Sua revista escolar de filosofia.

domingo, 12 de maio de 2013

Super Kant!

Como romper com um certo modo coletivo de pensar, se este modo se percebe, está inadequado, e substituí-lo por outro, que pareça melhor?

Filosofar é também perguntar!

Esta questão foi levantada na última aula pelo colega André Luis Teixeira de Mello. No encontro estava sendo estuda a Educação Inclusiva, que tem por proposta incluir pessoas com deficiência na educação regular e formá-las cidadãs tanto quanto possível. Isto significa torná-las independentes, capazes de cuidarem de si e de seus direitos.

O ponto não é debater a inclusão pela educação.

Vamos já partir do patamar de que a inclusão é correta.

Na prática, portanto, a dificuldade é fazer a teoria funcionar, superar preconceitos e outras barreiras significativas e com isso horizontalizar as relações entre o maior grupo de pessoas possível, reconhecendo diferenças, porém respeitando a singularidade, descobrindo e estimulando talentos que permitam que deficientes participem mais ativamente da sociedade.

Contudo, isto não quer dizer que os deficientes devam ser moldados ao padrão cultural, político e econômico vigente, apenas. O esforço deve ser em duas mãos que se encontram. A sociedade também precisa enxergar estas pessoas com olhos acolhedores e transforma-se para estabelecer um convívio equilibrado.

Tudo o que já foi conquistado em termos de acessibilidade demonstra que estamos no caminho.

Mas o que a pergunta do André tem a ver com este processo?

Estudante de Sociologia, o André gostaria de ter uma resposta com fundamentação filosófica.

Vamos buscar a ajuda de um superman ou melhor, de um übermench da filosofia alemã.


Não, não é Nietzsche.




É Kant!






Ele elaborou um dos grandes sistemas filosóficos do idealismo racionalista. É fácil gostar de Kant e irresistível sua argumentação, que é também densa.

Vamos procurar um modo claro e simples de explicar.

Para o filósofo, a realidade é regida pelo princípio de causa e consequência, como um grande mecanismo lógico. A causa eficiente e primeira é não causada por nenhuma outra. É o Ser Sublime e Transcendental, ou seja, não faz parte do mundo natural. Este Sublime, que pode ser chamado Deus, é alcançado pelo senso estético e moral do homem.

"O argumento do desígnio não é um prova teórica, mas uma sugestão moral, que se faz vívida em nossos sentimentos em relação à natureza, e se realiza em nossos atos racionais. Realiza-se no sentido de que o verdadeiro fim da criação é sugerido de nossas ações morais: mas é a sugestão de um mundo ideal, não de um mundo existente. Assim provamos a teleologia divina em todas as nossas ações morais sem podermos mostrar que essa teleologia é verdadeira em relação ao mundo em que agimos." ( SCRUTON, p. 133)

Para Kant, a razão é o meio, mas ela não é capaz de alcançar o Transcendental. Temos sua ideia, idealizamos a finalidade dos fatos chegando à compreensão das forças mais radicais a comandar a realidade, mas não temos como demostrá-las plenamente na instância concreta como objeto do conhecimento.

"O que há a se reverenciar no ser racional é tão somente isto: ele sente e age como membro de uma esfera transcendental, ao mesmo tempo em que reconhece que pode conhecer apenas o mundo da natureza." (SCRUTON, p. 134) 

Este princípio age na História conduzindo a Humanidade para estágios superiores de conhecimento, de costumes. Cabe ao Homem entregar-se à atividade de sua razão para chegar ao entendimento do seu dever perante si e o outro e assim contribuir para que esta marcha se dê em boas condições, porque ela ocorrerá.

Aqui está um ponto essencial: são nossas próprias ações que aceleram ou retardam o bem-estar. É   necessário ser educado, educar. Escolher melhorar o mundo. Porque, segundo Kant, a progressão é positiva e virá assim mesmo.

"Pode-se considerar a história da espécie humana, em seu conjunto, como a realização de um plano oculto da natureza para estabelecer uma constituição política perfeita interiormente e, quanto a este fim, também exteriormente perfeita, como o único estado no qual a natureza pode desenvolver plenamente, na humanidade, todas as suas disposições." (KANT, p. 20) 

Evoluímos!

Então, olhando para a História, observamos as comoções e os avanços, nem sempre percebidos no momento, mas saudados depois.

A educação inclusiva, amparada em direitos humanos universais, se impõe justamente por este fundamento como avanço nas relações entre pessoas com fins na dignidade e na liberdade.

É evolução, Super Kant!
Já diria Gelson Weschenfelder.

fontes: SCRUTON, Roger. Kant. Porto Alegre: LP&M, 2011.
KANT, Immanuel. Ideia de uma história universal de um ponto de vista cosmopolita. São Paulo: Brasiliense, 1986. 
imagens: comicvine, fredericdupin, abril

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Questões de estudo 2

A unidade 2 do Caderno de Estudos de Filosofia Geral e da Educação traz a introdução a algumas áreas relacionadas à Filosofia.

São a sequência para explorar os temas e a abrir perspectivas maiores da análise filosófica.
Aqui vão algumas sugestões para acrescentar ao estudo.
O tópico 1 trata da Teoria do Conhecimento. Ao falar sobre o que é conhecer é preciso mergulhar na metafísica e perpassar a história do pensamento, já que em todas as épocas, filósofos se dedicaram a investigar o que seja conhecer e como é possível. Este tema será tratado como mais profundidade na disciplina específica.
Neste momento, é importante ir se familiarizando com o assunto. Uma das obras fundamentais dedicadas à epistemologia é o livro Teeteto, de Platão, considerado por alguns o inaugural sobre o tema e atual nas reflexões que traz.
“Ora, seria o cúmulo da simplicidade, estando nós à procura do conhecimento, vir alguém dizer-nos que é a opinião certa aliada ao conhecimento, seja da diferença ou do que for. Desse modo, Teeteto, conhecimento não pode ser nem a sensação, nem opinião verdadeira, nem a explicação racional acrescentada a essa opinião verdadeira.” (PLATÃO, p. 98)
Nas palavras de Sócrates, podemos afirmar que conhecemos, porém não respondemos com satisfação como se dá o ato de conhecer.
A fenomenologia, por exemplo, vai tratar o homem como sujeito consciente de si e do mundo dos entes, condição que o eleva a ser luz entre as coisas e ter por essência existir e reconhecer sua própria existência e das coisas do mundo. O espírito humano percebe o que se enquadra, a seu modo, naquilo que é conhecimento.
“Pusemos a questão sobre o que é conhecer. A resposta é possível porque estou presente ao cognoscente que sou. Minha existência é consciência-de-conhecer, sem ser de conhecimento. [...] Essa resposta, portanto, jamais pode ser provada, no sentido estrito da palavra, como p. ex., deduzo, raciocino, provo de um círculo ou esferas as propriedades necessárias. No explicitar não há provas: apenas posso apontar. Só consigo esforçar-me por apreender e exprimir aquilo a que estou presente.” (LUIJPEN, p. 90)
Contudo, não se pode pretender trabalhar com metafísica e teoria do conhecimento sem se apropriar do pensamento de Immanuel Kant.
Mas isto é para mais adiante.
Na página 68 há uma relação de identidade entre conhecimento mítico e religioso como fundamentados na fé como critério de verdade. É preciso fazer uma distinção.
O conhecimento demonstrável de modo racional é lógico. Há religiões amparadas em verdades filosóficas profundas, não sendo produto da fé se esta significar o inconcebível lógico. Deus, por exemplo, é uma ideia para a filosofia e para a teologia. Ele só não é empiricamente demonstrável como é um objeto do mundo real e concreto.
Mesmo a ciência positiva se ampara em certa espécie de fé. Confia na maior probabilidade de certeza de seus enunciados por confiar na certeza de seus métodos.
“Não existe, por conseguinte, um mundo-em-si científico. Em princípio, há tantos mundos científicos especialmente distintos, quantas são as atitudes especificamente diversas de perguntar.“ (LUIJPEN, p. 170)
Por isto, diversas ciências e não somente uma. Como diz Heidegger, a ciência é uma teoria sobre o real. Baseia-se no rigor da razão e reivindica a pretensão de falar a verdade sobre o ser concreto. Porém, submete-se ainda à Filosofia da Ciência, cujo papel é manter a crítica sobre aquilo que se afirma ser a verdade a respeito da realidade. A ciência não é totalizante, já que não explica tudo à luz de seu método. Não consegue, por exemplo, responder se o conhecimento parte do sujeito ou do objeto. Descreve leis mecânicas, mas não sabe responder como foram elaboradas de fato.
Na mesma página, onde se fala em conhecimento filosófico, afirma-se que a filosofia não pretende estabelecer um conhecimento absoluto, mas questionar e refletir. Não seria bem assim. Há sistemas filosóficos que pretendem chegar a verdades imutáveis e, portanto, absolutas. O cartesiano é um exemplo. A dúvida metódica arrasa o conhecimento inconsistente para propor um verdadeiro e metafísico. Descartes anuncia a realidade inquestionável do ser que pensa de modo absoluto. A própria lógica, como a matemática, possui verdades absolutas e com elas a filosofia propõe conhecimentos inquestionáveis pela razão. Alguns carecem é de demonstração na instância do real empírico, como a existência de Deus.
Ou alguém tem dúvida de que para os platônicos os seres ideais são absolutos?
Lógica
O tópico 2 traz noções bastante elementares sobre lógica. Opta por não ingressar na linguagem artificial ou apresentar a gramática lógica. Isto provavelmente virá com profundidade na disciplina de lógica.
Para se ter uma ideia do que será necessário aprender, os fundamentos passam por definição de sentença e argumento, legitimidade, ilegitimidade e analiticidade, proposição, possibilidade, etc.
Por exemplo, uma sentença é analítica quando jamais pode ser falseada.
Argumentos que trazem sentenças condicionais possuem legitimidade a analiticidade se o condicional correspondente for analítico:
“Se todos os homens são mortais e todos os gregos são homens, então todos os gregos são mortais.”  
Em lógica fica: Se todo A é B e todo C é A, então todo C é B.   
Grego? Nem tanto, vai...
Ética
O capítulo é resumido a algumas perspectivas éticas e distingue ética de moral.
É o começo.
Em toda a história da filosofia os pensadores falam mais ou menos sobre ética. Logo, é muito mais do que o exposto no livro. Uma boa viagem nesta história está no livro Ética, conceitos-chave em filosofia, de Dwight Furrow. Uma obra bem didática editada pela Artmed.
Porém, uma recomendação é se aproximar das origens gregas. Além da obra Ética a Nicômaco,de Aristóteles já recomendada, outro livro interessante é o diálogo Mênon, de Platão. Neste livro o filósofo destrincha a questão da Virtude e se ela pode ou não ser ensinada. Outro diálogo é o Filebo, sobre o prazer, a felicidade e o Bem, temas recorrentes na literatura platônica.

Conhecer o pensamento estóico é também de fundamental importância.


A concepção kantiana de moral e ética é magnífica, mas exige conhecimentos prévios para entender o sistema do filósofo e o que ele diz sobre liberdade e dever na perspectiva transcendental. Assim como a estética por Kant, que já mencionamos no post Que bonito!
Na sequência, o terceiro capítulo.
Bons estudos!
REFERÊNCIAS

LUIJPEN, William. Introdução à fenomenologia existencial. São Paulo: EPU/USP, 1973.
PLATÃO. Teeteto. Belém: UFPA, 1988.

imagens: cassao, portugues.free.ebooks, Filosofósforos