Sua revista escolar de filosofia.

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Desenvolvimento humano: fisiologia e ética - terceiros anos

Salve, pessoal! 

Teorias sobre a origem, a genealogia da moral, remontam aos primórdios da cultura. A mitologia como religião já propunha encontrar os traços da moralidade nas fontes divinas instituidoras do ordenamento cósmico e do bem como lei natural. Depois, filosofias desenvolveram suas concepções transitando entre a naturalidade e a historicidade dos valores morais. 

Todo esse conhecimento orienta as discussões éticas hoje e novas abordagens ao problema surgiram e surgem com a ciência incorporando elementos que enriquecem o conhecimento do homem sobre si mesmo e sobre o meio. 

Vamos aprofundar esse debate?

O texto abaixo sugere que a moralidade e a ética tenham sua assimilação associada à fisiologia humana. 

Noções de bem e mal, de certo e errado e suas práticas dependem do amadurecimento neurológico. 

Confira! 
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Senso moral, segundo Yves de La Taille, é a capacidade de conceber os deveres morais e ao mesmo tempo sentir que eles são obrigatórios. É uma atitude na qual os sentimentos e a vontade se unem à razão. Trata-se, portanto, de querer fazer o que deve ser feito.

O senso moral, via de regra, não é o mesmo na criança, no adolescente, no adulto ou na pessoa mais amadurecida. Lawrence Kohlberg (1927-1987) foi um cientista que se dedicou a pesquisar  essas diferenças, e seus estudos sobre os estágios do desenvolvimento do senso moral nos ajudam a compreendê-las.

O senso moral na pessoa adulta se estrutura em torno do respeito às leis que regulam as instituições sociais. O adulto entende que essas regras são convencionadas por um grupo, ou pelo conjunto da sociedade, com o objetivo de garantir a ordem social e os direitos e os deveres de todos os cidadãos. O correto, para um adulto, é cumprir as regras com as quais passou a concordar no momento em que assumiu seus papeis como estudante ou profissional, membro dos diversos grupos de que participa, e cidadão. A motivação de agir certo, para um adulto, provém do fato e ele fazer parte das instituições e de ele querer manter o bom funcionamento delas. Isso lhe traz autoestima e autorrespeito, bem como o respeito dos outros.

Já numa criança, o senso moral não segue as convenções sociais, que ela ainda nem distingue com nitidez, mas imita o comportamento dos adultos e busca as vantagens imediatas que ela pode desfrutar em cada situação. Até uns sete anos, mais ou menos, a criança segue as regras de casa e da escola e as obedece para evitar castigos e para receber os louvores e os prêmios esperados. Típico dessa idade é fazer as coisas "proibidas" quando a autoridade não está presente, pois então não haverá consequências materiais diretas.

Esse exemplo mostra o que Piaget afirmava sobre a heteronomia dessa idade. Para a criança as regras provêm de outras pessoas e é por respeito a essas pessoas que são obedecidas. Ao passo que para o adulto vigora a autonomia, quer dizer, as leis têm valor a partir da sua própria decisão consciente.

A criança pequena ainda não compreende a função geral das regras, e por isso nem pensa em fazer algo fora das regras ou, se um adulto não estiver perto, fora dos seus desejos e necessidades imediatas. Ela obedece porque teme o poder dos adultos e sabe que deve seguir o que eles ensinaram. A partir dos seis ou sete anos a criança amplia suas relações sociais e seu espaço de iniciativas. Além de continuar a seguir as normas, passa a considerar correto satisfazer o seus interesses, desde que não agrida os interesses dos outros. Cresce na criança um senso de trocas equitativas e também de reciprocidade: é bom ajudar aqueles que me ajudam, ou podem me ajudar. Esse é o estágio típico do "olho por olho, dente por dente". A criança vai atrás de vantagens práticas e materiais, mas também toma consciência da necessidade de equilibrar as vantagens com seus colegas.

Entre o universo moral da criança e do adulto situa-se o da adolescência, com suas típicas oscilações. O advento do raciocínio abstrato permite que o jovem comece a entender as razões gerais das regras e passe a considerar as expectativas da família, do grupo ou da sociedade como algo valioso por si mesmo, ainda que demande algum sacrifício pessoal. Os valores de autoetima e lealdade se tornam mais importantes. O jovem busca então manter e justificar sua posição nos grupos que frequenta, sentindo vontade de se identificar e solidarizar com as pessoas do grupo.

O adolescente continua a avaliar que o bom comportamento é aquele que recebe a aprovação dos outros, mas já amplia a duração, as formas e o significado dessa aprovação. Ele ainda forma imagens estereotipadas do que seja o comportamento da maioria, o comportamento "natural". É frequente ele responder, ao ser chamado à atenção: "mas os outros estão fazendo a mesma coisa". Isso ainda é heteronomia, é ir pelos outros. Mas o adolescente também começa a ser capaz de reconhecer a intenção dos agentes, sabendo aliar certas ações pelos princípios éticos e não apenas pelos resultados práticos. A "regra de ouro" - não devo fazer o que não quero que façam a mim - começa a fazer sentido, pois o adolescente é capaz de empatia e de juízo autônomo.

À medida que avança para a formação de um senso moral adulto, o adolescente compreende que é responsável por cumprir suas obrigações em cada grupo do qual faz parte, compreende que os demais integrantes desses grupos contam com sua ação, e sente sua autoestima crescer, pois se identifica como um membro livre e confiável que contribui para a boa convivência entre as pessoas.


ADAS, Sérgio. Propostas de trabalho e ensino de filosofia. p. 72.

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Muito bem! 

Agora volte ao AVA Sala de Aula que tem uma tarefa para você.

Até mais!! 

Imagem: Roberto Araújo Correia: o ser ético
Editado em 10/09/2021