Ele tinha insuficiência renal. Aos 68 anos, vivia na comunidade de Ossola, nas montanhas da fronteira entre Itália e Suíça. Precisava de um transplante de rim. Agricultor durante toda a vida, era de temperamento sereno, altruísta. Simples, sentia-se integrado ao seu mundo junto à natureza. É o que diziam os parentes e amigos. Walter Bevilacqua não tinha esposa ou filhos. Um dia ele falou ao padre local que não faria o transplante. Entendia que havia pessoas mais necessitadas do que ele esperando. Gente mais jovem, com filhos. Há poucos dias, numa sessão de diálise, Walter morreu.

O jornalista e filósofo Roberto Saviano o chamou de um pastor corajoso.
O sacrifício de Walter é um mosaico de visões e permite comparações com outros. Para entendê-lo bem é necessário ler a reportagem sobre o assunto no La Stampa. Lá estão detalhes particulares sobre Walter que abrem espaço para a reflexão. A atitude causa impacto porque envolve uma decisão moral que implica em vida e morte em meio a uma ação que parece abnegada. Contudo, as informações revelam algo. Talvez Walter tenha se amparado numa razão altruísta como justificativa de consciência, mas influenciado por motivos egoístas.

Foi uma forma de suicídio? Justificado pela intenção de salvar outro, mesmo sem a certeza de que está realmente salvando? Se ele decidisse pelo transplante, em caso de sucesso, poderia ter aproveitado os anos seguintes em ações voluntárias para de alguma maneira salvar muitas outras pessoas? Foi mesmo um ato altruísta puro ou a vida havia cansado Walter e o levado a desistir dela? Este tipo de renúncia consciente, ao contrário das impulsivas, e as consequências dela são maiores do que tudo e por isso são um modelo de coragem? Nisto se enquadra perfeitamente este caso?
Walter, riposa perché tutto è già consumato.
fonte: La Stampa
foto: lastampa, robertosaviano.it