O eu teria vencido o nós?
O fim do Comunismo como bloco político em oposição ao Capitalismo dissolveu com a ruptura que havia entre dois mundos dividos por oposição de doutrina política e sistema econômico. O princípio comunista é o bem da coletividade, enquanto que o capitalista é o do indivíduo.
Desde o final dos anos 80 o que se percebeu foi a progressiva difusão do liberalismo de mercado onde antes havia estados comunistas, da expansão reforçada do capitalismo e com ela padronizações culturais em volta do consumo como atividade fundamental da sociedade. Junto houve o crescimento do hedonismo, do imediatismo, do individualismo, do egoísmo, das relações superficiais e da sensação de solidão.
Vivemos para produzir e consumir.
Sem saciedade.
A ideologia por trás afirma que só assim se está inserido e se pode ser feliz. Fora deste ciclo, é impensável existir e a angústia surge como sinal do medo desta morte social.
Gilles Lipovetsky, filósofo e sociólogo francês, tem como conceito chave de seu pensamento o que chama de
cultura-mundo. Construída sob 5 eixos básicos, o mercado, a ciência, a informação, a indústria cultural e as tecnologias de comunicação/individualização, a cultura-mundo é um paradigma de valor atribuído pela sociedade planetária ao bens consumíveis, sejam eles produtos ou marcas, objetos ou signos. Segundo Lipovetsky, as sociedades globais repetem este comportamento chamado de cultura-mundo que, se por um lado trouxe maior liberdade aos indivíduos, provocou a desorientação. Isto ocorreu devido ao excesso de oferta de todo o tipo de coisa: objetos, serviços, ideias. Cada um pode hoje falar o que quer e criticar o que pretende. As instituições que antes orientavam dando noções de certeza e erro, hoje se perdem no balcão comum e disputam a atenção do homem-consumidor que tem o poder de escolher, porém não sabe muito bem o que escolher.
Em uma reportagem de 2010 publicada pelo Jornal de Notícias, de Portugal, Gilles Lipovetsky expõe seu pensamento e faz um diagnóstico do presente e um prognóstico do futuro da sociedade destas primeiras décadas do século XXI. Nela, o filósofo afirma que a democracia é o sistema político inevitável para o globo, pois ela significa liberdade de escolha e de expressão. Como no caso dos países árabes que nos últimos anos vê crescer a influência ocidental e reage com violência, o que seria reflexo do medo da perda da identidade islâmica.
A desorientação da qual fala Lipovetsky é parte do perfil da sociedade pós-moderna?
Como não se deixar desorientar?
A democracia deve ter valor positivo reconhecido em si mesma e ela deve ser preferida e até imposta a outros países com diferentes sistemas políticos e de mercado?
Quais os sinais da cultura-mundo na sociedade brasileira?
fonte: Jornal de Notícias
fotos: devoir-de-philosophie.com, ig