Sua revista escolar de filosofia.
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domingo, 23 de maio de 2021

So bad, Kant! Enem, Eu #2

Olá, filósofos! 

Na moral, vamos a mais uma questão de Enem?

Essa é uma pergunta que para responder, precisa conhecer um pouco melhor os fundamentos da filosofia do autor. 

Uma questão sobre filosofia prática, que é aquela que se dedica às reflexões sobre os costumes, quer dizer, a moral e a ética, portanto, os valores, as escolhas, a conduta. 

Vamos a um breve resumo tópico sobre a moral kantiana. 

Kant é demais, gente! 

Olha o look, so bad...

Vamos lá! 

Em primeiro lugar, vamos destacar o que Kant chama de "imperativo categórico". Ele é o que podemos chamar de um "fórmula" para os juízos morais. Então, ele não contém o conteúdo, ele é a forma racional para delimitar o que será moralmente válido. O que o imperativo categórico kantiano enuncia é que ao julgar a ação, o sujeito, o ser humano, racional, consciente, tenha em mente que a sua ação possa se tornar uma lei universal. 

Quer dizer o seguinte, se aquela ação que você pretende executar pode ser copiada por todas as pessoas e assim produza entre todos efeitos que não firam a dignidade de ninguém, não tragam prejuízos, não estimulem a trapaça, a mentira, a desonestidade, a discórdia, enfim, não faça de ninguém o meio para obter vantagens pessoais. Por que isso? Porque para Kant, só será moralmente válida a ação que não tenha por objetivo interesses pessoais, mas sim o respeito absoluto ao dever de agir com perfeição buscando o resultado de excelência para todos. Ações que têm aparência de serem morais mas na essência atendem a interesses particulares e não à universalidade do dever são aquelas que Kant classifica como imperativos hipotéticos. 

Portanto, se a ação de alguém puder ser copiada por todos e produzir bem-estar para todos, essa ação é a preferida, mesmo que haja sacrifício de quem a toma. A ação moral não é para produzir satisfação pessoal e sim para garantir na prática que o dever foi cumprido. E qual é o dever? Aquilo que a razão mostra como sendo o modo excelente de respeitar o que é ético. O que é ético é o que vale para todos e não apenas para um ou alguns já que a ética é pretensamente universal como conjunto de normas para a boa ação. Uma sociedade kantianamente ética seria aquela em que todos podem confiar em todos porque todos agem com o objetivo de respeitar o dever ético e não para obter satisfação pessoal. Nessa sociedade a paz estaria garantida, o engano não existiria, bem como qualquer vício do caráter produzindo danos. 

Entendido isso, vamos à questão.

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(Enem/2017) Uma pessoa vê-se forçada pela necessidade a pedir dinheiro emprestado. Sabe muito bem que não poderá pagar, mas vê também que não lhe emprestarão nada se não prometer firmemente pagar em prazo determinado. Sente a tentação de fazer a promessa; mas tem ainda consciência bastante para perguntar a si mesma: não é proibido e contrário ao dever livrar-se de apuros desta maneira? Admitindo que se decida a fazê-lo, a sua máxima de ação seria: quando julgo estar em apuros de dinheiro, vou pedi-lo emprestado e prometo pagá-lo, embora saiba que tal nunca sucederá.

KANT, l. Fundamentação da metafísica dos costumes. São Paulo. Abril Cultural, 1980

De acordo com a moral kantiana, a “falsa promessa de pagamento” representada no texto

a) Assegura que a ação seja aceita por todos a partir livre discussão participativa.

b) Garante que os efeitos das ações não destruam a possibilidade da vida futura na terra.

c) Opõe-se ao princípio de que toda ação do homem possa valer como norma universal.

d) Materializa-se no entendimento de que os fins da ação humana podem justificar os meios.

e) Permite que a ação individual produza a mais ampla felicidade para as pessoas envolvidas. 

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Com a clara noção do que Kant exige para que uma ação seja moralmente válida e que seja assim uma regra ética, fica mais fácil acertar a alternativa. 

Não pode ser a "a" porque para Kant a validade de uma regra ética não está no consenso e sim no respeito ao dever acima de qualquer discussão ou deliberação comunitária. Se a regra ética deve ser universal, vale em qualquer tempo e espaço, logo, para todos os seres humanos independentemente do meio em que vivem. Isso porque o parâmetro para julgar é a tal fórmula "age de modo que tua ação possa se tornar uma lei universal" e não age conforme a maioria decidir. Essa reflexão é individual e não coletiva apesar de dever ser feita por todos. 

Não pode ser a "b" porque para Kant as regras éticas não são determinadas pelas consequências da ação como quem decide agir por causa do efeito produzido. As ações são tomadas a partir da intenção de respeitar o dever ético de agir querendo garantir a universalidade dessa ação e não porque se vai ter o resultado favorável à satisfação pretendida. Uma ação que garanta a vida futura na Terra, para ser moralmente válida, teria que garantir a vida de todos e isso exclui atitudes que sacrificariam uns em benefício de outros, por exemplo. Então, esse efeito proposto para a alternativa não é suficiente para validar a ação nem explicar porque ela seria recomendável à manutenção da vida. Mas, o que invalida a resposta no princípio é considerar a consequência como critério de validação ética, para Kant não é assim.  

Não pode ser a "d" porque jamais os resultados são justificativas para os meios de chegar até eles, segundo Kant. Esse pragmatismo ético está mais relacionado à filosofia maquiavélica. Para chegar a um resultado justo nunca se deve usar meios injustos, pois isso compromete a ação naquilo que Kant defende como critério de validação ética. Para Kant a intenção tem que ser justa e os meios precisam ser justos. Assim o resultado será também justo: agir de forma que a ação possa ser uma lei universal. Antes de agir, sempre pensar nessa fórmula para verificar se a intenção é justa, se ao colocá-la em prática ela será justa e produzirá exatamente justiça sempre que alguém fizer o mesmo.  

Não pode ser a alternativa "e" porque Kant não foca sua ética na felicidade produzida pela ação. A ação ética é aquela que garante o cumprimento do dever, como já foi dito. Isso, às vezes, exige do autor o sacrifício de seus interesses pelo bem maior que é manter o compromisso ético. A maior quantidade de felicidade produzida aos envolvidos faz referência ao cálculo utilitário ou seja, à ética utilitarista. Kant é deontológico, sua ética é a dos deveres. Logo, ele não se importa com a quantidade de felicidade para o maior grupo possível de pessoas, mas define que será ético o que deve ser feito a qualquer preço, pois a ação ética representa o bem máximo que a inteligência lógica humana pode conceber livremente e adotar livremente como regra de conduta, o que faz da ética legítima algo praticamente santo. 

Resta-nos a alternativa "c ", de certa, que afirma o sentido do imperativo categórico, que é agir para criar leis universais de conduta com a própria reflexão. No criticismo kantiano, a razão humana produz suas próprias leis e cada ser racional tem em si a condição de chegar por si mesmo às respostas do que é ético ou não. Mentir para ter vantagem, se for uma ação copiada por todos, tem como consequência uma sociedade onde ninguém mais confia e ninguém, pois a desonestidade se universaliza. Desse modo, a própria regra se autoanula uma vez que ninguém a poderá colocar em prática já que todos saberão com antecedência que quando alguém estiver pedindo dinheiro emprestado e prometendo devolver, não vai ser cumprido, então ninguém vai emprestar a ninguém. Mentir por interesse fere também o princípio kantiano de nunca usar outros seres humanos como meio para obter resultados, mas sempre com fins em si mesmos, quer dizer, todas as pessoas possuem importância máxima porque elas são humanas, são livres para pensar e agir e devem ser tratadas com a máxima dignidade por isso e não serem enganadas de nenhum modo ou sofrerem para que alguém ou um grupo tenha êxitos. 

Firmeza?! 

Essa foi mais longa, mas bem legal! 

Claro que acompanhando desde o início a explicação, como disse, ficaria mais evidente a resposta. Mas, já aproveitamos para expor alguns pontos sobre a ética kantiana que podem ser úteis a todos. 



Certo que com toda essa explicação você não errou, Enem, Eu!! 


Imagem: prosadas09

segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Você tiraria a foto?

Olá, pessoal!

Tudo certo com vocês?

Viram que atitude a da María?! 

Não conhece a história? Clique no link acima para ver e depois continue lendo essa postagem que ela vai fazer mais sentido. 

Como vocês leram, a atitude dela é uma daquelas que fazem a gente questionar quais o limites da nossa liberdade de ação, da nossa atividade profissional, da nossa conduta pessoal...

Com isso eu gostaria de perguntar: se você tivesse a chance de tirar um foto histórica, mas para isso, não pudesse interferir na cena, você tiraria a foto?
Clube do Bang Bang

Pense bem!

Claro que alguns devem ter se justificado: bom, eu tiraria, já que se trata de uma imagem importante.

Mas, e se na cena uma pessoa estivesse correndo risco de vida?

Você tiraria a foto ou salvaria a pessoa?

Se salvar a pessoa, perde o registro.
Se registrar, perde a pessoa.

E se você achar que a pessoa fosse ser perdida de qualquer maneira?

Valeria a foto histórica?

Bom, esse seria um dilema e tanto para nós decidirmos qual a melhor ação e com isso debater ética se ele fosse apenas um caso hipotético.

Porém, ela se refere a um caso real.

Envolveu um fotojornalista prestigiado e deu a ele um dos maiores prêmios do jornalismo, o Pulitzer.
Foto de Kevin Carter 

O nome dele é Kevin Carter.

Portanto, vou deixar vocês conhecerem a história dele, que envolve cobertura de guerra, problemas emocionais e um intenso debate em torno da atividade jornalística  e de repórteres em zonas de conflitos armados. (clique aqui para ler sobre a foto e Kevin).

A história de Carter é retratada no cinema.

Se você quer ver um bom filme, procure por Repórteres de Guerra, The Bang Bang Club, de 2010.

Desse modo, você pode sentir um pouco mais daquilo que está envolvido quando temos que lidar com nossos valores e ainda assim tomar grandes decisões que colocam à prova nosso senso moral e nossa consciência moral.

Depois, leiam o texto sobre senso moral e consciência moral ( clique aqui) para ver se você entende melhor a diferença entre os dois. Um está ligado aos sentimentos diante de situações boas ou más e o outro tem relação com as decisões boas ou más tomadas e justificadas por cada pessoa. 

Atualizada em 24/03/22

quarta-feira, 6 de junho de 2018

Transvaloração dos valores: o além do homem

Ao encerrar nosso processo de análise das origens da moral estudando Nietzsche, vamos ver que o filósofo propõe a transvaloração dos valores, quer dizer, uma reinvenção do significado daquilo que até hoje foi a oposição entre “bem” e “mal”, uma vez que eles não são absolutos e sim relativos, podendo ser recriados pela humanidade. Essa transvaloração pretende restabelecer o equilíbrio de princípios constitutivos da realidade e do homem.

Dois princípios : Um deles representa a ordem, o saber, o intelecto, a razão e está ligado ao deus grego Apolo, por isso se chama “apolíneo”; o outro representa a desordem, a emotividade, a sensualidade, o corpo, irracionalidade e é expressado pelo deus grego Dionísio, sendo o poder “dionisíaco”. O equilíbrio está no balanço entre mente e corpo, os dois são o próprio homem, ser desse mundo físico regido pela dialética ordem-desordem.

A filosofia de Sócrates e Platão (séc. V a.c.), no entendimento de Nietzsche, rompeu o equilíbrio dessas forças afirmando que o homem deve privilegiar a razão (apolíneo), pois ela é sua própria alma, imortal e de outro mundo, o mundo intelectual. Isso tornou o ser humano mais “espiritual” do que ele realmente é, negando a vida material e natural (dionisíaco) em detrimento do intelecto como essência ou alma humana. O “bem” virou produto do raciocínio, atividade própria do intelecto/alma e depois o cristianismo reafirmou sua origem em Deus, “razão” transcendente criadora e absoluta. Assim, o “bem” e outros valores se tornaram absolutos por causa de sua fonte.  

Criaram-se duas morais: a moral dos fracos ou escravos, que afirma que o “bem” está na humildade, na piedade, na obediência, ela é absoluta e provém de Deus; a moral dos fortes ou senhores, histórica e humana, que diz que o “bem” está em viver os prazeres, o poder, a alegria, a criatividade, a vontade.

A moral dos fracos venceu essa disputa histórica, invertendo os valores. O “bom” é aquele que obedece e aquele que manda agora é o “mau”, e o desfrute do “bem” está depois deste mundo. Nietzsche denuncia essa inversão como uma farsa, como niilismo - o idealismo-espiritualismo é o nada, é ausência do ser - uma vingança dos ressentidos desse mundo, incapazes de mudar a realidade e que apelam a Deus, força dominadora em outro mundo transcendente, espiritual e improvável, como o senhor que recompensa o “bom”, o fraco e humilde e pune do “mau”, o forte, o orgulhoso, o poderoso, que só pode ser assim por não depender de ninguém a não ser de si mesmo e, por isso, é livre.  

Nietzsche propõe a restituição do equilíbrio dos valores por meio da transvaloração.
Seria criar uma nova moral fundada no sentido da moral do senhor, mas para todas as pessoas que a quisessem assumir. Ela seria o início da renovação do ser humano e a consolidação da sua autonomia por meio da libertação do jogo de oposição entre “bem” e “mal” como são conhecidos hoje, resultado da luta histórica entre fortes e fracos. Essa moral viria com algumas atitudes:

- um sim à vida: poder de afirmação corajosa da vida com alegria, com amor, existir realizando todas as potencialidades pessoais agora, sem esperar a felicidade em outro mundo ou outra vida além deste;

- criatividade: poder de criar valor onde ele não há, beleza onde ela não existe, inovar os costumes sempre para melhorar a vida e aumentar a liberdade, criar novos significados para tudo;

- liberdade: poder realizar-se sem a necessidade da permissão social ou de qualquer autoridade, ser livre para viver a própria vida, sua racionalidade e emotividade como se quer sem se submeter aos condicionamentos da cultura ou moralismos, questionar tudo e buscar sempre a sua própria verdade.


Deste processo surgiria um novo tipo humano, mais livre, mais altivo, com mais autoestima: Nietzsche o chamou de “além do homem” ou o “super-homem”, que vive o poder de sua vontade ou sua vontade de poder.

1 - Do que você se libertaria para se tornar mais “senhor” de sua própria vida?

2 - Isso daria mais alegria a você agora, nessa vida? Por quê?

3 – Que relação há entre o conceito de autonomia, já estudado, e a filosofia de Nietzsche? 

4 - Na primeira imagem de Nietzsche há uma citação do livro Aurora. Como você interpreta o texto que está no foto? 

imagens: Quora, internet  

quinta-feira, 5 de abril de 2018

Desenvolvimento humano: fisiologia e ética - terceiros anos

Salve, pessoal! 

Teorias sobre a origem, a genealogia da moral, remontam aos primórdios da cultura. A mitologia como religião já propunha encontrar os traços da moralidade nas fontes divinas instituidoras do ordenamento cósmico e do bem como lei natural. Depois, filosofias desenvolveram suas concepções transitando entre a naturalidade e a historicidade dos valores morais. 

Todo esse conhecimento orienta as discussões éticas hoje e novas abordagens ao problema surgiram e surgem com a ciência incorporando elementos que enriquecem o conhecimento do homem sobre si mesmo e sobre o meio. 

Vamos aprofundar esse debate?

O texto abaixo sugere que a moralidade e a ética tenham sua assimilação associada à fisiologia humana. 

Noções de bem e mal, de certo e errado e suas práticas dependem do amadurecimento neurológico. 

Confira! 
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Senso moral, segundo Yves de La Taille, é a capacidade de conceber os deveres morais e ao mesmo tempo sentir que eles são obrigatórios. É uma atitude na qual os sentimentos e a vontade se unem à razão. Trata-se, portanto, de querer fazer o que deve ser feito.

O senso moral, via de regra, não é o mesmo na criança, no adolescente, no adulto ou na pessoa mais amadurecida. Lawrence Kohlberg (1927-1987) foi um cientista que se dedicou a pesquisar  essas diferenças, e seus estudos sobre os estágios do desenvolvimento do senso moral nos ajudam a compreendê-las.

O senso moral na pessoa adulta se estrutura em torno do respeito às leis que regulam as instituições sociais. O adulto entende que essas regras são convencionadas por um grupo, ou pelo conjunto da sociedade, com o objetivo de garantir a ordem social e os direitos e os deveres de todos os cidadãos. O correto, para um adulto, é cumprir as regras com as quais passou a concordar no momento em que assumiu seus papeis como estudante ou profissional, membro dos diversos grupos de que participa, e cidadão. A motivação de agir certo, para um adulto, provém do fato e ele fazer parte das instituições e de ele querer manter o bom funcionamento delas. Isso lhe traz autoestima e autorrespeito, bem como o respeito dos outros.

Já numa criança, o senso moral não segue as convenções sociais, que ela ainda nem distingue com nitidez, mas imita o comportamento dos adultos e busca as vantagens imediatas que ela pode desfrutar em cada situação. Até uns sete anos, mais ou menos, a criança segue as regras de casa e da escola e as obedece para evitar castigos e para receber os louvores e os prêmios esperados. Típico dessa idade é fazer as coisas "proibidas" quando a autoridade não está presente, pois então não haverá consequências materiais diretas.

Esse exemplo mostra o que Piaget afirmava sobre a heteronomia dessa idade. Para a criança as regras provêm de outras pessoas e é por respeito a essas pessoas que são obedecidas. Ao passo que para o adulto vigora a autonomia, quer dizer, as leis têm valor a partir da sua própria decisão consciente.

A criança pequena ainda não compreende a função geral das regras, e por isso nem pensa em fazer algo fora das regras ou, se um adulto não estiver perto, fora dos seus desejos e necessidades imediatas. Ela obedece porque teme o poder dos adultos e sabe que deve seguir o que eles ensinaram. A partir dos seis ou sete anos a criança amplia suas relações sociais e seu espaço de iniciativas. Além de continuar a seguir as normas, passa a considerar correto satisfazer o seus interesses, desde que não agrida os interesses dos outros. Cresce na criança um senso de trocas equitativas e também de reciprocidade: é bom ajudar aqueles que me ajudam, ou podem me ajudar. Esse é o estágio típico do "olho por olho, dente por dente". A criança vai atrás de vantagens práticas e materiais, mas também toma consciência da necessidade de equilibrar as vantagens com seus colegas.

Entre o universo moral da criança e do adulto situa-se o da adolescência, com suas típicas oscilações. O advento do raciocínio abstrato permite que o jovem comece a entender as razões gerais das regras e passe a considerar as expectativas da família, do grupo ou da sociedade como algo valioso por si mesmo, ainda que demande algum sacrifício pessoal. Os valores de autoetima e lealdade se tornam mais importantes. O jovem busca então manter e justificar sua posição nos grupos que frequenta, sentindo vontade de se identificar e solidarizar com as pessoas do grupo.

O adolescente continua a avaliar que o bom comportamento é aquele que recebe a aprovação dos outros, mas já amplia a duração, as formas e o significado dessa aprovação. Ele ainda forma imagens estereotipadas do que seja o comportamento da maioria, o comportamento "natural". É frequente ele responder, ao ser chamado à atenção: "mas os outros estão fazendo a mesma coisa". Isso ainda é heteronomia, é ir pelos outros. Mas o adolescente também começa a ser capaz de reconhecer a intenção dos agentes, sabendo aliar certas ações pelos princípios éticos e não apenas pelos resultados práticos. A "regra de ouro" - não devo fazer o que não quero que façam a mim - começa a fazer sentido, pois o adolescente é capaz de empatia e de juízo autônomo.

À medida que avança para a formação de um senso moral adulto, o adolescente compreende que é responsável por cumprir suas obrigações em cada grupo do qual faz parte, compreende que os demais integrantes desses grupos contam com sua ação, e sente sua autoestima crescer, pois se identifica como um membro livre e confiável que contribui para a boa convivência entre as pessoas.


ADAS, Sérgio. Propostas de trabalho e ensino de filosofia. p. 72.

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Muito bem! 

Agora volte ao AVA Sala de Aula que tem uma tarefa para você.

Até mais!! 

Imagem: Roberto Araújo Correia: o ser ético
Editado em 10/09/2021

domingo, 20 de novembro de 2016

Tempo ou dinheiro?

Questão dourada da filosofia, ser feliz pode ser apontado como meta de vida, para todos.

Por isto, voltamos a falar da felicidade. 

Contudo, encontrar o significado para ela talvez seja uma das mais escorregadias tarefas.

"Todos aspiramos à felicidade, mas quanto a conhecer seu caminho, tateamos como nas trevas.” É o que nos sugere Sêneca. 

E neste tatear, podemos imaginar que a felicidade é possuir tudo o que se quer. No entanto, não se pode ter tudo. E se fosse possível ter, somente com a condição de não querer mais nada. Do contrário, continuar a desejar algo é querer possuir o que ainda não se tem e que trará a felicidade. É confessar-se infeliz. 

O tédio da conquista resultante da perda do interesse por já possuir o que se queria leva ao novo desejo e à perseguição à felicidade.

Como viver?

A filosofia aposta na sabedoria, no saber viver e isto implica conhecimento e posse da verdade.

Como diz Aristóteles, engana-se quem acredita que a felicidade seja diversão. Ela vem com atitudes virtuosas e isto para o homem é agir esforçadamente com a razão acima de tudo. Tem a ver com viver com consciência uma vida que se aprova, uma vida com sentido e alegria por ela ser como é quando aquilo que se faz, na maior parte do tempo, produz bem-estar autêntico, jamais prejuízos como os decorrentes dos vícios, desvios ou inconsequências. Se não fosse assim, venceria o cinismo.

Tem a ver com fazer o que se gosta com aprovação ética e gostar do que se está fazendo, desejando e possuindo numa relação de apreço ou amizade (filia) pela vida.

Amar o que se tem ou o que se é a cada instante, sem nada esperar além do que há e que pode não vir a ser, pois o que há é o presente que satisfaz, o real que completa, a verdade que confirma a verdade daquilo que se vive. 

 


Uma reportagem do jornal El País (clique no link para ler) se propõe a analisar a felicidade sob a seguinte questão: mais dinheiro ou mais tempo faz feliz?

E o que mais?


Uma leitura fácil e agradável para entender o percurso filosófico sobre a felicidade é o livro de André Comte-Sponville, A felicidade, desesperadamente. 




Quer ser feliz?
Desesperadamente?

imagens: Filosofósforos, Google 

sábado, 15 de outubro de 2016

Consciência, responsabilidade e respeito: lições práticas para a vida. (TRABALHO DE ENSINO RELIGIOSO APENAS PARA TERCEIROS ANOS)



Nossa jornada pelo Ensino Religioso nos permitiu uma visão teórica ampla a respeito do fenômeno da religião. 

Percebemos suas características sociológicas, antropológicas, históricas, étnicas, psicológicas, médicas, legais e filosóficas.

Isto nos fez ver as religiões de cima, fora de qualquer discussão sobre particularidades doutrinárias, para encontrar um núcleo comum na espiritualidade: a relação homem/sagrado.

Ao completar nosso percurso, cada um poderá olhar para a sua própria religião e para as outras com mais conhecimento e com a possibilidade de encontrar razões mais fortes para a própria fé ou mesmo para o seu ceticismo, porém, com respeito a todas as crenças.  Esta é uma postura ética que demonstra educação e compreensão de um princípio maior que deve unir todas as pessoas: o amor com igualdade.

Vejamos uma passagem de Immanuel Kant:


“Dever e obrigação são as denominações exclusivas que devemos dar à nossa relação com a moral.” (Crítica da Razão Prática)

O filósofo alemão nos diz que o único dever que temos é respeitar a lei moral.

A lei moral é a fazer somente aquilo que poderia se transformar em um mandamento para todas as pessoas em todos os tempos.

E quem nos diz qual é a lei moral?

Nossa própria razão.
 

Ela nos diz que o ideal maior de bondade é fazer o bem por fazer, sem interesse. Fazer o bem por amar o bem e nada mais.


É pensar qual o melhor meio de realizar no mundo os ideais de bondade que gostaríamos tanto de viver em toda a sua pureza.




As religiões nos ajudam a entender o bem e nos orientam no que fazer, cada uma a seu modo.  Para entendê-las, às vezes é preciso refletir e encontrar lógica nas práticas e mandamentos.

“Todas as doutrinas bíblicas e religiosas que conflitem com a razão devem ser interpretadas alegoricamente, como maneiras de expressar noções morais que ganham vivacidade, e não validade em sua formulação religiosa.” (Roger Scruton, Kant)

Em outras palavras: ou aceitamos tudo o que as religiões dizem sem refletir, ou buscamos compreender a profunda sabedoria das religiões pensado melhor naquilo que elas afirmam.

É a diferença entre a postura fanática e a fé crítica.

Pensar com critérios expande a consciência e reforça a responsabilidade, onde cada um cuida melhor de si mesmo e dos outros com solidariedade.

TRABALHO

Após ter lido a introdução de apoio, reflita e escreva um texto pessoal onde você vai responder as seguintes questões:

- o que você acha dos atritos motivados por diferenças religiosas? 


- existe algo acima das diferenças religiosas que deve ser colocado em primeiro lugar? Isto poderia ser ensinado? De que maneira?


- as aulas de Ensino Religioso contribuíram para você aprofundar sua opinião a respeito da cultura religiosa e seus valores básicos? Em que sentido?

SEU TEXTO DEVE SER POSTADO AQUI NO BLOG COMO COMENTÁRIO A ESTA POSTAGEM (ABAIXO DO TEXTO, NA CAIXA DE TEXTO “COMENTÁRIOS”) ATÉ  17/11.

INSTRUÇÕES PARA PUBLICAÇÃO:

- VISUALIZE A BARRA COM FUNDO BRANCO AO FINAL DA POSTAGEM;

- NELA ESTÁ ESCRITO: “POSTADO POR CHARLES DALBERTO ÀS xx:xx (HORA)” (2, 3, 4, ETC.) COMENTÁRIO(S):” (COR LARANJA ESCURO)

- CLIQUE EM CIMA DA PALAVRA “COMENTÁRIO”

- VAI ABRIR UMA CAIXA DE TEXTO;

- COLOQUE SEU COMENTÁRIO NELA COM NOME COMPLETO E TURMA;

- CLIQUE EM “PUBLICAR” (BOTÃO AZUL);

- PRONTO, SUA POSTAGEM SERÁ ANALISADA E VALIDADA.

Bom trabalho!

Imagems: pinterest, frases do bem, habeas mentem

sábado, 18 de junho de 2016

Moral total


Pode haver uma moral universal


A filosofia cristã propõe uma ética universal baseada no dever respeitoso ao princípio moral de valor absoluto do ego paralelo à alteridade uma vez que o divino reside no sujeito: amor a Deus e ao próximo como a si mesmo.


A história mostra os tropeços desta moral deontológica porque com ela compete o consequencialismo utilitário que visa o maior bem à maioria e neste ponto é preciso considerar o que é o bem, variável conforme os interesses pessoais e sociais em jogo.

 
A ética cristã transfere deste mundo para outro a possibilidade de felicidade e conduz ao exaustivo trabalho em função da alma, o que afasta os sujeito da ação política e econômica, problema que o luteranismo procurou equacionar. Depois Weber também vai propor uma moral pessoal e outra social que vai chamar de éticas da convicção e da responsabilidade. A primeira relacionada à noção íntima de bem e mal e a segunda às consequências práticas da ação, o que considera fins e meios, não somente princípios. 

Com Kant ressurge a ideia de uma ética universal deontológica que incorpora o trabalho e a política sem a espera contemplativa pela vinda do governo divino no fim da História ou a ascensão celeste da alma enquanto outros decidem o que fazer das questões existenciais mundanas e da administração da justiça.

Diante da diversidade dos interesses humanos e suas visões de mundo, seria possível uma moral universal, total, baseada no utilitarismo, ou seja, em uma decisão racional, portanto calculada, de qual o bem ideal a ser realizado?


O amor, mesmo se metafísico e revelado, pode ser a essência deste tipo de moral humanista? 


Seria possível tornar o amor um conceito unívoco, fundamento do bem moral, eliminando ambiguidades que o torne significante de um significado único? 

 

O termo amar é relativo. Ou não?
 

"O fim da moralidade é a manutenção da reta ordem, pois esta se identifica à bondade objetiva [...] A força motriz para a realização da ordem moral é o amor, que remata na caridade. [...] O amor é a própria essência do homem [...] amar sinceramente a outrem significa amá-lo como a nós mesmos, o que só é possível num plano de igualdade" BOEHNER e GILSON, Santo Agostinho. Filosofia Cristã, Petrópolis: Vozes, 1991. p. 187, 188 e 189. 

Colocar o amor na posição de critério objetivo das escolhas da vontade eliminaria a relatividade dos interesses e permitiria compreendê-lo em sua função civilizatória histórica mesmo em relação à consequência da sua adoção e não apenas ao seu princípio normativo como manifestação ontológica.  

A passividade de Cristo diante da própria execução, exemplo de sacrifício por dever submisso ao poder divino de absoluta justiça com amor e graça pode ser visto sob a ótica utilitarista da morte de um para a salvação de todos?  

(acesse o hiperlink no início e leia mais sobre o tema na revista Filosofía Hoy)

link: Filosofía Hoy
imagem: Filosofía Hoy,  atestemunhafiel