma vez que as pessoas são diferentes, por seus valores intrínsecos elas elaboram interpretações variadas sobre estímulos extrínsecos e chegam a novos significados sobre a realidade. Desta dinâmica nascem pontos de vista inovadores e ideias que podem ressignificar conceitos antigos e promover a reconstrução dos saberes, fazendo com que o avanço ocorra e, com
ele, as mudanças trazidas pela aprendizagem. Segundo Gadotti (2007, p. 13) “A diversidade é acaracterística fundamental da humanidade. Por isso, não pode haver um único modo de produzir e reproduzir nossa existência no planeta.” Aprender é, assim, um processo compartilhado entre o indivíduo e a coletividade com participação determinante da escola.

REFERÊNCIAS
GADOTTI, Moacir. A mudança está conosco. FILOSOFIA ciência & vida, ano I, n 10, p. 6-13, 2007. Entrevista concedida a Faoze Chibli.
FREITAS, Ana Lúcia Souza de. Pedagogia da conscientização: um legado de Paulo Freire à formação de professores. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
STÖRIG, Hans Joachim. História geral da filosofia. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.


 

imagem: laparola.com.br

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