Sua revista escolar de filosofia.

terça-feira, 31 de março de 2015

Unidade didática: Em busca da Felicidade

A questão da felicidade significa a procura por ela. 

Questionando sobre o que é a felicidade podemos, quem sabe, encontrar um termo comum conceitual que nos permita saber do que estamos falando uns aos outros ao nos dizermos felizes. 

Será que é possível? 

Definir a felicidade tem sido uma das mais espinhosas tarefas da filosofia. 
Se trata de produzir o significado de um significante quando ambos são móveis

O valor semântico do termo felicidade parece ter extensão e intensão ilimitadas. As coisas que dão felicidade e o que significa a sua intensidade são irrestritas dificultando atingir denotação e conotação precisas. 

Quantas coisas são precisas para dar felicidade?
O que estas coisas precisam ser? 

A felicidade depende de condições que estão em constante transformação, fuga, escapando do homem. Dwitgh Furrow diz que "ser feliz é manter ativamente o que é vulnerável." 

O vulnerável é frágil, é instável, tende a acabar e cada pessoa necessita se esforçar para reter o que lhe faz bem. 

Bem?! 

Sim, a felicidade é um bem. 
Então, está respondido! 

Será mesmo? 

Pense melhor... Diga o que é o bem. Ele é o mesmo para todos? Se alcança da mesma forma? 



Afinal, o que é o bem? 
Quem o institui? 
O bem é sempre a mesma coisa ou muda? 
Ele é universal ou particular? 

Cada filósofo vai propor caminhos até a felicidade que podem se complementar ou não. 

Contudo, uma coisa é certa: não há receitas de felicidade prontas.

Se houvesse, já não seríamos todos felizes? 
Temos alegrais e tristezas na vida. 

Motivados por esta árdua questão que intriga filósofos, psicólogos, médicos, juristas, sociólogos, religiosos e pode-se dizer que intriga todos os que se deparam com o tema, os alunos da turma 306 da Escola Municipal de Ensino Médio Santa Rita de Cássia, em Gravataí, na Grande Porto Alegre, estão investigando o que seja a felicidade. 

O trabalho está sendo desenvolvido em conjunto com o professor Paulo Airton Hartmann. São três encontros para trabalhar um grande volume de informações que abaixo vêm condensadas. No final, os alunos vão se aventurar a compor uma definição própria de felicidade a partir dos elementos apresentados à reflexão. Assim eles terão passado pela problematização, pela argumentação e pela conceitualização, fixando elementos essenciais à aprendizagem filosófica. 


O resultado apresentado pelos alunos a respeito do tema que estamos conduzindo estará aqui no blog. Alguns pensamentos dos estudantes já estão no publicados como comentários no post O prazer de Epicuro para serem conferidos. 

EM BUSCA DA FELICIDADE

A felicidade pode ser compreendida como a razão última do viver e do filosofar. Como a vida e a filosofia são incertas e incompletas, assim também é a felicidade. (Charles Dalberto).

Só o homem pode ser feliz. Então, precisamos encontrar no ser humano as razões da felicidade. Não é tarefa fácil.

“Todos aspiramos à felicidade, mas, quanto a conhecer seu caminho, tateamos como nas trevas.” Sêneca

Precisamos de guias. Eles são o INSTINTO/EMOÇÃO e a RAZÃO e vão nos levar às dimensões ESTÉTICAS e ÉTICAS do homem.

ESTÉTICO é tudo o que se relaciona com o corpo. O homem é um ser material vivo, portanto, biológico; é um animal. O corpo é fonte de necessidades que produzem desejos; os desejos estimulam a vontade; a vontade leva à ação.

AMOR ERÓTICO: carência daquilo que faz feliz, desejo que procura satisfação, paixão.
AMOR FILIA: felicidade enquanto se está junto com a coisa amada, amor da amizade.

O homem age para buscar satisfação. Um parâmetro para saber o que procurar e o que rejeitar são as sensações de PRAZER e DOR.

“Chamamos ao prazer o princípio e fim do viver feliz. [...] Prazer e dor são duas afecções que encontramos em todos os animais; uma favorável e outra contrária: critério da escolha e da aversão.” Epicuro 

UTILITARISMO: cálculo dos benefícios e dos prejuízos das ações para ter o MÁXIMO DE PRAZER e o MÍNIMO DE DOR.

HEDONISMO: doutrina do prazer. O hedonismo se torna problema quando pelo prazer há excessos e prejuízos individuais e coletivos. Para evitar isto é preciso ser PRUDENTE. Prudência é VIRTUDE, qualidade positiva que dá PODER AO HOMEM ao dar a ele SABEDORIA.

“As virtudes acham-se, pois, por natureza, unidas à vida feliz e a vida feliz é inseparável das mesmas” Epicuro

O homem é mais do que um animal. Ele RACIOCINA. Não age só por desejo, por INSTINTO, por EMOÇÃO, mas reflete para agir do MELHOR MODO.

“Faze a seguinte interrogação a respeito de cada desejo: que me acontecerá se se realizar o que quer o meu desejo?”Epicuro

Na busca da sua satisfação, o homem pensa o que é o BEM e cria razões ÉTICAS para agir certo e ser feliz.

 “[...]a vida conforme ao intelecto[...] esta é a vida mais feliz.”Aristóteles

Porque para Aristóteles cada espécie tem um tipo de prazer. O tipo do prazer do homem é conforme sua finalidade, que é pensar e ser SÁBIO. A SABEDORIA É O PRAZER SEM FIM!

Pensando, o homem pode concluir que há um BEM MÁXIMO e que este BEM pode ser DEUS. Viver conforme o que MANDA este bem máximo produziria a felicidade. Amar a vida, aos outros, ser virtuoso, aplicar talentos pelo bem coletivo, cuidar de si e do mundo.

AMOR ÁGAPE: amor fraterno e incondicional, sem interesses, amor doado e divino, amor “santo”.
 
“[...] os homens bons são sempre felizes e infelizes os vis; e a felicidade dos primeiros (os bons) não difere da felicidade divina.” Zenão de Cítio

DEUS não pode ser demonstrado, apenas provado PELA RAZÃO e aceito pela FÉ. Mas isto NÃO ANULA A ÉTICA!

Epicuro é MATERIALISTA e tem FÉ que a vida é somente biológica. Mas isto também NÃO ANULA A ÉTICA!

A ÉTICA são REGRAS sociais gerais que permitem CONVIVER EM HARMONIA E EM PAZ, cada um PROCURANDO A SUA FELICIDADE com a LIBERDADE possível entre todos.

Buscar a FELICIDADE envolve refletir sobre QUEM SOU EU e quais são meus VALORES, DIREITOS E DEVERES:

- O que é o BEM e o que é o MAL, o que é CERTO e o que é ERRADO para mim e para MINHA COMUNIDADE, desde a minha casa ao mundo todo. O que necessito enquanto um ser ÉTICO?

- O que causa prazer e o que causa dor. O que preciso e POSSO TER enquanto um ser ESTÉTICO?

CONHEÇA-TE A TI MESMO! Sócrates, frase do Templo de Apolo em Delfos.

“A felicidade envolve um julgamento de aprovação sobre nossa vida, um julgamento de que a maioria de nossas necessidades está sendo satisfeita, e que vale a pena ter tais quereres.” Dwight Furrow



Vamos tentar definir melhor o que seja a FELICIDADE? 


imagens: twitter, pgfilo, louge.obviousmag, imgarcade, biografiasyvidas, asboasnovas, mensagenscomamor, Nilza Scotti

segunda-feira, 30 de março de 2015

Lógica & ontológica

A verdade é estática.
A verdade é móvel.

Antagonismo filosófico que vem de longe, de Heráclito e Parmênides, especialmente.

Ao longo da história da filosofia, grandes e importantes foram os que defenderam uma ou outra posição. Houve também aqueles pensadores que tentaram conciliar as duas dimensões, do devir e do permanecer, como Platão ou Aristóteles e todos os que seguiram seus passos na investigação estrutural do ser.

A verdade é que tudo transita?

Enunciar a verdade esbarra na impossibilidade de demostrá-la e se torna questão de linguagem.

A verdade é uma fala constantemente desmentida pela realidade.

Seria?

"Todos vós, ó sábios célebres, tendes servido o povo e a superstição do povo, e não a verdade." Assim falou Zaratustra, Parte II. 

Para você, qual a definição de verdade?

A verdade e o ser são o mundo concreto e impermanente ou há uma dimensão das essências onde tudo permanece, inclusive o espírito humano?

A lógica pode dar conta das questões ontológicas?

imagem: counter-currents

terça-feira, 17 de março de 2015

Moralismo à inglesa?

Na Inglaterra, três juízes foram expulsos da magistratura e outro pediu demissão do cargo para não ter o mesmo destino.

A razão da pena imposta aos magistrados foi por eles terem acessado conteúdo pornográfico durante e no local de trabalho, segundo o jornal espanhol El País.

Uma investigação apurou os fatos relacionados à conduta dos juízes e entendeu que, apesar de não ter sido ilegal e de nem mesmo a pornografia acessada ser ilegal, o comportamento deles foi considerado inaceitável para quem exerce a função.


Você pode pensar e chegar à conclusão de que a medida foi correta.



Afinal, eles são magistrados, devem honrar as atribuições públicas a eles confiadas e jamais traí-las por interesse próprio, nem macular a imagem representativa de probidade e lisura de suas figuras. Se for permitido acessar uma pornografia aqui e outra lá, quem sabe não se está sendo licencioso para com maiores corrupções dos costumes e das funções?

No entanto, pode ainda restar uma sensação de injustiça... De desequilíbrio entre a ação e a consequência.

Você sente?
Seu senso moral sugere isto?
Ou não?

Sinal da cultura brasileira, mais permissiva, influenciando o julgamento?

A conduta deles não pode ser aprovada.
Mas, deve ser reprovada com a perda das funções?

A Inglaterra é um país liberal, porém, seus costumes foram moldados com a rígida moral vitoriana que, entre outros hábitos, promoveu repressões duras à sexualidade no Reino Unido.

Num ambiente conservador e tradicional como a corte judiciária a repressão é característica que pode ainda se manifestar como traço ativo da cultura.

Vale lembrar que a moral se relaciona aos valores da conduta que dividem bem do mal e possuem caráter histórico, transitório e restrito, diferente da ética, que dela se abastece e de alguma forma se equivale na origem, mas que, enquanto ciência da moral, pretende estabelecer normatizações universais do comportamento.

Os juízes incorreram em uma falta ética que parece ter sido julgada sob parâmetros morais.
Ou mais do que isto...

Não se trata, devido ao aparente exagero, de moralismo?

Como você sabe, moralismo é entendido como excesso de moralidade quando se toma o valor moral em si mesmo como absoluto, sem levar em consideração nos juízos as relações entre a ação, as circunstâncias do contexto e a norma moral.


No moralismo, a moral é elevada à condição de lei sob a qual não se pode transigir. Está absoluta e acima do homem que a ela deve se curvar.


Será mesmo?
Não há que se relativizar e entender a humanidade da ação?

"[...] é um formalismo ou conformismo moral que tem pouca substância humana." ABBAGNANO, Nicola.

Ou como diz Nietzsche,

"Não existem fenômenos morais, mas interpretações morais dos fenômenos." (Além do Bem e do Mal, fr. 108)

Então, a interpretação da comissão a respeito da conduta dos juízes e a punição adotada são equivalentes com a gravidade do ato?

Lembre-se de que, se nos achamos mais flexíveis e tolerantes a questões como esta no cotidiano, no âmbito profissional a conduta deve ser observada e conformada à organização para a qual se trabalha.

Políticas de T.I. e códigos de ética podem vetar o acesso a certos sites e regrar outras atitudes punindo, até severamente, os infratores, mesmo que sejam colaboradores capacitados e estratégicos.

Depende a cultura, certo?
Errado?

O que você acha?

link: El País
imagens: público/internet, poiesispsicologia, itabunaurgente