Sua revista escolar de filosofia.

segunda-feira, 16 de dezembro de 2013

A alegria da natureza

Transformar o mundo ou se reconciliar com a realidade?

Para o homem, projetar a vida sob valores transcendentes pode ser uma necessidade contra a qual será impossível propor outra atitude. Faz parte da consciência da finitude, da impotência humana diante de tudo o que é considerado inevitável e impede a felicidade.

Neste caminho, o idealismo é o conjunto de fundamentos metafísicos que norteiam a existência.

Por outro lado, viver a imanência é aceitar o real ele é. É fruir a alegria da natureza presente sem esperanças ilusórias, extraindo do aqui e do agora, o que for possível para fazer da existência tão feliz quanto se consegue.

Um modo bastante epicurista de levar as coisas.

O que fazer?

O balanço da vida exige transitar entre realidade e idealidade.

Uma aula sobre Nietzsche (clique aqui) procura esclarecer melhor os conceitos antiniilistas (e alguns estoicos) que propõem atitudes de vida conectada ao presente e à conformação do homem com sua condição existencial concreta.

fonte: Espaço Ética
imagem: artelista

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Uma educação para além das relações mercadológicas

Quem o professor educa?
Para quem?
Para o quê?

A colega Naiama Porto, acadêmica de Sociologia e Administração, produziu como trabalho para o encerramento do semestre 2013/2 da turma SOC 0022 do Centro Universitário Leonardo da Vinci, um texto que ingressa na questão da educação preparatória para o grande mercado e seu sistema de política, economia e cultura.

Mas, antes de ler o que ela escreveu, vamos tentar pintar um breve retrato do professor?

Quadro docente

Dar contornos à figura do professor é delimitar uma forma enigmática.

Isto porque o docente é móvel e dinâmico. Jamais ele pode ser visto afastado do contexto de sua época. O professor é um pintor do mundo para aqueles que estão iniciando a ver a realidade. E ambos, educador e aluno, pertencem ao universo escolar que, por sua vez, está inserido na sociedade que vai da cidade aos outros continentes.

A educação se dá sem estar descolada do paradigma do seu tempo. Claro que isto não significa silenciar ao momento. A construção do futuro depende da crítica se esta marcha pretende ser positiva e crescente.

Hoje, ser professor é ser, em parte profissional. Quer dizer que a academia prepara com teoria e prática aqueles que vão à escola ensinar. Esta preparação é suficiente, boa, orientada? Se for considerado o esqueleto pedagógico, metodológico e didático que sustenta o professor, pode-se dizer que, em geral, ele mantém em pé a própria estrutura da sociedade presente. Ou seja, a escola educa para um mundo político, social, cultural e econômico que tem sua dinâmica no agora, como prioridade e no depois como possibilidade. Neste sentido, o professor é ainda um reprodutor de ideologias da sociedade burguesa. E neste século, o paradigma é o do conhecimento como fundamento da máquina global geradora de riqueza.

Percebe?

O conhecimento serve à geração de riqueza.

Aquele que não dominar a lógica atual da tecnologia, da comunicação, da pró-atividade, criatividade, da autonomia para pensar de modo sistêmico, global...

Opa!

Pensar?!

Mas, o trabalhador (modelado pela escola) não é alguém restringido à função que lhe cabe? O funcionário não é peça do mecanismo?

O mundo mecanicista vai dizendo adeus. É o que estão dizendo os pensadores contemporâneos. A modernidade foi esgotada na possibilidade de racionalização e com ela as divisões que nos afastavam expressas em nacionalismos, sectarismos de variada ordem, tradicionalismos pétreos, teorias totais, mas conservadoras. Se fôssemos à Física, diríamos que Newton foi confrontado por Planck. O cenário é de probabilidades quânticas, inclusive na educação.

A homem é plural e não é possivel mais educar de outro modo que não seja valorizando isto, lembra Gadotti (2007). Ao falar sobre educação, Russell (2002, p. 168) afirma que as regras "por mais sábias que sejam, não substituem a afeição e o tato." Rousseau (1992, p. 536)  declara ao Emílio: "Os encantos da virtude juntam-se para vós aos do amor; e a doce ligação que vos espera não é menos o prêmio de vossa sabedoria que o de vossa afeição." O balanço entre o técnico, o estético, o racional e o emocional integralizando o homem em todos os seus potenciais define um pouco o que se espera da educação contemporânea.

Educar é fazer com que o homem se autoilumine, conforme Kant, que traçou os limites da razão ao mesmo tempo em que a entronizou.

O professor é este que educa hoje para hoje e também para amanhã. Que infiltra no paradigma tintas que vão se misturar na tela para fazer surgir novos matizes de saber e com eles, novas colorações para a vida.

Neste sentido é que Naiama Porto estabelece sua reflexão e defende a docência conscientizadora, libertadora e reflexiva, que transcenda a instituição. Pois, educar não é somente instruir.

Boa leitura!

ROUSSEAU, Jean Jacques. Emílio ou da educação. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1992.
RUSSELL, Bertrand. O elogio ao ócio. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.
GADOTTI, Moacir. A mudan;a está conosco. FILOSOFIA ciência & vida, ano I, ano 10, p. 6-13, 2007.
imagem: artodyssey, city.ogaki


UMA EDUCAÇÃO PARA ALÉM DAS RELAÇÕES MERCADOLÓGICAS
 
Naiama Porto
Ana Cláudia Alves
Centro Universitário Leonardo da Vinci - UNIASSELVI
Curso (Soc 0022) – Prática do Módulo III
03/11/2013


RESUMO
 
Esse estudo tem como objetivo dissertar sobre o papel do professor na atualidade, portando será analisado o papel do educador como emancipador social, o que pressupõe que a sua atuação, juntamente com o educando, vá além da sala de aula, de como a educação deve estar voltada para além dos anseios mercadológicos, deve estar voltada para o anseio do próprio educando como protagonista direto de seus anseios pessoais e coletivos, e que muitas vezes, a educação escolar e os anseios do educando são pontos antagônicos. O que gera um desacordo por parte dos atores envolvidos.

 
Palavras-chave:Educação.Capitalismo.Emancipação .

 
1 INTRODUÇÃO

 
A educação escolar é acessível a grande parte da população brasileira, mas em pleno século XXI, temos um índice de analfabetismo, de acordo com Pnad no ano de 2012, que 11,9% da população com 25 anos ou mais de idade não têm qualquer instrução, ou têm menos de um ano de estudo. Um ano antes, tal proporção era de 15,1%. Com ensino fundamental incompleto ou equivalente, estavam 33,5% do total da população desta faixa etária.  
Mesmo com obrigatoriedade do ensino escolar para crianças na faixa etária de 6 a 8 anos de idade, a escola ainda possui grande evasão. A faixa etária, de acordo com a amostragem, dos 14 aos 17 anos ,é a mais incidente. Os adolescentes apresentam a mair evasão escolar, o que reflete o descaso não só por parte dos alunos em relação a educação escolar, mas da relação inversa .
A escola é pouco atrativa, existe uma expectativa grande por parte do educando na sua introdução no ambiente escolar de aprendizado, as crianças ao iniciarem sua vida escolar apresentam grande interesse no que tange aos diversos tipos de aprendizagem, através do estímulo, ela está receptiva aos diversos tipos de saberes, além de apresentar grande interesse em novas descobertas,  mas parece que o entusiasmo é inibido durante a trajetória do educando, uma parcela significativa dos jovens, já mencionados nesse estudo, se mostra desinteressada, ou tem seu estímulo inibido ao longo do 1° grau. Não é objetivo desse estudo analisar os porquês da evasão escolar, mas analisar o objetivo da educação como emancipador social e do papel do professor como protagonista de mudanças, e porque não dizer,  de mudança de paradigma.
Ou seja, a educação escolar contemporânea está voltada para que objetivo, de atender os anseios mercadológicos, ou de atender os anseios dos educandos, ou seja, de emancipação social? E as relações construídas entre o sistema de ensino de países capitalistas de economia dependente, o caso do Brasil, atendem a quem? Aos interesses do mercado? Ou aos interesse sociais da população?  Sendo que grande parte da população, apesar do acesso, não possui grau de instrução que desenvolva significativamente seus anseios pessoais, coletivos, profissionais, intelectuais e que ao mesmo tempo atenda aos anseios mercadológicos do sistema econômico ultraliberal.

 
2 DESENVOLVIMENTO

 
É importante antes de entramos propriamente no objetivo do texto, de salientarmos qual a conjuntura econômica vigente em nosso país para começar o estudo pertinente a proposta do texto, de uma educação para além das relações mercadológicas, que atenda aos anseios da população e não apenas de uma parcela responsável pela concentração e manuseio da grande parte do capital oriundo desse sistema econômico, precisamos resgatar alguns conceitos.
De acordo com Cristian Caubet, não vivemos hoje num modelo novo de capitalismo, neocapitalista, mas sim num modelo capitalista de uma proporção em sua magnitude de desenvolvimento econômico, o capitalismo toma grandes proporções a partir da mundialização cada vez mais exacerbada, onde existe cada vez, mais nítido, grandes contrastes sociais. A luta de classes de Marx está cada vez mais acirrada, e mais presente. A população torna-se mais consciente, também por causa do processo de mundialização, que é o aspecto positivo, da sociedade do conhecimento, mas é através da educação que novos instrumentos de mudanças são construídos para e com a sociedade em geral.
Mészáros nos convida a pensar a sociedade tendo como parâmetro o ser humano, e para isso devemos superar a lógica desumanizadora do capital, que tem no individualismo, no lucro e na competição seus fundamentos. O que é educar, segundo Gramsci, senão colocar fim à segmentação entre Homo faber e Homo sapiens, é resgatar no sentido amplo o sentido estruturante da educação e de sua relação com as relações de trabalho, de suas possibilidades de criação, de formas criativa e principalmente emancipatórias. E ainda contribui o autor, que a educação não pode estar restrita ao ambiente escolar, além de ser constante.
A educação, em sentido amplo, desempenha uma importância enorme como fator determinante de mudanças, os primeiros passos para uma grande mudança social atualmente envolvem a necessidade de manter controlada o estado político hostil que se opõe, por causa de sua própria natureza antagônica a qualquer ideia de uma reestruturação mais ampla da sociedade. Portanto se faz necessário a negação radical de toda a estrutura de comando político do sistema do estado ultraliberal que defende seus próprios interesses. 
Diante do exposto acima, a tarefa histórica que temos que enfrentar é incomensuravelmente maior que a negação do capitalismo, a educação deve proporcionar a quebra das estruturas hegemônicas de produção. O conceito emprestado de Meszáros, para além do capital é inerentemente concreto. Ele tem em vista a realização de uma ordem social metabólica que sustente concretamente a si própria, sem nenhuma referencia autojustificativa para os males do capitalismo. E que diante da condicionalidade das demais manifestações de alienação que o sistema impõe a negação deve ser direta. Ou seja, a educação não pode estar entrelaçada às negações que o capitalismo oferece de forma osbcura, às condições de uma educação voltada para o mercado e não para o homem.(MESZÁROS, 2012)
Paulo Freire, educador brasileiro conhecido no mundo inteiro, disserta sobre o papel do educador dentro desse contexto e levanta alguns pontos importantes nesse estudo, dentro deles ressalta o compromisso do profissional da educação para com a sociedade. A primeira condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de agir e refletir, é preciso que seja capaz de, estando no mundo, saber-se nele,  saber que, se a forma pela qual está no mundo condiciona a sua consciência deste estar, é capaz, sem dúvida, de ter consciência desta consciência condicionada, ou seja, é capaz de intencionar sua consciência para a própria forma de estar sendo, que condiciona sua consciência de estar. (FREIRE, 1979)
   Ainda dentro da concepção freiriana, não é possível fazer uma reflexão sobre educação sem refletir sobre o próprio homem, para ele, a educação é uma resposta da finitude da infinitude, e ela é possível para o homem, pois este é inacabado e sabe-se inacabado, o que o leva a perfeição, para isso a educação implica uma busca realizada por um sujeito que é o homem e consequentemente, o homem deve ser o sujeito de sua própria educação, não podendo ser objeto dela. O autor completa, que por isso ninguém educa ninguém.(FREIRE, 1979)

 
3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

 
Diante do estudo podemos concluir que uma educação voltada para atender as relações de mercado muitas vezes vão de encontro aos anseios do educando, e porque não da sociedade como ambiente das relações humanas, tendo em vista a manutenção do sistema econômico, os quais não atendem a todos os atores sociais. 
A educação em sentido amplo deve atender aos anseios do homem como protagonista de suas próprias mudanças e desejos. O homem, como ser complexo que é, não tem suas necessidades atendidas unicamente pelo mercado, o homem como ser humano, tem como fator determinante as suas relações humanas para com o meio, para com a sociedade em que vive e ajuda a desenvolver.
O homem não deve ser objeto das relações mercadológicas, e sim ser o precursor de sua própria mudança, individual e coletiva afim de assegurar que seus anseios pessoais sejam efetivamente atendidos, sem prejuízo de seus valores. O sistema econômico ultraliberal, não está para servir os anseios da população, que está em constante luta de classes, onde muitos são protagonistas de relações de trabalho e não de relações humanas, onde elas estão dissociadas. E que não atendem as perspectivas reais de mudanças sociais.

CANÇÃO PARA OS FONEMAS DA ALEGRIA

Peço licença para algumas coisas.
Primeiramente para desfraldar
este canto de amor publicamente.
 
Sucede que só sei dizer amor
quando reparto o ramo azul de estrelas
que em meu peito floresce de menino.
 
Peço licença para soletrar,
no alfabeto do sol pernambucano,
a palavra ti-jo-lo, por exemplo,
e poder ver que dentro dela vivem
paredes, aconchegos e janelas,
e descobrir que todos os fonemas
são mágicos sinais que vão se abrindo
constelação de girassóis gerando
em círculos de amor que de repente
estalam como uma flor no chão da casa.
 
Às vezes nem há casa: é só o chão.
Mas sobre o chão quem reina agora é um homem
diferente, que acaba de nascer:
porque pouco unindo pedaços de palavras
aos poucos vai unindo argila e orvalho,
tristeza e pão, cambão e beija-flor,
e caba por unir a própria vida
no seu peito partida e repartida
quando afinal descobre num clarão
que o mundo é seu também, que o seu trabalho
não é a pena que paga por ser homem,
mas é um modo de amar – e de ajudar
o mundo a ser melhor. Peço licença
para avisar que, ao gosto de Jesus,
este homem renascido é um homem novo:
ele atravessa o campo espalhando
a boa-nova, e chama os companheiros
a pelejar no limpo, fronte a fronte,
contra o bicho de quatrocentos anos,
mas cujo fel espesso não resiste
a quarenta horas de total ternura.
 
Peço licença para terminar
soletrando a canção de rebeldia
que existe nos fonemas da alegria:
cancão de amor geral que eu vi crescer
nos olhos do homem que aprendeu a ler.
 
Thiago de Mello, Santiago do Chile, verão de 1964.

 
REFERÊNCIAS

 
CAUBET, Cristian. O ultraliberalismo. Palestra uergs, setembro de 2010.
 
FREIRE, Paulo. Educação e Mudança.23° edição. Paz e Terra, 1979.

MÉSZÁROS, István. A educação para além do capital. 2° Edição. Editora Boitempo, 2012.

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Tenham cuidado, mulheres

Mulheres, cuidado.

Aquilo que se faz, se pensa antes. Mas, nem sempre este pensar é sinal de uma boa razão.

Tenham cuidado, mulheres com aquilo que há por aí e não tem freio. Como um caminhão desgovernado, atropela insensível, mecânico.

Uma pesquisa realizada com a participação do Comitê de Ética da Faculdade de Medicina de Brasília aponta que 4 em cada 10 entrevistados consideram justificável o sexo sem consentimento com mulheres quando elas provocam a libido masculina vestindo-se de modo supostamente insinuante, com a presumida intenção sedutora.

Pode-se entender que estes 40% acreditam que o sexo forçado estaria 'inocentado" pelo fato da mulher parecer disponível. Em outras palavras, eles defendem a ideia de que os atos instintivos possuem alguma soberania sobre a boa vontade e a moral. 

Significa atender aos impulsos e pulsões de natureza irracional que estão sob uma espécie de indulto prévio da consciência por serem imanentes ao ser humano. 

Resultado de um relaxamento da moral?

Um dos problemas relacionados à crise de valores contemporâneos é o progressivo distanciamento entre moral e ética. A moral é circunstancial, contingente. É uma construção social no tempo e pode mudar, moldando outros costumes. Aquilo que se considera errado aqui e agora não possui valor absoluto. São ideias que, se forem modelando o pensamento comum, alteram hábitos. Nesta tensão entre visões é estabelecido o correto e o incorreto. 


A ética se propõe a resguardar valores que sejam universais para o bem coletivo, enquanto a lei impõe regra ao comportamento. 

Descompassos nestes campos geram conflitos de valores. Quanto mais a moral se afasta daquilo que é considerado bom, consagrado pela ética e expresso pela lei, mais há necessidade de intervenção pelo aparato de segurança e justiça e pelos instrumentos totais de educação

A sociedade falha ao permitir que ocorra o que já se concorda ser uma degradação do espírito.  

Mas, como está nossa sociedade em relação a isto? 

A liberação do sujeito não está sendo acompanhada da responsabilização. A mensagem da narcisação e do egoísmo é insistente e cria a falsa ideia de um poder individual ilimitado que desafia a estrutura.

Alemães em cena

Neste caso da opinião que não condena o estupro quando supostamente estimulado, lembramos dois filósofos da modernidade.  

De um lado, Nietzsche. 

Segundo ele, os valores morais até seu tempo foram gerados na intenção de afastar o homem de sua essência natural. Nesta genealogia moral, venceram os fracos que, não podendo exercer sua potência, criaram regras que impedem os mais fortes da fruição. São os niilistas que defendem virtudes imaginárias e negam a natureza do homem com seus instintos, impulsos, inclinações presentes na alma e prontas para serem realizadas. Uma ideia que vai aparecer na psicanálise. 




Esse homem do futuro, que nos redimirá, tanto do ideal até agora, quanto daquilo que teve que crescer dele, do grande nojo, da vontade do nada, do niilismo, esse bater de sino ao meio-dia e da grande decisão, que torna a vontade outra vez livre, que devolve à terra seu alvo e ao homem sua esperança, esse anticristo e antiniilista, esse vencedor de Deus e do nada - ele tem de vir um dia... (NIETZSCHE, 1983, p.312)







Se Nietzsche está certo, então por que racionalizar tanto o impulso sexual até colocá-lo sob ideais

O sexo sem consentimento, neste caso, poderia ser justificado?

Este pensamento pode servir de fundamento moral? 

Tem valor ético? 
É útil ao Direito? 

É preciso considerar que as marteladas rebeldes de Nietzsche ajudaram e destruir dogmatismos que restringiam a criatividade e expressividade do homem.

Do outro lado, Kant. 

Idealista e cristão, na moral, Kant afirma a vitória da razão livre sobre a natureza. Esta capacidade de decidir o que fazer é essencialmente humana. O homem não é determinado por forças irracionais, pode e tem o dever de escolher o correto a agir pelo bem. Sua boa vontade o conduz a evitar erros e realizar acertos. Agindo sem interesses privados - imperativos hipotéticos - e por apreço ao bem, para o bem de modo que sua ação possa ser universalizada - imperativo categórico

Se Kant está certo, e nossa cultura está baseada nestes princípios, nada justifica o cometimento do abuso. 

O erro deve ser evitado na origem, refreando a realização de atos governados por instintos. Pode-se imaginar, desejar, mas não fazer.  

Nossa sociedade está ensinando a refrear a satisfação inconsequente de sensações instintivas ou está pregando o contrário? 


REFERÊNCIAS

NIETZSCHE, Friedrich. Para a genealogia da moral. Os pensadores. 3. ed. São Paulo: Abril, 1983. 

imagens: youjivinmeturkey, chocolataveccafe, etologianodiaadia, celprado

segunda-feira, 25 de novembro de 2013

O total e o fragmentado como globalização

Bombas explodem em frente à embaixada do Irã, em Beirute, no Líbano.


O atentado deixa 23 pessoas mortas.

A ação, realizada no último dia 19, é um instrumento terrorista com finalidade política. A Al Qaeda assumiu o atentado e prometeu novos caso os xiitas do Hezbollah, ligado ao Irã, continuem ao lado do governo Sírio, contra a revolução na guerra que há dois anos pretende derrubar o presidente Bashar Al-Assad.

Diante do mundo, pelas redes de comunicação, o fato se estampa.

Este fenômeno da informação rápida e global, com o qual estamos habituados, permite uma reflexão sobre a o que Adriano Duarte Rodrigues, doutor em Linguística em Portugal, chama de antinomias da globalização.

A questão se apresenta por estar relacionada aos estudos recentes da turma SOC 0022 sobre Sociedade da Informação e do Conhecimento.

Retomando, o professor Rodrigues divide o conceito de globalização em dois.

O primeiro se refere às experiências que ele considera como comuns a todos, uma totalização das formas de relacionamento com a realidade da qual não é possível escapar, uma vez que o sujeito está imerso no universo do fato e o vive de modo paradoxal, pois o aceita livremente ao mesmo tempo em que esta vivência é imposta. Afastar-se destas experiências comuns é negar a sociabilidade.

O que há de comum a todos no atentado de Beirute?

O drama, a morte, a dor, a tensão social, a discórdia política entre outros pontos universais. Estas são experiências tradicionais da realidade percebidas em menor ou maior grau em locais diferentes e que se fundem na totalidade ao serem trocadas como informação, globalizando o sentido de experiências que sempre ocorreram e são independentes dos instrumentos tecnológicos.

As formas de sociabilidade totais, que subsistem no quadro da experiência
tradicional, têm a sua expressão no mundo da experiência vivida e a sua validade está
confinada pelas fronteiras do território comum, dentro das quais podem ser
identificadas por todos as marcas de uma mesma história comum. A sua característica
fundamental reside no facto de serem reguladas por um tipo tradicional de
racionalidade. Trata-se de uma racionalidade de natureza paradoxal, uma vez que,
apesar de ser obrigatória, impondo-se a todos de maneira incontestável, é, no entanto,
aceite por todos livremente. Pelo facto de o seu fundamento e a sua legitimidade não
dependerem das escolhas individuais, de serem implícitos, não pode ser posta em
causa por ninguém. Apesar de ser convencional, é considerada por todos como natural
e indiscutível. (RODRIGUES, 2006, p. 2)

Quanto mais universal a natureza da experiência tradicional, mais global ela é. Este modo homogêneo de experiência contrasta com a racionalidade moderna de construção da autonomia do sujeito e com ela a particularização do sentido da experiência. Segundo Rodrigues, estas duas vertentes coexistem na contemporaneidade. Por uma lado, temos a experiência tradicional comunicada e por outro, o volume informacional fragmentado em fluxo permite leituras autônomas dos fenômenos. Isto ocorre dentro da estrutura de sistema, o paradigma que molda a mentalidade comum das sociedades, da rede como suporte tecnológico que realiza a operação do fluxo e da informação como elemento indispensável do processo.

Aqui Rodrigues apresenta o segundo sentido de globalização: um processo técnico proporcionado da mediatização tecnológica da informação. Ela não anula a experiência tradicional e soma-se a ela. É o que é codificado e posto em circulação, nem sempre representando experiências totais tradicionais.

Crítica

Estaríamos globalizando o que não solucionamos?

Rodrigues sugere que compartilhamos por diversão ou camuflagem aquilo que não podemos ou não queremos solucionar.

Nossa violência? Nosso narcisismo? Nossa vaidade?

Nosso egoísmo? Nossa impaciência? Nosso hedonismo?

Nosso escárnio? Nossa sexualidade? Nossa preguiça?

Foge-se para o virtual e o abstrato quando algum obstáculo barra o êxito no real concreto?

A globalização pode favorecer, não o confronto e a procura de soluções
colectivamente debatidas, mas o individualismo irresponsável e o ensimesmamento
narcísico, de que a despolitização, o abstencionismo e a indiferença generalizada são a
face mais visível. (RODRIGUES, 2006, p. 6)

Como contraponto, pode-se argumentar que as organizações em rede permitem visualizar uma telecidadania que transborda o espaço virtual e ganha potência política real. O Occupy Wall Street, a Primavera Árabe e o Levante Brasileiro são exemplos recentes. Seria o resultado de anseios da experiência tradicional que se organizam na rede e vão às ruas buscar respostas? Entretanto, eles não anulam este efeito de afastamento e insulamento do indivíduo percebidos na atualidade.

Para vencer o caos fragmentário da informação em fluxo, segundo sentido da globalização, Rodrigues defende a necessidade de interlocutores que saibam nortear o sujeito em sua relação com a rede, exigência que "decorre do facto de a experiência globalizada ser constituída por ofertas que precedem a procura e por respostas que precedem as perguntas." (RODRIGUES, 2006, p. 7).

E neste processo, qual o papel da Filosofia?

De acordo com Rodrigues, a Filosofia tem função central e com ela, os seus professores. Eles possuem a responsabilidade de traduzir o fenômeno, interpretar sua linguagem o construir um espaço seguro de entendimento e relacionamento que permita o uso positivo da informação para a construção de conhecimento autêntico.


Mas a formação filosófica continua a ser indispensável para pensar a própria
tecnicidade que se realiza nestes dispositivos e que interfere na própria experiência,
contribuindo para a desconstrução das visões ingénuas alimentadas pelos interesses
particulares que se escondem por de trás tanto das atitudes eufóricas e tecnolatras
como das visões catastrofistas e tecnoclastas que vigoram nos actuais discursos
maniqueistas sobre a técnica. [...] Sem a mediação
de formadores e sem o enquadramento a filosofia, a informação disponível é
completamente inútil e, em vez de contribuir para a maturidade e a autonomia, corre o
risco de alimentar a alienação e a dependência. (RODRIGUES, 2006, p. 8,9)

Voltemos ao atentado de Beirute.

Podemos vê-lo com indiferença e argumentar que se trata de um fato distante, local, restrito às questões do Oriente Médio e, por mais que seja violento e dramático, pouco sensibiliza. É informação fragmentada que cumpre seu trânsito normal na mídia atual e por isto chega a nós, sem maior repercussão.




Podemos vê-lo de outro modo.

Por trás da fúria explosiva, está a intolerância política mesclada à religiosa. Há conflitos culturais e étnicos. Há extremismo espetacularizado, característico do terror.



Aqui na sociedade brasileira, quanto há de preconceito, de intolerância, de violência? 
Quais as razões de nossas incivilidades? 
As agitações sociais dos últimos meses possuem alguma característica semelhante ao terrorismo? 
Quais as soluções para certos problemas brasileiros? 

imagens: Deutch Welle, EFE, uol
RODRIGUES, Adriano Duarte. As antinomias da globalização. Coimbra. 2006. Disponível em: <http://www.apfilosofia.org/documentos/pdf/AdrianoDuarteRodrigues_Antinomias.pdf>

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

A motivação moral em Kant

Quais são nossas motivações morais?

Sobre esta questão, o professor Clóvis de Barros Filho, aquele que fez sucesso nacional após ser entrevistado por Jô Soares, dá uma aula sobre as motivações morais em Kant. (Clique aqui para ver a aula complementar)

Um bela aula sobre ética!

O professor Clóvis fala sobre os desejos particulares que levam à ação e que, segundo o filósofo alemão, não podem ser considerados motores da moralidade.

Também explica como o motivo moral legítimo é impulso para o cumprimento do dever. Nunca por interesses privados.

E o que isto quer dizer?

Que a ação moral kantiana é incondicionada e livre. Sua motivação é essencialmente racional como admissão da vontade transcendental, ou seja, fora do alcance das causas do mundo do fenômeno. A moral destaca o homem dos instintos e desejos para dizer a ele o que é correto.

Por que agimos como agimos?

A motivação moral deve ser racional e universal, servindo de regra para todos, o que se chama o imperativo categórico.

O centro motivador moral é a boa vontade.


Vale ler

Se você quiser ler um livro bem claro sobre o assunto, procure a obra O problema da motivação moral em Kant, de Hélio José dos Santos Souza.


Vale a pena.


imagens: cultura acadêmica, vimeo





segunda-feira, 4 de novembro de 2013

Faço o que quero

O colega e amigo Adriano Freire, postou no Facebook uma observação sobre o comportamento de algumas pessoas no espaço público e como este comportamento agride outras que convivem nestes mesmos espaços.

A referência vai ao encontro da ideia de subjetividade contemporânea e como ela domina a percepção de nós mesmos e controla nossa colocação no universo social.

Ontem, o historiador e professor Leandro Karnal falava no Café Filosófico a respeito da pós-modernidade e de como se alterou a noção do pecado como uma ofensa a uma regra moral objetiva, válida para todos para que fosse incorporada a percepção particular de nós mesmos como capazes de julgar nossos atos morais fazendo do pecado uma noção subjetiva.

É característica da pós-modernidade essa dissolução e fragmentação de valores que até a modernidade eram referenciais paradigmáticos norteadores da ação humana. A racionalidade moderna defendia uma lógica objetiva e executável no mundo prático e capaz de proporcionar progresso, desenvolvimento, evolução, bem-estar, felicidade. O contrário significava erro. Tinha, ainda, a modernidade, resquícios dos parâmetros medievais de um mundo governado por Deus e com sua História traçada.

Basta recordar que um dos mais influentes pensadores cristãos, Agostinho de Hipona, defende a ideia de um governo de Deus sobre a criatura e os destinos coletivos.


Na modernidade o pensamento se torna científico como antes não fora e enquadra o homem num sistema total de racionalidade substituta da divindade com a finalidade de conquista de uma vida melhor e, portanto, superiora. É neste frenesi moderno que a ciência e a tecnologia vão abrir caminho para a explosão das comunicações globais que vão moldar a pós-modernidade.

Hoje, a sociedade global se assenta em bases tecnológicas informativas. As conexões em rede proporcionam a transmissão de dados que facultam ações em tempo real determinantes para a política, a economia, a sociedade em geral.

O que antes era sólido, concreto, objetivo, hoje é virtual, é digital. São dados que, interpretados, alteram com velocidade a percepção da realidade. Disponível e globalizado, o acesso permite o consumo em massa da informação. A aceleração vertiginosa do processo mal permite a assimilação do novo e este já se torna velho e substituído por algo ainda mais recente.


A sensação é de impermanência.
E onde há impermanência, não se pode afirmar que haja verdade.


Não havendo verdade, resta a crença e esta é subjetiva.

É nesta nuvem de subjetividades que se vive o agora.
Cada pessoa recebe a carga das informações ao seu redor e configura sua visão sobre o real. Sem o referencial objetivo - o que é o pecado? o que é o certo? o que é  moral, imoral? - o indivíduo cria seu julgamento que nem sempre é útil a ele mesmo ou positivo para a coletividade.



Mas, é o processo da construção da identidade ou das identidades (HALL, 2005).



Desta maneira, o que se vê é um ambiente de tolerância soberba sendo exigida de todos para evitar os atritos nascidos das diferenças de opinião e de comportamento. Quem agride os outros com seu jeito de ser, nem sempre se importa com as consequências e em comum pensa "sou livre e faço o que quero", o que afirma um egoísmo narcisista e prejudicial ao convívio. Por exemplo, quem ouve música alta no ônibus ou solta seu cão no parque. Se eles acham que está tudo bem, os outros que suportem. Então, é preciso criar uma nova lei para regular os excessos desta liberdade democrática mal compreendida.

Este pequeno panorama contemporâneo faz recordar do Teeteto, de Platão.
Lá está o desmonte da tese de Protágoras de que o homem é a medida de todas as coisas, sugerindo o relativismo.

Se não há verdades que sejam objetivas, nos insulamos na subjetividade a ponto de anularmos o próprio juízo ao ferir o princípio lógico da não contradição - admitir que se está certo e errado ao mesmo tempo e sobre o mesmo juízo - e isto contraria a história humana. Teremos que nos reconstruir.

Ou Protágoras está correto e nos restam certezas cada vez mais provisórias, especialmente na instância moral, como deixou também em aberto a questão, Descartes?

REFERÊNCIAS

HALL, Stuart. A identidade cultural na pós-modernidade. Rio de Janeiro: DP&A, 2005.

imagens: aloartista, leandrodomingues, fernandonogeuriacosta

segunda-feira, 21 de outubro de 2013

Guerra pai, crise mãe

No programa Manhattan Connection deste domingo, 20/10/2013, o jornalista Lucas Mendes disse 'estar sentindo falta de uma grande crise, pois com as grandes crises vêm as grandes mudanças'. 

Parte da edição foi dedicada à análise do problema da dívida norte-americana e a queda de braço entre republicanos e democratas levada ao limite até a semana passada, deixando o mundo em alerta. 

Há crises generalizadas, porém, a grande crise, the big one, aquela capaz de alterar os rumos atuais das sociedades de maneira drástica, não há. 

Ela seria positiva? 

Qual preço se pagaria por significativas mudanças no cenário político global? Estamos prontos para construir novos paradigmas? Eles seriam realmente positivos, justos, éticos ou a humanidade em seu estágio atual é incapaz de criar um mundo melhor? É disto que a humanidade precisa para avançar?



A afirmação de Lucas Mendes faz reverberar o milenar pensamento dialético de Heráclito: 



"Tudo se faz por contraste; da luta dos contários nasce a mais bela harmonia. [...] A guerra é o pai de todas as coisas e de todas o rei." 



imagens: Sidney Rezende; internet

terça-feira, 8 de outubro de 2013

Honra e humilhação

Os códigos de honra prevalecem sobre a lei em diferentes sociedades. Alterar hábitos morais é complexo, pois eles possuem raízes culturais fortes e a imposição legal nem sempre é suficiente para operar as mudanças. Nem mesmo as proibições religiosas conseguem superar estes códigos que, quando quebrados, afetam a convivência  e o respeito. 

Kwane Anthony Appiah, filósofo, fala sobre isto numa entrevista ao programa Milênio, da Globonews.*


Defende ainda a valorização das diferenças como fator positivo para a educação e o trabalho. 



*Também no nosso outro site Jornalismo e Educação.
 









foto: klepsidra

domingo, 1 de setembro de 2013

O valor da vida

As vidas não são todas iguais, segundo o pensamento utilitarista de Peter Singer.

O filósofo é um dos grandes nomes contemporâneos quando o assunto é ética, em especial, bioética.

Em sua passagem pelo Brasil, Singer falou sobre filosofia, ciência e as difíceis decisões humanas que transitam entre a dor e o bem-estar não somente das pessoas, mas também dos animais.

Conforme o filósofo, o grau de consciência dos seres vivos é o essencial para dimensionar o valor de cada vida e a partir disto medir o impacto das ações humanas sobre estes seres e se estas ações são certas ou erradas do ponto de vista ético.

Clique aqui para ler a entrevista de Peter Singer à revista Veja.

Clique aqui para saber um pouco mais sobre o utilitarismo ético.

site: Fórum de Ética
foto: Veja

quarta-feira, 31 de julho de 2013

Era ou não era?

Minha esposa me disse:

"-Hobbes era ateu."

Como assim? Perguntei.

Ela respondeu que leu em uma breve biografia escrita por Nigel Warburton, professor de Filosofia.

Achei estranho, fui investigar o trecho. Realmente afirmava.

Expliquei que não era muito certa a afirmação de Warburton, pois Hobbes usa de teologia e busca nas Escrituras Sagradas recursos para fundamentar o Leviatã, por exemplo. Falei que o inglês poderia sim estar em divergência com a teologia romana e anglicana e que o fato dele ter argumentos mecanicistas em sua filosofia não significaria exatamente que ele era ateu.

Ela não se convenceu muito.

Então, fui buscar uma outra opinião.

Renato Janine Ribeiro, um dos mais importantes filósofos brasileiros, confirma o que penso. Ele escreveu o seguinte:

"Mais que isso, Hobbes afirma que um poder irresistível, como o de Deus, é o único que pode baixar leis sem necessitar do consentimento dos súditos (veja-se o final da segunda parte do Leviatã). Esta curta observação é importante, porque permite contrastar Deus, que legisla sem precisar de nós, com os soberanos deste mundo, que podem legislar sem nossa aprovação a cada lei, mas cujo poder decorre de que em algum momento, imaginado pelo menos, tenha sido aceito pelos súditos o seu princípio. Deus tem um papel no sistema teórico hobbesiano." 





Quer saber mais?

Clique aqui, leia o texto completo e forme seu conceito.


link: renatojanine.pro.br
fotos: umesbocofilosofico, turmadochapeu

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Da liberdade à droga

Hoje, ao visitar o hospital São Francisco de Assis, na zona norte do Rio de Janeiro, que trata dependentes químicos, o Papa Francisco emitiu uma opinião política clara e séria.


Disse ser contra a descriminalização das drogas, sem especificar quais.

Segundo o Papa, tornar o consumo ato não criminoso não reduziria os índices de dependência e seus decorrentes problemas. 

O religioso declarou que a lógica gananciosa fomenta tragédias sociais e que aqueles que vendem a droga são mercadores da morte.



Há no Brasil um debate sobre não considerar crime o porte de maconha para consumo próprio, tendo por base não interferir em decisões privadas do cidadão que não afetam terceiros. Uma medida para resguardar legalmente a liberdade de escolha nestes casos que também transfere à sociedade parte da atividade exercida pelo tráfico.  

Legalizar o comércio da maconha, droga considerada de entrada por médicos, ponte para outros tóxicos mais potentes, criaria o controle do Estado sobre a produção e circulação do produto. Haveria arrecadação de impostos e economia em segurança para o combate ao tráfico, entre outros ajustes possíveis e profundos.

Claro, não é a maconha que mata. 
O crack e o oxi, por exemplo, são problemas maiores, enquanto entorpecentes. Porém, traficar, em geral, produz tremenda violência.

A mensagem do pontífice foi reta aos países latino-americanos. O Uruguai, há pouco, debatia a proposta de legalizar a maconha.

Mas, tornar esta droga um produto legalmente consumível se relaciona como com a liberdade? É questão só de mercado, de segurança, de saúde, de política? De comportamento, de consciência

Ela sai da clandestinidade e passa a ser oferecida a quem queira e possa adquiri-la num ato de livre vontade que obedece à rotina da livre economia. Mesmo que haja alguma restrição ao comércio, ela é menor do que o cometimento de um crime como é hoje. O traficante sai de cena e entra o comerciante e o usuário se torna consumidor legal. Como ocorre com o cigarro e o álcool. Se adoecer disto, uma consequência, o indivíduo arca com a responsabilidade, ônus da liberdade.  

Até onde é livre a decisão humana se forem levadas em conta as disposições naturais e comuns a todos como a emotividade e a racionalidade (psicológicos ou subjetivos), fatores determinados como a educação, a cultura, a carga de influência do meio (elementos objetivos)?

Vale aqui lembrar aspectos básicos da definição de liberdade.

  • Capacidade de autodeterminação ou autocausalidade e não se encontra sob limites;
  • Necessidade relacionada à totalidade;
  • Possibilidade condicionada de escolha.

É livre de modo absoluto aquilo que causa a si mesmo. Seu poder é total para realizar o que deseja.


“...o homem é o princípio e o pai dos seus atos...” Aristóteles, Ética a Nicômaco, L III

É livre aquele que obedece à ordem que governa a totalidade do universo por conhecê-la. O Absoluto impõe a sua liberdade ao contingente como uma necessidade. O ser finito conquista a liberdade por autonomia ao associar sua ação ao princípio infinito, causa eficiente do todo. Por exemplo, o homem se faz livre ao executar a vontade de Deus.



“...o indivíduo tem liberdade e a usufrui, mas só quando o indivíduo é ciência, fé e vontade do universal.” Hegel, Filosofia do Direito


É livre quem possui algum grau de possibilidade de escolha para suas ações.





“Somos livres para fazer quando temos o poder de fazer.” Voltaire, Dicionário Filosófico.


Então, cada um pode escolher o que quer para si com qual ou quanta liberdade?




link: Estadão, Abril
fotos: consciencia.org, abril, cdpl, bucknell