Fake news não é mentira. Antes fosse. Uma notícia falsa é um simulacro. Significa que ela simula ter o que não têm, o fato, logo, o referencial real que garante a verdade do que ela simula informar.
Uma simulação, portanto, precisa ter uma forma sem conteúdo. Como um corpo sem alma. Um humanóide sintético é um simulacro, você pode acreditar que é humano pela forma, mas o essencial não existe, é nada. Você pode falar com uma IA crendo ser um humano como pode orar para uma imagem sagrada sem haver santidade alguma nela.
"Dissimular é fingir não ter o que se tem. Simular é fingir ter o que não se tem. O primeiro refere-se a uma presença, o segundo, a uma ausência." Jean Baudrillard, Simulacros e simulação, p.9.
Uma fake news é mais perversa que uma mentira porque induz a tomar por verdade a verdade que não existe devido a sua forma jornalística ou publicitária. Cabe lembrar que um critério de verdade é a correspondência entre linguagem e fato, o que ocorre no real e o que se diz dessa ocorrência.
Nesta semana o Congresso Nacional decidiu que a difusão de fake news não deve ser punida se usada como instrumento de campanha eleitoral. Isto quer dizer que é inimputável criminalmente qualquer simulação de notícia que leve o eleitor a acreditar existir o que não existe, ser real o irreal, verdadeiro o que é falso.
O potencial destruidor de reputações é relativamente mínimo se for pensar no prejuízo para o estado democrático de direito. Pois, para haver direito deve haver justiça.
Que justiça há quando se extingue o valor soberano da verdade nas relações sociais, políticas e jurídicas?
Que democracia resiste, sendo ela um sistema fundamentado na igualdade de direitos, quando o direito de indivíduos ou grupos pode ser pulverizado por acusações falsas simuladas no formato consagrado de notícia?
Quem vai acreditar em quem?
Uma fake news é como receber um policial fardado em casa quando ele de fato é um criminoso. Isto é a simulação.
Genérica, a mentira não tem essa sofisticação. Um boato sem provas é uma mentira. A fake news não. Ela é a não verdade com aparência da verdade.
Como distingui-la?
Isto não é demolidor?
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