Sua revista escolar de filosofia.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Onde vais, Senhor?

O Ser é expresso pela linguagem.

Sem a linguagem não há comunicação e, a Verdade sendo atingida, deixa de ser experiência única para ser compartilhada pela linguagem. A Filosofia se dedica à estudá-la.

Entre as formas de linguagem, a verbal e a não verbal, caracterizada por expressões e sinais que indicam algo e possuem sentido. O Verbo divino feito homem vem à humanidade revelar-se por meio da linguagem.

A possibilidade de comunicar é essencial para o homem.
Sem ela não haveria conhecimento. Portanto, não haveria Filosofia.

Pregação

Esta geração testemunha um acontecimento histórico.

Em sete séculos, um Papa renuncia.

É a segunda vez na história que isto ocorre. Bento XVI se diz cansado e incapaz de conduzir a Igreja, envolta em enormes desafios. Para Ratzinger, sua renúncia será positiva para a instituição. Porém, a entrega da cátedra de Pedro envia uma mensagem dúbia aos católicos.

Pastor máximo do catolicismo, o Papa deve ser o primeiro a estar submisso à Vontade Divina. Ele, portanto, é mais do que o chefe da Igreja, ele é o exemplo central para os cristãos. Ou não?

Lembremos a história de São Pedro.


Temendo ser morto e com isso ver a comunidade cristã de Roma despedaçada, Pedro decidiu abandonar a capital do império e se refugiar no Oriente Médio. Salvava sua vida e preservava o trabalho de fé que vinha desenvolvendo. Poupava a si e à Igreja nascente. Numa manhã do Século I ele e um companheiro deixavam a cidade pela Via Appia quando Pedro viu uma figura luminosa. O apóstolo reconheceu ser seu Messias e comovido perguntou: "Quo vadis, Domine? Onde vais, Senhor?" Jesus respondeu: "Vou a Roma ser novamente crucificado, já que me abandonas." Pedro se arrependeu, voltou à capital e depois foi também crucificado.





Mito ou não, a história ilustra o momento.
Jesus também foi íntegro e coerente, não abdicando de seu destino.

O Papa tem direito a se afastar da função e descansar.

Mas como representante mundano de Cristo e sucessor de Pedro e do legado de todos os que deram a vida pelo cristianismo, não caberia a ele se submeter à missão de fé por amor à Deus e ao homem e conduzir a Igreja neste tempo de grandes mudanças onde é ainda mais necessária uma figura que traga segurança e serenidade aos fiéis?

Joseph Ratzinger parece entender que não, que ele não é mais esta pessoa.

Em breve haverá o conclave e especula-se que o próximo Papa seja mais carismático e comunicativo para contornar o momento turbulento e de encolhimento da Igreja. Bento XVI, com 85 anos, é o primeiro Papa a ter conta no twitter. Procurou utilizar da ferramenta midiática para se aproximar do povo, mas não a usou muito. Sua renúncia não foi postada no microblog. Mas uma mensagem do dia 10 deste mês sugere a incoerência entre pregação e ação.

Dobbiamo avere fiducia nella potenza della misericordia di Dio. Noi siamo tutti peccatori, ma la Sua grazia ci trasforma e ci rende nuovi.

"Devemos ter fé no poder da misericórdia de Deus. Nós somos todos pecadores, mas a Sua graça nos transforma e nos renova." 



O próximo Papa precisará dialogar bem internamente para acomodar dissidências na Santa Sé e externamente para expandir o catolicismo e renovar a imagem da religião.


Para quem não é católico, esta questão se torna irrelevante.



No entanto, religião e ética estão próximas e isto deve importar.

Então, que papel as religiões ocupam ou podem ainda ocupar na formação moral e ética das pessoas? 
A atitude de Bento XVI induz a se pensar em si em primeiro lugar ou como afirma a Igreja, é um gesto altruísta, pelo bem da instituição e seus adeptos?
Por que religiões caem em descrédito e são abandonadas?
A perda de fiéis tem relação com a comunicação das religiões? Em que sentindo? 
É possível conviver apenas sob valores morais e éticos leigos, sem a necessidade da religião ou a moral implica em reconhecimento de alguma forma de divindade? 

fontes: Folha de São Paulo, twitter, G1
fotos: elliottback, reporterdecristo, protestantismo.iedcg, G1

quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Fé e Filosofia

A tragédia de Santa Maria vai ficar para sempre na memória de quem se emocionou com o episódio.


Dia 27 de janeiro de 2013.






Um dia de dor imensurável e perpétua para parentes e amigos dos mortos e feridos.


Para todos nós que impressionados pelo fato absurdo não nos conformamos.

Na segunda-feira, dia 28, expressamos nossa opinião sobre o ocorrido pelo Facebook escrevendo assim:

O Brasil é um país em condicional. Se houvesse coletes para todos na embarcação, não haveria tantos afogados. Se a empresa tivesse feito a manutenção do ônibus, os freios não teriam falhado. Se a transportadora tivesse respeitado o limite de carga, ela não teria tombado sobre o automóvel. Se não fosse a poupança burra de dinheiro público, a rodovia teria acostamento. Se houvesse saídas de emergência, se extintores funcionassem, se não houvesse excesso de pessoas, se existisse melhor comunicação entre os seguranças, se não fosse a insensatez de usar um sinalizador em local fechado, se houvesse fiscalização constante, planejamento, respeito às regras de segurança, menos ganância, 236 pessoas estariam vivas agora. Morrer, apesar de improvável, é fatalidade. Mas não foi um raio descontrolado que caiu. A tragédia gaúcha foi efeito de diversas causas estúpidas combinadas. Poderia ter sido evitada. Condicional. Mas ela é superlativa, maior do que o entendimento e por isso provoca perplexidade. Não permite sobre ela a vaidade de nenhum jornalista. Não permite competir por audiência. Não permite indignações teatrais. Não permite comoções falsas. Não permite explicações incompletas. Não permite irresponsabilidades. O Brasil é um país em condicional. Estamos todos, TODOS presos nesta mesma circunstância que perpetuamos com esta indolência maliciosa brasileira. Como o primeiro pecado mancha o homem, a tragédia de Santa Maria borra de triteza, culpa e vergonha a alma de cada um de nós que ainda respiramos deste mesmo ar.

Hoje já são 238 mortos.

A mídia nacional fala insistentemente. Até certo ponto é necessário para manter o assunto em pauta.

Mas só isso? 
Não há necessidade também de mercado e com isso a exploração do assunto? 
Como deixar de falar? 
Por onde abordar? 
Todas as abordagens atendem ao interesse público?



As investigações seguem, culpados serão apontados. Mas todos temos um pouco de resposabilidade porque relaxamos, porque somos licenciosos com a fraude, com a ineficiência, com as pequenas corrupções, que crescem.





O jornal britânico Financial Times publicou no dia 28/01 um artigo com o título "Idiotice e Progresso", fazendo severas críticas ao país e apontando o quanto a tragédia expôs a carência geral de preparo e estruturas. Citou ainda, de modo ácido, que é comum no Brasil jovens deixarem os bares sem pagar a conta, sugerindo que este desvio de comportamento, esta desonestidade teria induzido os seguranças a serem mais rígidos ao não permitir a saída da boate Kiss no momento inicial da correria fatal.

Muito precisamos corrigir sobre nós mesmos enquanto o ferimento cicatriza.

E a lenta e necessária catarse há de suavizar a sensação sufocante de finitude. Neste processo, a religião tem sido um dos elementos de amparo para suportar a brutal realidade e tentar entendê-la.


No sábado 02/02 foi celebrada uma missa de sétimo dia na Basílica Nossa Senhora de Medianeira, em Santa Maria. Segundo a polícia militar, 3 mil pessoas estiveram presentes.




Orações e outros comportamentos religiosos demostraram a fé da pessoas desde o início da crise.





A religião é convicção íntima e é também cultura.
Agrega comunidades num mesmo fim, consola, conforta aqueles que acreditam em Deus e no espírito imortal conforme suas doutrinas institucionalizadas ou interpretam a religiosidade à maneira privada.

O que é a fé religiosa e como ela se relaciona com a Filosofia?  
Filosofia e fé são sempre compatíveis?

fonte: G1, Financial Times
fotos: G1, ZH, uol, em.com, veja