Sua revista escolar de filosofia.
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quinta-feira, 11 de março de 2021

Uma paideia, por favor!

 CURSO NORMAL - ENSINO MÉDIO 

Salve, pessoal! 

Como futuro educador, cada um de vocês começa desde já a se preparar para uma profissão séria e necessária. 

Grego antigo usando 
um chromebook (fake news)
Afinal, ser professor é atuar na base formadora dos seres humanos para o desenvolvimento de competências e habilidades pessoais e profissionais. 

A lei que normatiza a educação formal no Brasil, a LDB 9394/96, define a educação escolar como atividade que "deverá vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social." (Art. 1º)

Se fôssemos agora analisar todo o conjunto da lei, perceberíamos que ela direciona a ação da escola para uma proposta construtora de sujeitos sociais que são e serão os brasileiros. 

Quem passa pela escola no Brasil, sai dela com um conjunto de saberes próprios projetados para formar o cidadão do país. 

Mas, educação é muito mais do que escola, certo?!

A educação enquanto conceito abrange uma vasta complexidade de valores e conhecimentos que estão no cotidiano da sociedade e por ela se reproduz. 

Para começar nossa jornada nesse caminho de descobertas mais profundas sobre o que é a educação, quais seus propósitos, quais seus meios de realização, seus resultados e suas características, vamos nos posicionar em um ponto básico que é trazer para nossas tarefas o compromisso de manter-se ajustados às normas para o ensino híbrido em Filosofia da Educação e para iniciar, vamos compreender a relação entre as origens da filosofia e o processo educacional na história do ocidente.   

Vamos nessa?! 

Então, me tragam uma paideia, por favor! 

Como assim, não sabem o que é paideia? 

Tô brincando... 

Paideia é um conceito relacionado ao modelo educacional da antiga Grécia. A paideia pode ser compreendida inicialmente e simplificadamente como a tentativa grega de fundamentar a educação em um sentido claro do que é o conhecimento e do que é a ação apropriada ao homem civilizado

Dessa forma, a paideia permanece ainda hoje como um objetivo teórico e prático a ser alcançado pela educação humana. 

Mas, chega de falar! 

Vamos assistir a um vídeo que explica um pouco de como era a educação entre os gregos na antiguidade e que relação há entre a paideia grega e a nossa forma de educar no século XXI. 

(Clique aqui para ver o vídeo.)

Depois de ver o vídeo com atenção, você volta aqui para o blog para responde a questão do fórum que aborda o assunto. 

Questão: 

*A partir de sua experiência como estudante, você considera que a escola hoje tem uma paideia clara, quer dizer, a escola está conseguindo transmitir tudo o que ela deveria oferecer para que você tenha uma aprendizagem adequada aos seus objetivos pessoais? 

Responda aqui mesmo no blog, na área dos comentários. Se a sua resposta não aparecer, não se preocupe. Quando for aprovado, seu comentário ficará visível para você acompanhar. 

Não esqueça de colocar seu nome, turma e escola para receber sua avaliação de participação na atividade. 

Fechado?! 

Um bom retorno à escola e um bom trabalho! 

#FiqueEmCasa

segunda-feira, 23 de novembro de 2020

Não sabia que se aprendia isso na escola

CONTEÚDO PARA PRIMEIRO ANOS - ENSINO MÉDIO 

Vamos ler juntos uma pequena história?

No interior da França, em uma zona rural, pelo começo do século XX, um jovem professor de filosofia visitava o local com um amigo. Durante um percurso, eles encontram um agricultor, amigo do amigo do professor. Eles são apresentados e conversam um pouco. 

O agricultor pergunta: 

- O que o senhor faz? 

- Sou professor de filosofia. 

- Isso é profissão?

- Por que não? Acha estranho?

- Um pouco! 

- Por quê? 

- Um filósofo é uma pessoa que não liga para nada... Não sabia que se aprendia isso na escola.* 

Você também pode ter pensado em algum momento por que aprender filosofia. Talvez, ainda agora tenha dúvida sobre o que ela realmente é. Pode ser até que acredite que um filósofo é alguém que não liga para nada como se ele estivesse acima das outras pessoas em sua dimensão intelectual, sem ser afetado pelos problemas do dia a dia. Tipo um sábio que tem todas as respostas. 

Essa é uma visão distorcida da filosofia, mas se alguém pensa assim, como o agricultor, não está errado. Apenas tem a imagem incompleta e até mesmo fantasiosa de quem reconhece, mas não conhece exatamente a filosofia. 

Um filósofo é alguém que procura pela sabedoria. 

Se ele procura, é porque não tem. 

O que move o filósofo atrás dessa carência senão aquele Eros Platônico que já conhecemos, que é o desejo de encontrar a verdade além das aparências e assim se sentir completo? 

O que move o filósofo senão aquela amizade fiel à prática do estudo e da reflexão para andar de mãos dadas com a sabedoria?

Se o filósofo não ligasse para nada, ele nada procuraria. 

Porém, é claro que o filósofo já não se inquieta tanto com suas próprias ingenuidades, nem com as futilidades do mundo. Já não se importa tanto com a ignorância e seus prejuízos porque seu esforço em conhecer e saber o tornam mais hábil e compreender a realidade e a vida. 

O filósofo tem um objetivo, que é conhecer a verdade. 

E quem é o filósofo?

Todas as pessoas podem filosofar.

Eu sou uma pessoa. 

Logo, eu posso filosofar. 

Essa simples dedução nos lembra Gramsci, que já estudamos, e se justifica porque todos somos inteligentes e isso nos faculta a dedicação à filosofia, não a obrigação. Pois, alguém de repente pode ainda achar que ela não importa e que há coisas mais úteis a serem feitas. 

O que essa pessoa não percebe é que esse também é um modo de filosofar. 

É preciso muita filosofia para afirmar que a filosofia não importa. 

O poeta português Fernando Pessoa (1888-1935), em Guardador de Rebanhos, diz que "Há metafísica bastante em não pensar em nada."

Percebem que não dá para fugir da filosofia? 

A resposta do agricultor já contém algo da filosofia dos cínicos, que acreditavam que o desapego material e o abandono das pretensões intelectuais conduziria à sabedoria legítima e à felicidade autêntica. 

Portanto, o que nós fizemos desde o nosso primeiro encontro foi filosofar para não apenas conhecer o que é a filosofia já feita pelo filósofos antes de nós, mas também filosofamos para fazer dessa prática uma ação pessoal, de cada um de nós. 

Como diz o filósofo Kant (1724-1804),

"A filosofia é a doutrina e o exercício da sabedoria e não uma simples ciência... a filosofia é, para o homem, esforço no sentido da sabedoria, que é sempre inacabado." 

Alguém que não liga para nada, não há de se esforçar. 

Então, a filosofia é uma ação poderosa que vem mudando o mundo desde seu início, na região da Jônia, na Grécia antiga, território diferente do que é o país hoje, por volta do século VII a.C., porque é lá que começa essa tradição de questionar a realidade para compreendê-la pelo meio natural da razão e não mais pela autoridade sobrenatural dos deuses como tinha sido anteriormente, pensamento que ainda hoje coexiste entre nós nos diálogos entre religião, filosofia e ciência. Assim como a crença que o útil e bom é ter influência social, força política e basta. Isso tudo é importante, mas, mais importante é saber o que fazer com tudo isso.  

O poder material não muda o mundo.

O que muda o mundo são as ideias. 

Quando mudamos de ideia, mudamos o mundo. 

A filosofia é uma evolução intelectual grega que desde seu começo vem mudando ideias, pensamentos e conceitos ao longo da história. 


O filósofo Descartes (1596-1650) já nos alertava que a filosofia é "julgar bem para fazer bem." 

Na nossa jornada conceitual em torno do amor, aprendemos a julgar melhor o que ele é como fenômeno e assim conhecê-lo bem, julgando melhor sua manifestação para vivê-lo mais sabiamente do que antes. 

Para isso, tivemos que percorrer alguns caminhos: 

o senso comum, que era nossa primeira impressão, nossas experiências e conclusões ainda confusas e incompletas; 

o mito, que era um tipo remoto de sabedoria simbólica com alguma universalidade sobre o tema;

a religião, que é uma cultura presente e que fundamenta sua atividade também no sentimento de fraternidade;

a arte, que hoje abriga as narrativas mitológicas e expressam a sentimentalidade humana de variadas maneiras;

a ciência, que busca observar a emocionalidade humana e de seus fatos extrair conhecimentos válidos. 

Com tudo isso, fizemos filosofia juntos. 

Hoje você é herdeiro mais consciente de uma tradição do pensamento e pode levar isso com você a todas as partes, porque a sabedoria está em cada um e é feita com o instrumento que a natureza já dotou cada um, a inteligência.  

Escola de Atenas (1511) - Rafael Sanzio.
Filósofos gregos da antiguidade.

ANTES DE NÓS

Somos herança de uma história que começa na Grécia e pode ser dividida em grandes períodos que servem para nos posicionar em relação aos grandes temas e paradigmas culturais de suas épocas. 

No link abaixo você encontra a historiografia simplificada da filosofia com seus principais períodos e destaques. Tem algo que já vimos e também novos conhecimentos.

Desejo que você aproveite e conheça mais do caminho que vamos ainda trilhar com mais detalhes conhecendo a filosofia, seus conceitos e expoentes. 

Bem-vindo à comunidade filosófica!

___________________________________________

Clique no link para saber mais:

Mundo Educação: filosofia


*Extraído de André Comte-Sponville, 2011.

Imagens: internet

domingo, 19 de julho de 2020

Tipo assim, platônico

O que você sentiria se alguém que você ama muito dissesse assim:

- Olha, tipo... eu também te amo, mas é um amor... tipo assim, platônico.

É, o amor é um caso brabo... 

Ou a gente compreende como ele aparece ou acaba se confundindo! 

Sim, porque o amor nunca é de um só tipo, apesar de ser um mesmo amor. 

Vamos, lá, vamos tentar entender o tal de amor platônico para não se desesperar ou então... se achar o máximo. 

Platão aponta para o mundo da ideais - Escola de Atenas
Platão (428 a.c. - 347 a.c.) é um filósofo importantíssimo para a história da filosofia. Ele desenvolveu o conceito de "ideia" para explicar a origem do Ser. Quer dizer mais o menos que as coisas que existem no mundo físico são cópias de matrizes ideais e eternas, portanto, imateriais. 

Não entendeu, né? 

Pense assim: 

Você olha pela janela e vê árvores. 
Imagina aí.

Cada árvore que você vê é uma unidade singular, uma árvore particular, uma parte do conjunto de todas as árvores que existem. 

Como você sabe que e uma árvore?

Porque você tem uma ideia ou uma representação da árvore dentro da cabeça que faz com que você reconheça cada árvore que vê. Esse ideia é universal, vale para todas as árvores que existem. Se você tiver que desenhar ou explicar o que é uma árvore, você recorre a ideia de árvore ou ao conceito, mesmo que não haja uma árvore na sua frente naquele momento. 

As árvores que estão no mundo físico só estão lá porque é como se elas tivessem sido "desenhadas", fabricadas a partir de uma forma universal, um modelo que existe naquilo que Platão chama de mundo da ideias

Então, há dois mundos: o mundo sensível (físico) e o mundo inteligível (das ideias). 

O mundo físico só existe porque há o mundo inteligível que serve de matriz para tudo ser criado. 

E quem cria o mundo? 

Sem entrarmos muito nesse caminho agora, vamos dizer que Platão entende que é um Ser Perfeito que pensa as ideias (formas) perfeitas a partir das quais o universo material é feito. Tipo um deus, uma inteligência absoluta, o Logos

Bom, vamos então saber o que isso tem a ver com o amor platônico. 

Estamos estudando as características de Eros, certo? 

Para entender o amor platônico, temos que ter em mente essa noção da ideia perfeita

Isso porque Platão vai apresentar Eros, o amor, em dois níveis: um vulgar e um sofisticado
Lindinho, né?!
O Eros vulgar é aquela carência pelas coisas particulares que nos interessam, como já vimos, e que se torna desejo.


Assim, uma pessoa vê num objeto a razão da sua vida, vê na outra pessoa sua metade da laranja.

Por quê? 

Uma das razões é porque acha bonito.

Vê a beleza da pessoa, de uma roupa, de uma obra de arte. 

Quando o amor é apenas o desejo por uma pessoa ou coisa material, ele é vulgar, é um amor simples. É um amor centrado na aparência.

Agora, é por meio desse amor vulgar e simples que se pode chegar ao amor sofisticado, aquele mais sublime, o amor pela "alma do ser amado". 

Se Platão estiver certo, por meio da procura pela essência das coisas, o ser humano chega no que ela tem de especial, de único, mas que é também universal porque está em todos que a possuem. 

Essa essência é imaterial, ideal, perfeita, imutável, universal e não é percebida com os olhos físicos, mas apenas com a inteligência. 

Os olhos físicos enxergam apenas a aparência. 

Então, se alguém se apaixona pela aparência de alguma coisa, esse é o Eros vulgar. 
Mas, se esse alguém é capaz de perceber aquilo que há de essencial nessa coisa, então ele já está amando aquilo que é universal, sublime, único, perfeito e que permite a essa coisa ser tão amável. 

Exemplo: 

Alguém que se apaixona por uma pessoa bonita só enxerga a beleza da pessoa. 
Alguém que se apaixona pela Beleza em si, vê o belo que está além da aparência. 

A beleza em si é a própria beleza em seu estado ideal, imaterial, eterno. Quer dizer, os olhos enxergam as coisas bonitas, mas o intelecto entende o que é a própria beleza e a "vê" como se a "enxergasse" apesar dela ser um conceito, isto é, ser "visto" apenas pela razão. 
ARANHA e MARTINS. Filosofando, p.84

Você reconhece a beleza porque ela está na sua cabeça como a ideia de beleza, mas a própria Beleza em si não está toda na sua cabeça, ela está no mundo inteligível como uma ideia verdadeira, perfeita e eterna com a qual são feitas todas as coisas belas que existem no mundo físico. 

                              Dá uma lida →

O amor platônico, então, é a capacidade de se encantar pela essência, não pela aparência. É a capacidade de amar o que os olhos não enxergam, mas a inteligência sim. É amar as coisas verdadeiras que só são "vistas" pela inteligência e não pelos sentidos físicos. Essas coisas verdadeiras, inteligíveis e universais são também eternas porque não estão sujeitas à ação do tempo, não se desgastam como a beleza física.  

Assim, uma pessoa de aparência feia, ainda é bela porque é um ser humano e possui a grandeza de ser humana, mesmo que como pessoa ela seja imperfeita. 

Então, você enxergou a essência da pessoa, a sua humanidade e o que há de belo nisso, de belo em ser um ser humano. 

Mas, você não vê a humanidade de ninguém com os olhos físicos e sim com a inteligência, o intelecto, a razão porque humanidade é um conceito, uma ideia sobre o que é o ser humano. 

É por meio do Eros platônico, do amor platônico, que o ser humano não ama apenas os sábios, mas ama a própria sabedoria. E por amar a sabedoria, ele se esforça para estar com ela. 

   Eros
O pobre deseja a fartura.
O feio deseja o belo.
O ignorante deseja o conhecimento.   

Quem é carente do saber deseja a sabedoria.

Esse é o amor intelectual, dos que filosofam, dos que querem a verdade porque ela é essencial e vital. 

Então, se alguém disser que sente amor platônico por você, o que ele quer dizer?

Se está na dúvida, leia de novo! 

Espero que você tenha amado o amor platônico!

charles-ddalberto@educar.rs.gov.br

Atualizado em 14/06/21

quarta-feira, 22 de abril de 2020

O branco é branco e acabou!

Na aula nós falamos um pouco sobre lógica e alguns de seus fundamentos.

Como disciplina, ela estuda a estrutura do raciocínio e as regras da argumentação.

Desde a antiguidade até agora, a lógica se desenvolveu muito a ponto de formar um campo específico do conhecimento e foi Aristóteles (384 a.C - 322 a.C.) quem desenvolveu o primeiro sistema formal do pensamento lógico. Para nós, o importante no momento é fazer uma introdução a esse saber para ver como ele é fundamental à filosofia e à ciência.

Como primeira aplicação do que vimos na primeira aula de lógica aos estudos de filosofia cosmológica, vamos relacioná-la a outro filósofo pré-socrático, o próximo na nossa lista de pensadores naturalistas.
Parmênides de Eleia te passando a visão. 

Ele é Parmênides de Eleia (530 a.C. 460 a.C.), um dos principais nomes da filosofia eleática e considerado o "pai da metafísica". 

Metafísica é aquele tipo de conhecimento puramente intelectual, fundamentado no raciocínio, que pretende entender a realidade, o Ser, a existência das coisas com a inteligência mais do que com os sentidos físicos.

Para Parmênides, então, o conhecimento verdadeiro é o conhecimento racional, lógico, porque não muda.

Vamos ver com é isso?

Pense nesse cálculo simples: 2+2=4.

Isso muda em algum momento?
Não.

Então, você pode dizer que conhece o cálculo aritmético, pois conhecer é saber a verdade e a verdade é que esse cálculo não muda. A verdade, para Parmênides, é algo que não se altera.

Uma coisa que muda não pode ser conhecida de verdade, pois quando se acha que já conhece, ela muda e não é mais aquilo que era. Esse é o tipo de conhecimento adquirido pelos sentidos físicos. É apenas uma opinião (doxa), quer dizer, é um conhecimento que nem pode ser chamado de conhecimento porque é incompleto, parcial, com erros. 

O erro está em pensar algo ou falar algo sobre uma coisa que ela não seja. Isso já nos indica um caminho para entender mais o que Parmênides quer nos fazer compreender: se podemos pensar sobre uma coisa, também podemos falar sobre ela; falar a verdade é dizer exatamente o que ela é e não o que ela parece ser. 

Então, para Parmênides, o conhecimento (episteme) de fato é racional, depende menos da experiência física do que da razão.

A realidade real (vamos falar assim para reforçar bem) das coisas que existem, do Ser, está no pensamento, no que pensamos sobre a essência as coisas e não na forma física que vemos delas, que é somente aparência. Porque a forma muda e a mudança é uma ilusão do sentidos.

Pense assim:

A cor branca é branca
Para uma pessoa que enxerga ou para um cego, o branco é sempre branco.

Por quê?

Porque isso é um princípio lógico: uma coisa é igual a si mesma; x = x.

Então, branco = branco. 

Mas, e se a pessoa nasceu cega e nunca viu o branco, como ela vai saber que branco é branco?

Talvez para ela, a palavra branco signifique outra cor no mundo físico, porém, aquilo que ela conhece como branco em seu pensamento, sempre será falado que é branco. Percebe que o que ele pensa ele pode falar?! 

Isso é a identidade entre o ser, o pensamento e a linguagem.

O que ela conhece e pensa que é o branco ela sempre vai falar que é branco. 
Se ela chamar o branco por outro nome, terá cometido um erro de conhecimento. 

Outro exemplo:

Você compra uma camisa branca.
Com o tempo ela vai ficando envelhecida.

Se o branco é branco, mesmo que a camisa tenha mudado de cor, o branco segue sendo branco. A mudança de cor da camisa não tira da cor branca aquilo que ela é, que é ser branca.

E você sabe disso raciocinando, porque se você acreditar no que seus olhos mostram, você vai dizer que o branco não é branco, o que é logicamente absurdo. Seria como dizer x = não-x.
   
Eu sei que você vai dizer "-Mas, o mundo físico não é assiiiiimmmm!!!!"

Lembre-se que para Parmênides o mundo físico é a superfície das coisas, ele muda e o que muda não pode ser conhecido de verdade porque se uma coisa que você conhece se mostra apenas superficialmente e muda, ela não revela sua intimidade e sempre está deixando de ser o que você conhecia, logo, você nunca sabe totalmente o que pensava que sabia. O mundo físico é assim, apenas a aparência das coisas, o que aparece delas, é o fenômeno e está em transformação. O que aparece e muda permite apenas uma opinião (doxa), não é o conhecimento e sim um reconhecimento superficial e falso. A verdade é a "ciência" total ou a episteme.

Conhecer é chegar à verdade. 

Chegar à verdade é chegar à essência. 
E a essência não muda: a essência do branco é ser branco. 
Já a aparência do branco vai mudando.

Então, a essência é imutável, imóvel.
E também é eterna, pois é sempre a mesma.

Branco é branco em qualquer tempo e lugar. 

Se um dia tivesse sido diferente, não era o que é.
Se tivesse sido criado, um dia teria não existido.

O Ser é eterno porque não foi gerado. 
Aquilo que é gerado tem um começo no tempo, mas o Ser das coisas nunca teve um começo, sempre foi o que é, senão, teria não-sido. 

Pense em "árvore" sem imaginar a figura de nenhuma árvore específica. 

Você consegue isso porque está mentalizando a essência do ser "árvore." 

As árvores físicas aparecem e desaparecem do mundo, porém, a essência das "árvores", que é esse pensamento abstrato e universal, que vale para todas as árvores, esse é o verdadeiro conhecimento que você pode ter sobre o ser chamado árvore. 

A árvore é eternamente árvore porque um dia não pode ter sido não-árvore. 
O humano é eternamente humano porque um dia não pode ter sido não-humano.  
O ser é eternamente ser porque um dia não pode ter sido não-ser. 
O "x" é eternamente "x" porque um dia não pode ter sido "não-x". 

O Ser não vira não-ser e nem o não-ser vira Ser.  

O Ser é e o não-ser não é. 

Desse modo, só é possível conhecer, pensar e falar no ser. 
O não-ser não pode ser conhecido, pensado ou falado. 

O não-ser é inexistente para o pensamento e por isso não podemos falar dele. 

D+++, fera!? :)))

Quer ver um vídeo para complementar e reforçar alguns pontos?

CLIQUE AQUI PARA VER O VÍDEO SOBRE PARMÊNIDES

Nessa aula você aprendeu mais sobre:

- a história da filosofia cosmológica;
- lógica e introdução à metafísica; 
- a filosofia de Parmênides. 

Editado em 08/08/2021
 

sábado, 5 de março de 2016

Αλήθεια.

Algumas vezes, conceitos tratados pela filosofia são resgatados e caem novamente no domínio público.

Novamente, porque, em dado momento, eles foram parte do ethos ou da episteme de um povo que o constituiu e o consagrou.

É o caso da palavra alétheia, usada para batizar a operação da Polícia Federal que no dia 04/03/2016 levou o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva a depor obrigado pelo instrumento de condução coercitiva. Uma detenção temporária para prestar esclarecimentos em um inquérito, no caso aqui, parte das investigações de corrupção da Lava Jato.

Alétheia.

Αλήθεια.

Significa o que é lembrado, o não esquecido. Vem do grego léthe, esquecimento, com o prefixo “a”, negação. A alétheia é uma concepção de verdade ligada ao mito da encarnação das almas, quando bebiam a água do rio Léthe, que impregnado pela deusa de mesmo nome, fazia o homem esquecer a verdade do mundo inteligível. Na República há o relato posto por Platão no mito de Er

No mundo original está a essência do Ser.

Lá, a justiça, por exemplo, é ideal e perfeita, modelo a ser copiado no mundo material para realização do bem. Pretender a alétheia é querer alcançar o extremo da verdade.

O que é a essência do justo? 
Há a justiça perfeita? 
Como ela é?  

A concepção platônica aponta para o dualismo da realidade, sendo primordial a intelectiva e ideal, da qual deriva em simulação transitória e imperfeita do real concreto. 

Para os gregos, o ser estava dado como fato real e objetivo. 
Conhecer significava apreender a totalidade da coisa em sua estabilidade e identidade. 

O que é a coisa, sua causa? 

Parmênides diz que o ser é aquilo que é e sua essência só se alcança racionalmente.
O ser é razão.

"Pensar e ser são idênticos." 

É um exemplo de como os gregos tratavam o conhecimento e a verdade: o ser é verdade em si mesmo que o sujeito capta. 

A verdade está em o sujeito atingir o ser-em-si. 
O objeto (ser) se mostra ao sujeito e o condiciona. 
O que se conhece é o que o objeto revela. 

O que é o fato?

A operação policial sugere que quer a verdade radical dos acontecimentos. 

A epistemologia moderna se preocupa com o processo do conhecimento e as faculdades do sujeito.

Como é possível conhecer? 

Para os antigos, a preocupação é: como é possível se enganar, se o ser é fenômeno dado? 

Alétheia é a perfeita adequação entre o intelecto e a própria coisa, diferente da noção de veritas, a verdade por correspondência entre os enunciados da linguagem e as coisas.



Alethéia pretende conhecer a realidade ou irrealidade da própria coisa.
Veritas, a verdade ou a falsidade do discurso sobre a coisa. 

Alethéia é evidência.

Verdade manifesta e intuída do ser que é fato, que é fenômeno, onde não há espaço para seu oposto, o pseudo, o engano. 


link: FolhaSP
imagem: internet, OSul

terça-feira, 25 de fevereiro de 2014

Direitos humanos: uma rápida visão sobre alguns fundamentos

O assunto não é fácil.

É polêmico.

E poderia não ser?
Trata de questões humanas, envolve interpretações, crenças, opiniões.
Não é uma ciência exata e por isto, requer envolvimento e reflexão.

Preparado?

Numa aula sobre Direitos Humanos, o acadêmico Edgar Dornelles levantou uma questão que faz parte da realidade do Brasil e de outras sociedades.

Ele citou um caso de uma pessoa pobre que, flagrada furtando, foi presa e condenada.
Sofreu a ação da pena imposta pelo Estado e na cadeia, segundo ele, foi violado em seus direitos fundamentais.

O que o Edgar perguntava é por que a justiça parece mais rápida, dura, inflexível para alguns, especialmente os economicamente vulneráveis, e para outros ela é atenuada por recursos e outras formas de amenizar as penas dos culpados.

Se todos são iguais para a lei, por que as consequências de suas aplicações são diferentes?

Pelo princípio da isonomia, não deve haver diferenças entre as pessoas perante a lei.
Porém, esta igualdade é fundamentada por uma ideia que desce da abstração para o mundo concreto e é aí que há distorções.

Os direitos humanos, consagrados no século XX após a II Guerra, têm razões filosóficas que vêm de longe.

Vamos remontar rapidamente um percurso que pode esclarecer melhor algumas origens que inda hoje estão presentes na maneira de nós pensarmos.

Lá na Grécia

Na antiguidade, o paradigma dominante tinha na metafísica aristotélica sua grande razão. O pensador de Estagira consolidou a visão vigente de que no universo cada coisa tem sua função e motivo de existir. Tudo está no seu lugar natural e exercer sua finalidade atribuída pelo cosmos é realizar suas virtudes e contribuir para a harmonia total.

A chuva tem que cair, a pedra tem que estar no chão, os deuses governam o universo e cada homem tem seu espaço na sociedade: o escravo é para servir, o homem capaz é para conduzir a pólis, etc. O importante é cada um entender qual sua posição e realizá-la do melhor modo.

Neste sentido, não há igualdade entre os humanos.

Há sim desigualdade e aos melhores são dadas as melhores condições e recompensas, enquanto que aos piores, será dado o correspondente.

Mas, e a razão? Todos a possuem!

Podemos chamar a razão de comum aos humanos, não de igual.

No mundo de Aristóteles, os estúpidos ou fracassados eram excluídos.

Este tipo de pensamento é familiar para você?

A vida feliz é a moral. A vida moral (prática, que se modifica no tempo) é fazer o que é certo. Fazer o que é certo é positivar, fazer bem feito, os talentos naturais dados pelo universo. 

"Com efeito, o que, por natureza, é próprio a cada um, é também para cada um, a melhor e mais doce coisa. Logo, para o homem (é tal) e vida conforme o intelecto, pois este é, sobretudo, o que constitui o homem. Por isso, esta é a vida mais feliz." (Ética a Nicômaco, X, 7, 1 177-8. MONDOLFO, p. 58, 1973)

Conhecer a si mesmo é um imperativo neste contexto para o reconhecimento e a realização das virtudes.

"A razão cognoscitiva é para nós o fim segundo a natureza, e o conhecer é o fim último para o que nascemos." (Protréptico, fr. 10 c, Walzer = 61 Rose. MONDOLFO, p. 10, 1973)  

E Sócrates?
Teria morrido por desafiar a harmonia cósmica instituída?

Ele pregou o livre exercício do pensar para desvelar o real e compreender o bem e a virtude. No Mênon, que trata da virtude e se ela pode ser ensinada, é o escravo quem resolve os problemas de geometria ao supostamente recordar experiências transcendentes. A virtude tem origem divina e cabe ao homem buscá-la por meio do bem que pratica.

"[...] a virtude nem é dádiva que se receba por obra da natureza, nem coisa que possa ser ensinada, mas que é por graça divina e não pela intervenção da inteligência que a recebem os que a possuem." (PLATÃO, p. 74)

Ou seja, o filósofo afirma que está na alma, melhor do que o corpo e pertencente a um mundo superior, inteligível, que pode acessar, a possibilidade de se elevar a uma condição de sabedoria e felicidade.

Mas em qual tipo alma?

Naquela que filosofa.

Parece o que diz Aristóteles, sem dúvida. O convite do mestre de Platão será o de cada um pensar por si mesmo e fazer o bem acima de qualquer interesse. Nem tudo o que se diz ser justo é justo. Nem toda a verdade é verdadeira de fato. A tradição é a conservação de um estado e ele não é bom em si mesmo.

A razão precisa ser livre para ir ao encontro da verdade. No entanto, não pode haver liberdade quando há determinismo. Ao homem a razão dá a capacidade para decidir o que fazer. Se age conforme o universo, é feliz. Do contrário, é infeliz por não se realizar como indivíduo.

E mais, como não age em favor do cosmos seguindo seu destino, atrapalha a organização do universo. É indigno de viver e a infelicidade já é sinal de que está em erro moral e não merece compaixão. É um estorvo e um perigo para a sociedade. Precisa ser eliminado para o bem dos demais.

Você reconhece isto?

Neste contexto, o virtuoso vale mais do que o seu oposto e não há nada neles que os possa igualar.

Sócrates colocava a razão, e por isto o homem, acima dos valores da cultura de Atenas, mais confiante na tradição, nos deuses e nos seus governantes. Com isto, promoveu uma série de denúncias de práticas amparadas em sofismas, em lógicas pouco consistentes.

O escravo vale o mesmo que o cidadão nobre? A razão pode decidir isto? Os deuses podem acatar? Os costumes são menores do que a filosofia, que aponta um bem maior?

Sócrates morreu por desafiar o paradigma. Cristo sugeriu caminho parecido, dissidente, de amor incondicional a Deus e ao homem e teve destino semelhante, só que mais cruel.

A noção aristotélica permaneceu. Na Idade Média, atender ao chamado do universo ou de Deus significava seguir a vocação. Aos seres humanos cabia serem quem são na configuração cósmica. Santo Agostinho diz que o mal é resultado da escolha livre do homem, porém, o governo da realidade é de Deus e feliz é aquele que conforma-se a isto.

Homem moderno

Mas o ser racional segue presente e em vias de destacar-se como sujeito independente e digno por si mesmo. Com Descartes, ele ganha realidade lógica e metafísica. A Reforma reivindica a exegese. O Iluminismo prega a liberdade de pensar e a partir disto, modificar a ética e a política.


Com Kant, a metafísica ocidental é revolucionada.

O pensador alemão ainda entende o homem como um ser em dois níveis. No concreto, é um ser natural e condicionado pelas leis da natureza. Mas, como ser pensante, o homem é transcendental. É livre das leis do nível empírico e pertence à categoria do ser em si, inacessível. Kant consagra a ideia de que o ser racional é incondicionado e, por isto, não está determinado por forças do mundo físico a ser de um modo ou outro. Sobre o transcendental, nada pode ser conhecido por não haver dele experiência.



É como ser transcendental que o homem possui vontade e quando a conduz bem (o imperativo categórico é a ação de boa vontade com caráter ético universal), pode transformar sua condição no mundo.

Este pensamento é conhecido de todos nós porque compõe o paradigma moderno sobre o que é ser humano.

Para Aristóteles, a razão é um atributo natural com função clara.
Para Kant, um atributo transcendental.

O homem, neste sentido, é o ser entre os seres do mundo que vive nos dois níveis: um material, possível de ser experimentado e o imaterial ou ideal sobre o qual só se pode especular. É o ser que possui uma distinção superior aos demais.

Todo homem (transcendental) é livre (a liberdade é igualmente transcendental) para decidir sua vida e nisto, todos são iguais. Mas, quando sai do abstrato para o concreto, as circunstâncias da vida levam a destinos desiguais. Contudo, isto não é determinação ou dádiva divina. É escolha e pode ser alterada. Nem sempre se consegue, dadas as resistências do meio (mundo concreto), mas o princípio segue inalterado, sustentando as chances e suas estatísticas abertas.

arbítrio é livre.

E esta liberdade humana, percebida e fundamentada nos princípios objetivos do funcionamento da razão é sua dignidade essencial.

O ser humano já não é um ser entre os demais da natureza e por ela totalmente condicionado.
Nem mesmo Deus (ultrapassa a Escolástica e o aristotelismo especulativos) pode ser afirmado como condicionante da vida humana, pois Deus é produto da razão, uma especulação, transcendental e sobre o qual nada se pode saber por não haver experiência.

Aliás, a liberdade do homem o identifica com Deus, elevando-o.

O homem é um ser à parte, do grupo chamado humanidade, com valores próprios.

"[...] ele mesmo é, indubitavelmente, fenômeno, mas, por outro lado, do ponto de vista de certas faculdades, é também um objeto meramente inteligível, porque a sua ação não pode de maneira nenhuma atribuir-se à receptividade da sensibilidade. Denominamos a estas faculdades entendimento e razão." (KANT, p. 425)

Os direitos humanos, produto de uma ideia, apontam para a crença de que o homem é o fenômeno de um ser ideal real, espiritual, de valor supremo e que deve ser preservado com todos os esforços possíveis.

Voltemos aos direitos humanos e sua difícil aplicação.

Eles garantem os direitos fundamentais humanos reconhecidos como básicos e universais para que qualquer pessoa tenha mantida sua dignidade e integridade de ser humano: sua humanidade objetiva de ser racional e emocional que o distingue dos demais animais e das coisas inanimadas. As penas civis, por isto, não deveriam exceder o limite que destrói a dignidade humana.


"A moral política não pode proporcionar à sociedade nenhuma vantagem durável, se não for fundada sobre os sentimentos indeléveis do coração do homem. Toda lei que não for estabelecida sobre esta base encontrará sempre uma resistência à qual será constrangida a ceder." (BECCARIA, p. 9)

Mas, na prática, aceita-se uma proporcionalidade entre crime e castigo que fere o direito humano.

Então, se deveríamos ser tratados como iguais, por que não somos?

Certamente não é porque alguns são humanos e outros não!
A humanidade de uma pessoa é inalienável.

Retirar de alguém esta condição é retroceder às ideias do mundo antigo.

Não acontece ainda?
Não é o ato bárbaro, desumano?

Ele está presente em sociedades desiguais, patologicamente violentas, onde a civilidade é precária.

Sobre o caso levantado pelo Edgar, as violações são rotineiras devido ao grau de desajuste do sistema e da sociedade. Quando há ofensas aos direitos humanos, ocorre que nem todos movem ou conseguem mover a justiça para garantir o que é seu. É um instrumento do Direito acioná-lo, cada um que assim o deseja. Mas as pessoas desconhecem isto ou não alcançam e acabam sofrendo.

Quem pode ter um bom advogado ou conhece a lei, tem leis a seu favor, mesmo em caso de crime confirmado. A pena expressa não poderia transcender a si mesma e os castigos da prisão impostos por falta de estrutura, violências, entre outras arbitrariedades que atingem inocentes, suspeitos e condenados revelam a desumanidade de toda a estrutura. Mostram o Estado sendo negligente. Por isto denuncia-se tanto os desrespeitos aos direitos humanos.

Eles não servem para defender bandidos, como o senso comum declara pelas esquinas.

Contudo, numa sociedade desquilibrada, ele também se desquilibra.

E a justiça fica contaminada pelo ressentimento, pelo medo, pelo ódio, pela indiferença, pela discriminação.

Tremendos males do coração induzindo às falhas da razão.

O que você acha, os Direitos Humanos devem ser aplicados em qualquer situação?
Os Direitos Humanos favorecem criminosos? Por quê?
O que poderia ser feito para melhorar a aplicação dos Direitos Humanos em nossa sociedade?
O Brasil respeita os Direitos Humanos?
Se você fosse preso, gostaria de ser respeitado como pessoa humana ou tanto faz?

BECCARIA, Cesare. Dos delitos e das penas. Ridendo Castigat Mores. Disponível em <http://www.ebooksbrasil.org/adobeebook/delitosB.pdf> Acesso em: 22 fev. 2014
MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo. São Paulo: Mestre Jou, 1973.
PLATÃO. Mênon. Ediouro, 19__
KANT, Immanuel. Crítica da razão pura. São Paulo: Martin Claret, 2003.

imagens: duhaime, biografiasyvidas, educa.madrid, onu, politicaspublicasbahia



 

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Guerra pai, crise mãe

No programa Manhattan Connection deste domingo, 20/10/2013, o jornalista Lucas Mendes disse 'estar sentindo falta de uma grande crise, pois com as grandes crises vêm as grandes mudanças'. 

Parte da edição foi dedicada à análise do problema da dívida norte-americana e a queda de braço entre republicanos e democratas levada ao limite até a semana passada, deixando o mundo em alerta. 

Há crises generalizadas, porém, a grande crise, the big one, aquela capaz de alterar os rumos atuais das sociedades de maneira drástica, não há. 

Ela seria positiva? 

Qual preço se pagaria por significativas mudanças no cenário político global? Estamos prontos para construir novos paradigmas? Eles seriam realmente positivos, justos, éticos ou a humanidade em seu estágio atual é incapaz de criar um mundo melhor? É disto que a humanidade precisa para avançar?



A afirmação de Lucas Mendes faz reverberar o milenar pensamento dialético de Heráclito: 



"Tudo se faz por contraste; da luta dos contários nasce a mais bela harmonia. [...] A guerra é o pai de todas as coisas e de todas o rei." 



imagens: Sidney Rezende; internet

domingo, 16 de dezembro de 2012

Fogo de Prometeu

Salve, Filosofósforos!

Prometeu é um ladrão.

Mas seu roubo beneficiou a Humanidade!

O Titã subtraiu do Olimpo o fogo e o entregou aos homens. As chamas, mais do que físicas, são a metáfora do conhecimento. Por sua ousadia, Prometeu foi castigado por Zeus. Acorrentado no Cáucaso, a cada dia uma águia viria comer pedaços de seu fígado, que se regenera e assim sua pena é eterna.

O fogo, porém, está conosco.

Vamos usá-lo mais uma vez.

Do mito ao mito?

Em tempos de comunicação digital, as fronteiras do diálogo ficaram reduzidas ao tráfego de dados. Distâncias físicas já não são impedimentos para a troca de opiniões.

Já em 1974, o canadense Marshall McLuhan, dizia que "a possibilidade de participação pública torna-se uma espécie de imperativo tecnológico que foi chamado "lei do lapão": "se isto pode ser feito, então existe" - uma espécie de canto de sereias do apetite de evolução. (MCLUHAN, Marshall. Journal of Communication, vol. 24, n° 1, p. 57)

Existe, pode ser feito e está sendo.

Como um imperativo da evolução social, conectar-se impõe-se como uma necessidade. O Primeiro Setor (governo), o Segundo Setor (iniciativa privada), o Terceiro Setor (sociedade civil organizada) e o cidadão em sua singularidade, sentem que estar fora do universo virtual é viver em uma dimensão tal que distante daquela onde todos os conectados se encontram.

Como fenômeno, a comunicação global, possibilitada pela tecnologia que por sua vez é resultado dos avanços na Física, traz implicações para o comportamento humano. Muito já se analisa há tempos a respeito. Como os estudos relacionados ao que se chama de Geração Y. (clique sempre no hiperlink para saber um pouco mais.)

Sobre a tecnologia e o impacto na vida das pessoas é o que pretendemos refletir.

Nesta primeira proposta de tema para o fórum Filosofósforos, as perguntas inicias sugeridas são:

O que é a tecnologia? 
A tecnologia, por si só, é positiva para a evolução social? 
A tecnologia está sendo supervalorizada? 
Uma supervalorização da tecnologia pode trazer quais consequências? 

Quem quiser participar, precisa apenas escrever seu comentário sobre qualquer uma das questões. O ideal é amparar a opinião em algum pensador. Desta forma, vamos criando um seminário e estimulando a pesquisa e o avanço reflexivo embasado e acadêmico. Os autores citados permanecem ainda como fontes de consulta para interessados no(s) tema(s) debatido(s).

Ilumine e ilumine-se.

fotos: inrj, contosencantar