Sua revista escolar de filosofia.
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quarta-feira, 10 de março de 2021

Por que as coisas existem?

SEGUNDOS ANOS - METAFÍSICA 

Salve, pessoal! 

Uma música de uma banda canadense chamada Rush tem versos assim: 

"Por que estamos aqui?

Porque estamos aqui. 

Rolam os dados." 

A canção questiona a pretensão humana de encontrar respostas para a existência de tudo, para a realidade e pretende, também ela, propor que a realidade é o que ela é, sem necessidade de uma causa única. Tudo é resultado de combinações que não possuem necessariamente uma lógica para acontecer.

São questionamentos a respeito do destino, da sorte e do sentido da vida humana em meio aos fatos.  

Bom, mas por que estamos aqui?

Sacou a pergunta? 

Estamos aqui porque estamos aqui, simplesmente, ou há um propósito?

No fundo, as respostas para essa questão são muitas e todas elas competem por fazerem sentido para nós. Em aula nós falamos sobre cosmovisões que encontramos presentes nos saberes religiosos, filosóficos e científicos, cada um com suas linguagens, conceitos e representações. Essas cosmovisões são formas de compreender o todo à nossa volta, a totalidade das coisas que existem, do universo que também chamamos cosmos. O cosmos é de fato a própria ordem em que tudo está nesse momento. E onde tem ordem, tem lei, as leis da natureza. Sem elas, o cosmos permaneceria como está ou tudo se tornaria um caos? 

Quem fez essas leis? 

Quem botou ordem no universo? 

Quem originou tudo? 

A teoria científica contemporânea sobre o início do universo é a da expansão a partir de uma explosão popularmente chamada Big Bang. Georges  Lemaître é o físico de origem belga que fundamentou essa hipótese de uma explosão atômica a partir de uma única partícula, o que gerou a ideia de um "ovo cósmico" que já continha a matéria e a energia do universo concentrados em seu interior. 

Mas, que o que teria "botado" esse "ovo"?!

Alguém? Nada? Com algum propósito? Com nenhum? 

O cosmos é resultado de forças aleatórias ou tem algum poder que os olhos não enxergam e que por trás da aparência da realidade esse poder é a essência, a lógica que mantém tudo no lugar no universo?

Para começo de conversa, estamos aqui iniciando o percurso de filosofia que nos aponta a Metafísica como passo inicial para investigar mais a fundo essas questões sobre a origem da realidade, suas causas, seus princípios e a finalidade de tudo. 

Então, estamos aqui para compreender melhor o que seja essa tal Metafísica e como ela ainda hoje nos provoca com questionamentos a respeito da realidade das coisas e da nossa própria vida. 

Afinal, por que as coisas existem?

Por que a gente existe?

"Why does it happen?

Because it happens." 

E agora, o que você tem a fazer é o seguinte: 

Acesse a música Roll the Bones, da banda Rush. 

Abra o link  para ouvir a canção e companhar com a letra. (clique aqui para obter a música e a letra)

Se não entender em Inglês, leia aqui a tradução

Ao estudar essa letra, reflita como ela aborda a questão da existência, da permanência de todas as coisas inclusive dos acontecimentos da nossa própria vida.  

Em nossos estudos, vamos ligar a ciência de hoje à procura racional dos primeiros filósofos e ver como esses dois mundos, essas duas cosmovisões dialogam.

Editado em 22/03/22

terça-feira, 7 de julho de 2020

Heráclito, a banana e a ontologia

Heráclito, também conhecido no seu tempo como o "obscuro".

Da cidade grega de Éfeso, viveu entre os séculos VI e V a.C. e foi considerado pelos seus contemporâneos uma pessoa de temperamento desconfiado e inconstante.

Quando chamado a participar das questões públicas, uma obrigação para os gregos antigos, recusou por achar inútil.

Flagrante de Heráclito espremendo um pensamento
interessante
Do seu pensamento, chegaram até nós vários fragmentos da obra Sobre a Natureza. Com frases enigmáticas, Heráclito marcou definitivamente a filosofia e a cultura, pois o fundamento da sua compreensão da realidade convive conosco até hoje.

Que ver?!

Na lição anterior, você deveria apresentar uma provável filosofia para música Como uma onda no mar, de Lulu Santos.

A letra fala da mudança perpétua das coisas, quer dizer, nada permanece do jeito que está.

Esse pensamento é o de Heráclito e contraria totalmente a filosofia de Parmênides, que afirma que a mudança é só uma aparência, na essência, tudo é estático, por exemplo, a cor branca sempre é branca, mesmo que aquela camiseta envelheça e fique amarelada. A camisa fica amarelada, mas a essência do branco continua intacta, por isso é que sabemos que branco é branco e não outra cor.

Para Heráclito, Parmênides tá... viajando... 

Sério!!

Heráclito propõe justamente o oposto: enquanto Parmênides defende o imobilismo do Ser, Heráclito afirma o mobilismo do Ser, o mobilismo ontológico. 

Ontologia = estudo do Ser

Quer dizer, as coisas mudam porque é a natureza de todo o cosmos mudar sempre.

Vou dizer de novo de outro jeito:

A ÚNICA COISA QUE NÃO MUDA NO UNIVERSO É QUE TUDO MUDA O TEMPO TODO.

O Ser jamais é o mesmo em qualquer intervalo de tempo!

Lembram da banana da última aula?

Pois bem, uma banana nunca é a mesma e Parmênides diz que isso é só a aparência. Heráclito não, ele diz que você pode até não ver, mas em cada segundo ou fração de segundo, as células da banana estão mudando, envelhecendo, evoluindo de um estado para outro e isso é a natureza, a physis. Por isso, apesar de chamarmos a banana sempre de banana como se ela fosse estática e o termo "banana" fosse um conceito que mostra o conhecimento verdadeiro do que é uma banana, na verdade ela nunca é a mesma coisa! 

Heráclito diz:

"Não se entra no mesmo rio duas vezes." 

Se radicalizarmos a ontologia dele, podemos dizer que não entramos no mesmo rio nem uma vez, pois, por mais rápido que se entre, o rio já mudou.

E no entanto, chamamos sempre de... RIO!

Isso mesmo, Heráclito coloca para nós um problema entre a LINGUAGEM e as COISAS, os nomes, os conceitos, as proposições nunca expressam exatamente o que a REALIDADE É, são apenas convenções, abstrações e nunca conhecimento racional e verdadeiro da essência do Ser.

Por isso que Parmênides está viajando!!

A realidade não pode ser conhecida com quer Parmênides, pois quando se diz que se conhece uma coisa, ela já mudou...

Que paulada!

E não é assim?

Quem pode dizer que sabia que viria um vírus novo com exatidão? 
Quem pode dizer o que será do amanhã?
Que as coisas serão o que são hoje? 

Por que a ciência, por mais que avance, nunca alcança o conhecimento definitivo, mas somente o provisório?

Para Heráclito, a única certeza constante é que tudo é incerto e inconstante.

DIALÉTICA

O modo de Heráclito raciocinar não é o mesmo de Parmênides.

Para Parmênides, a lógica não pode ser contraditória: esse é um dos princípios lógicos.

- Uma coisa é igual a si mesma;
- Uma coisa não pode ser e não ser ao mesmo tempo e sob as mesmas condições; 
- Uma coisa é ou não é, jamais pode ser uma terceira coisa.

Então, o que é, é.

Para Heráclito, uma coisa, que vamos chamar genericamente de SER, uma coisa que existe, é algo em mudança de um estado para outro sem parar jamais. Então, ela é o que é e também o que não é porque está deixando de ser a cada instante para se tornar outra coisa. 

Uma coisa é UM SER QUE ESTÁ MUDANDO PARA ALGO QUE ELE AINDA NÃO É. Quando for esse algo novo, já estará mudando de novo em um ritmo perpétuo.

SER → NÃO-SER 

Esse FLUXO chamamos de dialética ontológica, quer dizer o Ser (ontos) muda do que é para o que não é e vice-versa, como um "diálogo" entre dois pontos de vista diferentes - nesse caso, estados diferentes - por isso, dialético.

Heráclito pensa assim porque percebeu que a razão também funciona desse modo.

Só conhecemos o frio porque comparamos com o calor.
Só conhecemos a escuridão porque comparamos com a luz. 

Podemos conhecer algo sem ter com que comparar?

Sabemos o que uma coisa é comparando com aquilo que ela não é.

Então, a natureza, que é a essência (physis) desse universo organizado e inteligente chamado cosmos (ordem), que é a matriz da nossa inteligência humana, também deve ser assim, funciona pelo choque entre forças opostas criando sempre o novo no futuro. A natureza é assim porque a força que a originou (arché), a inteligência cósmica ou Logos é assim

Volte à banana: a banana nova pela manhã será velha à tarde. O estado velho da banana é o novo estado que vem com o passar do tempo naturalmente. O novo será ser podre, depois ser adubo, depois uma nova planta, etc. Essa mudança é imperceptível no curto espaço temporal, porém, ocorrendo em cada fragmento do tempo. Nada jamais é sem não-ser porque transita de um para o outro sem intervalos estáticos.

Logo, a natureza funciona assim bem diante dos nossos olhos!  

A incrível dialética da banana
Uau!!

Heráclito, a banana e a ontologia, fazem todo o sentido! 



Lulu em fundo banana e
cara de.. sábio!
"Nada do que foi será, igual ao que a gente viu há um segundo

Tudo muda o tempo todo no mundo..." 




Gostou?!


O que aprendemos hoje foi um pouco mais sobre ontologia ou metafísica.
Nos apropriamos da história do pensamento filosófico e científico dentro de competências como Pensamento Científico, Crítico e Criativo, Conhecimento e Argumentação. 

__________________________________________________________________


* Compare as filosofias de Parmênides e Heráclito, diga qual a que parece mais sensata e justifique com argumentos que provem o que você está afirmando. Use exemplos concretos para fundamentar.  Apenas opinião não vale! 

Poste aqui no blog no espaço dos comentários.

charles-ddalberto@educar.rs.gov.br 

Até +!!

Editado em 01/10/2021

terça-feira, 23 de junho de 2020

Lulu Santos, filósofo?

AULA DIGITAL PROGRAMADA - EEEM SANTA ISABEL - FILOSOFIA 2º ANOS #7 

Na sequência dos nossos estudos sobre filosofia naturalista, vamos recordar alguns pontos:

- os filósofos naturalistas observaram a natureza para extrair dos fatos a base real de suas teorias;
- procuraram estabelecer a origem da realidade universal, o cosmos com base na observação e na razão, abandoando a cosmogonia presente nas mitologias preservadas pela tradição; 
- estabeleceram propostas para a arché (origem) e para a physis (natureza, essência) de todas as coisas (totalidade da realidade) delimitando da onde elas surgiram e porque são como são. 

O último filósofo que estudamos foi Parmênides, considerado o "pai da metafísica" porque foi o primeiro a propor que a verdade sobre o Ser (as coisas que existem) é a essência imaterial e racional.

Quer dizer, a aparência das coisas não é sua essência, pois a aparência permite um conhecimento incompleto sobre as coisas. A aparência é o conhecimento adquirido pelos sentidos e os sentidos são incapazes de conhecer a intimidade essencial das coisas.

Para Parmênides, a essência é absoluta, imutável, eterna e por isso não pode existir por um tempo para depois deixar de existir. Aquilo que é, é. Por exemplo, uma fruta... uma banana. Por um tempo ela é verde, depois madura e em seguida apodrece. Para Parmênides, a aparência da banana, captada pelos sentidos físicos como a visão e o olfato, mostra que ela muda, mas é só a aparência.

A verdade sobre a banana é que ela é sempre banana, ou seja, banana é banana (x=x, onde o "x" é a variável substituída pelo termo, pela palavra 'banana", logo, banana=banana) independente de como esteja. Isso que dizer que a banana, mais do que uma coisa, uma fruta do mundo concreto, é uma abstração, um ente abstrato dado pela inteligência lógica, pelo raciocínio e pela capacidade de compreender que há na banana real características abstraídas dela, captadas pela mente e que fazem desse tipo de fruta sempre algo igual em essência, que não muda jamais. Aquilo que o pensamento lógico, o intelecto ou razão conhece do que é uma banana é que é a verdade sobre a banana. 

Pensar e ser é a mesma coisa.

A banana pode apodrecer que a ideia, a forma imaterial da banana será sempre a mesma e será indestrutível porque não pertence ao mundo físico, mas ao mundo metafísico (meta=além) + físico, quer dizer, ao mundo além do físico, ao mundo abstrato ou intelectivo, inteligível.

Agora que recuperamos o que nos interessa de Parmênides e do seu imobilismo ontológico (doutrina da imobilidade do Ser) que você já leu também no blog, vamos começar a enfrentar a principal oposição a essa filosofia.

Para isso, vamos chamar ao palco Lulu Santos!!

"Nada do que foi será
De novo do jeito 
Que já foi um dia"

Parabéns, Lulu, tu é o cara!! 

The voice of philosophy! 

Essa canção popular que está na boca do Brasil há décadas, nos faz pensar em algo muito filosófico. 

A de que a realidade diante dos olhos jamais fica do jeito que está. 

Consulte no link a música Como um Onda no Mar e confira o que estamos falando.

CLIQUE AQUI PARA LER A LETRA E OUVIR

A aí, prestou atenção na mensagem?! 

Beleza, agora volte ao ambiente virtual da sua sala de aula e responda o formulário. 

Nessa atividade você vai desenvolver:

- habilidades analíticas textuais em diferentes estilos narrativos
- competências de Repertório Cultural, Pensamento Científico Crítico e Criativo e Conhecimento.

Editado em 09/09/2021

quarta-feira, 22 de abril de 2020

O branco é branco e acabou!

Na aula nós falamos um pouco sobre lógica e alguns de seus fundamentos.

Como disciplina, ela estuda a estrutura do raciocínio e as regras da argumentação.

Desde a antiguidade até agora, a lógica se desenvolveu muito a ponto de formar um campo específico do conhecimento e foi Aristóteles (384 a.C - 322 a.C.) quem desenvolveu o primeiro sistema formal do pensamento lógico. Para nós, o importante no momento é fazer uma introdução a esse saber para ver como ele é fundamental à filosofia e à ciência.

Como primeira aplicação do que vimos na primeira aula de lógica aos estudos de filosofia cosmológica, vamos relacioná-la a outro filósofo pré-socrático, o próximo na nossa lista de pensadores naturalistas.
Parmênides de Eleia te passando a visão. 

Ele é Parmênides de Eleia (530 a.C. 460 a.C.), um dos principais nomes da filosofia eleática e considerado o "pai da metafísica". 

Metafísica é aquele tipo de conhecimento puramente intelectual, fundamentado no raciocínio, que pretende entender a realidade, o Ser, a existência das coisas com a inteligência mais do que com os sentidos físicos.

Para Parmênides, então, o conhecimento verdadeiro é o conhecimento racional, lógico, porque não muda.

Vamos ver com é isso?

Pense nesse cálculo simples: 2+2=4.

Isso muda em algum momento?
Não.

Então, você pode dizer que conhece o cálculo aritmético, pois conhecer é saber a verdade e a verdade é que esse cálculo não muda. A verdade, para Parmênides, é algo que não se altera.

Uma coisa que muda não pode ser conhecida de verdade, pois quando se acha que já conhece, ela muda e não é mais aquilo que era. Esse é o tipo de conhecimento adquirido pelos sentidos físicos. É apenas uma opinião (doxa), quer dizer, é um conhecimento que nem pode ser chamado de conhecimento porque é incompleto, parcial, com erros. 

O erro está em pensar algo ou falar algo sobre uma coisa que ela não seja. Isso já nos indica um caminho para entender mais o que Parmênides quer nos fazer compreender: se podemos pensar sobre uma coisa, também podemos falar sobre ela; falar a verdade é dizer exatamente o que ela é e não o que ela parece ser. 

Então, para Parmênides, o conhecimento (episteme) de fato é racional, depende menos da experiência física do que da razão.

A realidade real (vamos falar assim para reforçar bem) das coisas que existem, do Ser, está no pensamento, no que pensamos sobre a essência as coisas e não na forma física que vemos delas, que é somente aparência. Porque a forma muda e a mudança é uma ilusão do sentidos.

Pense assim:

A cor branca é branca
Para uma pessoa que enxerga ou para um cego, o branco é sempre branco.

Por quê?

Porque isso é um princípio lógico: uma coisa é igual a si mesma; x = x.

Então, branco = branco. 

Mas, e se a pessoa nasceu cega e nunca viu o branco, como ela vai saber que branco é branco?

Talvez para ela, a palavra branco signifique outra cor no mundo físico, porém, aquilo que ela conhece como branco em seu pensamento, sempre será falado que é branco. Percebe que o que ele pensa ele pode falar?! 

Isso é a identidade entre o ser, o pensamento e a linguagem.

O que ela conhece e pensa que é o branco ela sempre vai falar que é branco. 
Se ela chamar o branco por outro nome, terá cometido um erro de conhecimento. 

Outro exemplo:

Você compra uma camisa branca.
Com o tempo ela vai ficando envelhecida.

Se o branco é branco, mesmo que a camisa tenha mudado de cor, o branco segue sendo branco. A mudança de cor da camisa não tira da cor branca aquilo que ela é, que é ser branca.

E você sabe disso raciocinando, porque se você acreditar no que seus olhos mostram, você vai dizer que o branco não é branco, o que é logicamente absurdo. Seria como dizer x = não-x.
   
Eu sei que você vai dizer "-Mas, o mundo físico não é assiiiiimmmm!!!!"

Lembre-se que para Parmênides o mundo físico é a superfície das coisas, ele muda e o que muda não pode ser conhecido de verdade porque se uma coisa que você conhece se mostra apenas superficialmente e muda, ela não revela sua intimidade e sempre está deixando de ser o que você conhecia, logo, você nunca sabe totalmente o que pensava que sabia. O mundo físico é assim, apenas a aparência das coisas, o que aparece delas, é o fenômeno e está em transformação. O que aparece e muda permite apenas uma opinião (doxa), não é o conhecimento e sim um reconhecimento superficial e falso. A verdade é a "ciência" total ou a episteme.

Conhecer é chegar à verdade. 

Chegar à verdade é chegar à essência. 
E a essência não muda: a essência do branco é ser branco. 
Já a aparência do branco vai mudando.

Então, a essência é imutável, imóvel.
E também é eterna, pois é sempre a mesma.

Branco é branco em qualquer tempo e lugar. 

Se um dia tivesse sido diferente, não era o que é.
Se tivesse sido criado, um dia teria não existido.

O Ser é eterno porque não foi gerado. 
Aquilo que é gerado tem um começo no tempo, mas o Ser das coisas nunca teve um começo, sempre foi o que é, senão, teria não-sido. 

Pense em "árvore" sem imaginar a figura de nenhuma árvore específica. 

Você consegue isso porque está mentalizando a essência do ser "árvore." 

As árvores físicas aparecem e desaparecem do mundo, porém, a essência das "árvores", que é esse pensamento abstrato e universal, que vale para todas as árvores, esse é o verdadeiro conhecimento que você pode ter sobre o ser chamado árvore. 

A árvore é eternamente árvore porque um dia não pode ter sido não-árvore. 
O humano é eternamente humano porque um dia não pode ter sido não-humano.  
O ser é eternamente ser porque um dia não pode ter sido não-ser. 
O "x" é eternamente "x" porque um dia não pode ter sido "não-x". 

O Ser não vira não-ser e nem o não-ser vira Ser.  

O Ser é e o não-ser não é. 

Desse modo, só é possível conhecer, pensar e falar no ser. 
O não-ser não pode ser conhecido, pensado ou falado. 

O não-ser é inexistente para o pensamento e por isso não podemos falar dele. 

D+++, fera!? :)))

Quer ver um vídeo para complementar e reforçar alguns pontos?

CLIQUE AQUI PARA VER O VÍDEO SOBRE PARMÊNIDES

Nessa aula você aprendeu mais sobre:

- a história da filosofia cosmológica;
- lógica e introdução à metafísica; 
- a filosofia de Parmênides. 

Editado em 08/08/2021
 

sábado, 18 de outubro de 2014

A mulher do outro

Em alguns lugares do planeta, neste momento, algo trágico acontece.

Ou é realizado.

Aquilo que acontece, é fatalidade, não é previsível ou controlável. Na Itália, o excesso de chuva dos últimos dias já matou algumas pessoas. Este é um exemplo.

Como o ebola, que avança no continente africano, na Europa e nos Estados Unidos.

Aquilo que é realizado é voluntário.

A sangrenta batalha em Kobani, na Síria, entre forças curdas, com apoio turco, sírio e norte-americano contra terroristas do Estado Islâmico segue fazendo vítimas. Outros conflitos na região também matam.

Isto preocupa você?

Comove?

Provalmente, por estar longe do Brasil, os problemas nacionais sejam mais impactantes.
Ainda mais, as questões próximas ao círculo de convívio de cada um. Isto é natural.

Mas, por quê?

Bom, a psicologia, pode dar uma resposta às reações humanas a estes estímulos. Outras ciências também podem.

Contudo, a intenção aqui é trazer a reflexão de Epiteto, filósofo estoico, para uma forma comum de reagirmos às fatalidades ou às circunstâncias que, deliberadas ou não, ferem nossos interesses.

Epiteto diz:

"Podemos conhecer a intenção da Natureza por meio das coisas em que não temos interesse algum... Falece a mulher ou o filho de outro? São casos humanos. Morre nosso filho ou nossa mulher? Logo então gememos e exclamamos: ai de mim! Conviria, pois, recordar o que fizemos nos mesmos casos, quando se tratava dos outros." (Manual, 26)

É possível ser racional em questões tão sentimentais?
Pode-se encarar as tragédias pessoais com esta serenidade?
O que diriam se perdas pessoais fossem tratadas com indiferença?
Importa o que diriam?

Para o estoicismo, a ataraxia ou serenidade é uma estado anímico desejável. Revela sabedoria e controle sobre si mesmo, ou seja, autarquia. A dor psicológica é resultante de ignorância. É efeito de não compreender que a realidade é regida por força superior à humana e por esta, incontrolável.

A intenção da Natureza, no dizer de Epiteto, se revela quando não estamos envolvidos na ilusão de posse e controle da realidade e das coisas, como quando criamos laços afetivos e tentamos cristalizar o real, o ser, detendo-o.

A realidade é impermanente.
Esta é a metafisica: tudo está em constante mudança.

E nós, nada podemos contra isto, a não ser aceitar e não se perturbar.

Esta é a paz.

Você concorda com os estoicos?


MONDOLFO, Rodolfo. O pensamento antigo. São Paulo: Mestre Jou, 1973.
fontes: Euronews, Público
imagens: Reuters, wikipedia

segunda-feira, 11 de agosto de 2014

Como pode ser tão bom?

Você tem medo do mal?
Do mal que pode sofrer?
Do que pode praticar?

Afinal, o que é o mal e porque ele está no mundo, é velha questão filosófica em eterno retorno à reflexão, philosopher, my friend.

Veja nossos dias como estão.

Na região norte do Iraque, famílias yazidis abandonam suas terras. Elas receberam um ultimato das forças jihadistas do Estado Islâmico, que por sua vez instituiu o antigo regime despótico do califado em algumas áreas controladas, para que se convertam ao Islã ou sejam executadas.

Cerca de 500 pessoas foram mortas nos últimos dias por razões religiosas no país pelos radicais muçulmanos. 



Centenas já foram mortos em várias cidades desde o início do levante e na semana passada os Estados Unidos lançaram um bombardeio aéreo sobre os combatentes da jihad.

Segue o conflito na Síria, na Palestina, em nações africanas e entre nós, por outras razões absurdas que levam à violência, como o futebol.

Outro fator que assusta o planeta agora é a possibilidade real de uma pandemia do Ebola.

As autoridades brasileiras em saúde já informaram estar preparadas para combater o vírus, caso ele chegue. Na semana passada a Organização Mundial da Saúde decretrou emergência de saúde pública internacional.

Até aí, nada de novo, apesar de trágico.

Atritos homem-homem e homem-natureza são riscos em todas as épocas.


E eles remetem a reflexão ao mal moral e ao mal metafísico.

Entende-se o mal sob algumas concepções fundamentais. O mal como oposição ao ser; o mal como estrutura antagônica do ser e o mal como juízo de valor.

O mal como o não ser afirma que não há substância no mal, logo, ele não existe de modo concreto e é a percepção da ausência de realidade. Para o idealista, como para o neoplatônico ou o cristão, o mal é próprio do mundo físico constituído de matéria, a oposição ao ser real ideal. O mal é a privação do bem, o não estar do ser. O mal moral ocorre quando o homem se deixa levar pela finitude de sua condição e age por interesses a ela ligados, como os vícios em vez das virtudes

No livro Cândido, Voltaire combate a tese de Leibniz de que este é o melhor dos mundo possíveis porque entre todas as possibilidades, este é o que existe e há mais perfeição naquilo que existe do que naquilo que não existe.


No entanto, este é um mundo repleto de dores.

Como pode ser tão bom?

O mal real estrutural diz que ele é substancial e contrário ao ser. São coexistentes e fundamentados por princípios antagônicos. Para os maniqueístas, por exemplo, bem e mal são forças em combate no universo e ambas existem com a mesma realidade. No romantismo, algo semelhante a esta ideia vai dizer que Deus contém tanto o ser quanto uma natureza irracional e obscura em luta para se tornar consciente. O homem é uma partícula reflexiva desta estrutura.

O mal como juízo de valor desconsidera a substância do mal e o entende como resultado do julgamento moral. O bem é o que se quer e o mal o que se repele. Assim, o mal moral fica definido segundo os costumes ou pela deontologia como lei ética universal e o mal metafísico como interpretação dos fenômenos reais.


Um vírus que mata pessoas é mais mau do que vírus que mata só animais.

Você era indiferente ao ebola enquanto ele parecia mais distante?
Agora ele parece um mal maior por estar mais próximo?
Deve-se temer o mal no mundo ou ele é uma ilusão, tem menor valor do que o imaterial, real e original?
Para você o mal pode ser vencido? Como? 

Ou o mundo é como é e dele não devemos ingenuamente esperar mais do que aquilo que temos, nem ser mais do que aquilo que somos?  

 imagens: La Nueva España, NBC, informecritica

links: euronews, Estadão

 

quinta-feira, 19 de junho de 2014

Espírito e matéria: uma antiga questão


A dualidade do real é questão essencial para a filosofia.

Aquilo que é matéria. 

Aquilo que é espírito, natureza ou logos e como se relacionam na constituição do ser. 

Anaximandro (547 - 610 a.C.), discípulo de Tales, introduz na filosofia a ideia de princípio do ser a partir do que chamou de ilimitado, essência esta eterna e imutável. Em contraposição, está tudo o que é gerado e perece. Para o filósofo de Mileto a realidade não é originada por qualquer elemento físico natural, como para Tales, que postula a água como princípio do ser.

De Anaximandro restam três fragmentos originais de seu pensamento que, de algum modo, repercutem na filosofia até nós como o conceito do logos divino e da inferioridade e impermanência da existência física. 


Diz o filósofo:

- Todas as coisas se dissipam onde tiveram a sua gênese, conforme a necessidade; pois pagam umas às outras castigo e expiação pela injustiça, conforme a determinação do tempo.
- O ilimitado é eterno.
- O ilimitado é imortal e indissolúvel.

 

Quantas vezes você ouviu falar de ideias relacionadas a estes pensamentos, dos mais diferentes modos?

Pense nisto e faça um exercício argumentativo a partir da ideia de Anaximandro de que o ilimitado é a força que cria a realidade. 

FORME GRUPOS DE ATÉ 5 INTEGRANTES. 

CRIE UM TEXTO (um por grupo com os nomes de todos) DEFENDENDO A TESE DE QUE A ESSÊNCIA DA REALIDADE NÃO SE DESTRÓI E NÃO PODE SER PERCEBIDA PELOS SENTIDOS, POR ISTO NÃO PODE SER DEMONSTRADA PELA CIÊNCIA, APENAS PELA FILOSOFIA.   

Escreva no seu caderno. 

imagem: Nueva Acrópolis - fragmento Escola de Atenas
BORNHEIM, Gerd. Os filósofos pré-socráticos. São Paulo: Cultrix, 1991.

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Questões de estudo 2

A unidade 2 do Caderno de Estudos de Filosofia Geral e da Educação traz a introdução a algumas áreas relacionadas à Filosofia.

São a sequência para explorar os temas e a abrir perspectivas maiores da análise filosófica.
Aqui vão algumas sugestões para acrescentar ao estudo.
O tópico 1 trata da Teoria do Conhecimento. Ao falar sobre o que é conhecer é preciso mergulhar na metafísica e perpassar a história do pensamento, já que em todas as épocas, filósofos se dedicaram a investigar o que seja conhecer e como é possível. Este tema será tratado como mais profundidade na disciplina específica.
Neste momento, é importante ir se familiarizando com o assunto. Uma das obras fundamentais dedicadas à epistemologia é o livro Teeteto, de Platão, considerado por alguns o inaugural sobre o tema e atual nas reflexões que traz.
“Ora, seria o cúmulo da simplicidade, estando nós à procura do conhecimento, vir alguém dizer-nos que é a opinião certa aliada ao conhecimento, seja da diferença ou do que for. Desse modo, Teeteto, conhecimento não pode ser nem a sensação, nem opinião verdadeira, nem a explicação racional acrescentada a essa opinião verdadeira.” (PLATÃO, p. 98)
Nas palavras de Sócrates, podemos afirmar que conhecemos, porém não respondemos com satisfação como se dá o ato de conhecer.
A fenomenologia, por exemplo, vai tratar o homem como sujeito consciente de si e do mundo dos entes, condição que o eleva a ser luz entre as coisas e ter por essência existir e reconhecer sua própria existência e das coisas do mundo. O espírito humano percebe o que se enquadra, a seu modo, naquilo que é conhecimento.
“Pusemos a questão sobre o que é conhecer. A resposta é possível porque estou presente ao cognoscente que sou. Minha existência é consciência-de-conhecer, sem ser de conhecimento. [...] Essa resposta, portanto, jamais pode ser provada, no sentido estrito da palavra, como p. ex., deduzo, raciocino, provo de um círculo ou esferas as propriedades necessárias. No explicitar não há provas: apenas posso apontar. Só consigo esforçar-me por apreender e exprimir aquilo a que estou presente.” (LUIJPEN, p. 90)
Contudo, não se pode pretender trabalhar com metafísica e teoria do conhecimento sem se apropriar do pensamento de Immanuel Kant.
Mas isto é para mais adiante.
Na página 68 há uma relação de identidade entre conhecimento mítico e religioso como fundamentados na fé como critério de verdade. É preciso fazer uma distinção.
O conhecimento demonstrável de modo racional é lógico. Há religiões amparadas em verdades filosóficas profundas, não sendo produto da fé se esta significar o inconcebível lógico. Deus, por exemplo, é uma ideia para a filosofia e para a teologia. Ele só não é empiricamente demonstrável como é um objeto do mundo real e concreto.
Mesmo a ciência positiva se ampara em certa espécie de fé. Confia na maior probabilidade de certeza de seus enunciados por confiar na certeza de seus métodos.
“Não existe, por conseguinte, um mundo-em-si científico. Em princípio, há tantos mundos científicos especialmente distintos, quantas são as atitudes especificamente diversas de perguntar.“ (LUIJPEN, p. 170)
Por isto, diversas ciências e não somente uma. Como diz Heidegger, a ciência é uma teoria sobre o real. Baseia-se no rigor da razão e reivindica a pretensão de falar a verdade sobre o ser concreto. Porém, submete-se ainda à Filosofia da Ciência, cujo papel é manter a crítica sobre aquilo que se afirma ser a verdade a respeito da realidade. A ciência não é totalizante, já que não explica tudo à luz de seu método. Não consegue, por exemplo, responder se o conhecimento parte do sujeito ou do objeto. Descreve leis mecânicas, mas não sabe responder como foram elaboradas de fato.
Na mesma página, onde se fala em conhecimento filosófico, afirma-se que a filosofia não pretende estabelecer um conhecimento absoluto, mas questionar e refletir. Não seria bem assim. Há sistemas filosóficos que pretendem chegar a verdades imutáveis e, portanto, absolutas. O cartesiano é um exemplo. A dúvida metódica arrasa o conhecimento inconsistente para propor um verdadeiro e metafísico. Descartes anuncia a realidade inquestionável do ser que pensa de modo absoluto. A própria lógica, como a matemática, possui verdades absolutas e com elas a filosofia propõe conhecimentos inquestionáveis pela razão. Alguns carecem é de demonstração na instância do real empírico, como a existência de Deus.
Ou alguém tem dúvida de que para os platônicos os seres ideais são absolutos?
Lógica
O tópico 2 traz noções bastante elementares sobre lógica. Opta por não ingressar na linguagem artificial ou apresentar a gramática lógica. Isto provavelmente virá com profundidade na disciplina de lógica.
Para se ter uma ideia do que será necessário aprender, os fundamentos passam por definição de sentença e argumento, legitimidade, ilegitimidade e analiticidade, proposição, possibilidade, etc.
Por exemplo, uma sentença é analítica quando jamais pode ser falseada.
Argumentos que trazem sentenças condicionais possuem legitimidade a analiticidade se o condicional correspondente for analítico:
“Se todos os homens são mortais e todos os gregos são homens, então todos os gregos são mortais.”  
Em lógica fica: Se todo A é B e todo C é A, então todo C é B.   
Grego? Nem tanto, vai...
Ética
O capítulo é resumido a algumas perspectivas éticas e distingue ética de moral.
É o começo.
Em toda a história da filosofia os pensadores falam mais ou menos sobre ética. Logo, é muito mais do que o exposto no livro. Uma boa viagem nesta história está no livro Ética, conceitos-chave em filosofia, de Dwight Furrow. Uma obra bem didática editada pela Artmed.
Porém, uma recomendação é se aproximar das origens gregas. Além da obra Ética a Nicômaco,de Aristóteles já recomendada, outro livro interessante é o diálogo Mênon, de Platão. Neste livro o filósofo destrincha a questão da Virtude e se ela pode ou não ser ensinada. Outro diálogo é o Filebo, sobre o prazer, a felicidade e o Bem, temas recorrentes na literatura platônica.

Conhecer o pensamento estóico é também de fundamental importância.


A concepção kantiana de moral e ética é magnífica, mas exige conhecimentos prévios para entender o sistema do filósofo e o que ele diz sobre liberdade e dever na perspectiva transcendental. Assim como a estética por Kant, que já mencionamos no post Que bonito!
Na sequência, o terceiro capítulo.
Bons estudos!
REFERÊNCIAS

LUIJPEN, William. Introdução à fenomenologia existencial. São Paulo: EPU/USP, 1973.
PLATÃO. Teeteto. Belém: UFPA, 1988.

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