As aulas retornaram na cidade de Newtown, em Connecticut, leste dos Estados Unidos.
Menos na escola elementar Sandy Hook, onde na sexta-feira passada, (14), um jovem de 20 anos abriu fogo e matou 20 crianças e 6 funcionários da instituição.
O massacre chocou o mundo.
Foi a repetição de um comportamento violento e destrutivo que já fez dezenas de vítimas nos Estados Unidos. O episódio deu força à discussão sobre o porte de armas de fogo no país, pendendo positivamente para o lado do grupo que defende a restrição.
O fato poderia ser evitado?
No que depende da ação do atirador, sendo ele, como cada um, livre para deliberar e decidir, pode-se afirmar que sim.
O matador poderia não ter realizado aquilo que realizou se o livre-arbítrio for admitido. E esta já seria uma longa questão a ser avaliada e certamente está aberta aqui no Filosofósforos.
Mas pensemos em Deus.
Admitindo sua existência e seus atributos, Deus onisciente sabia que isto iria acontecer?
Há determinismo em tudo o que ocorre?
Deus, sabendo, pois necessariamente precisa saber, poderia ter evitado?
Se poderia, e isto confirma sua onipotência, por que não o fez?
E quanto às tragédias naturais como o tsunami da Indonésia, o terremoto do Haiti e o tsunami do Japão, apenas para marcar algumas das catástrofes deste século?
Onde fica Deus diante da presença do Mal no mundo?
O problema do Mal é uma das grandes questões da Filosofia.
Diz Epicuro (341-270 a.C.): "Deus ou quer impedir os males e não pode, ou pode e não quer, ou não quer nem pode, ou quer e pode. Se quer e não pode é impotente: o que é impossível em Deus. Se pode e não quer, é invejoso, o que, do mesmo modo, é contrário a Deus. Se nem quer nem pode, é invejoso e impotente, portanto, nem mesmo é Deus. Se pode e quer, o único que convém a Deus, de onde provém então a existência dos males? Por que não os impede?" (fragmento 374 Usener)
Qual a conclusão de Epicuro?
O que outros filósofos dizem sobre o problema do Mal?
Deus existe?
fonte: Terra
fotos: redebomdia, sapo.pt,cultcarioca
Epicuro rejeita a imanência. A existência de Deus com seus atributos máximos não implica em intervenção divina no mundo concreto para o Epicurismo. "[...] a divindade não provê às coisas do mundo (Sexto Empírico) [...] não se acha submetida a nenhuma ocupação, nem trabalha em obra alguma, mas somente goza da sua sabedoria e virtude.(Cícero). A adoração a Deus é o reconhecimento a sua excelência e majestade extraordinárias.
ResponderExcluirA questão ontológica está em toda a Filosofia. A investigação do Ser compõe a Metafísica. Leva à procura filosófica por Deus. O Belo primordial em Platão (Timeu), o motor imóvel e perene em Aristóteles: "Por isso dizemos que Deus é vivente eterno, ótimo...Pois isto é Deus... Mas é evidente, também, que é impassível e inalterável. (Metafísica, livro XII) No entanto, Deus não está no mundo. "Das coisas já expressas, torna-se evidente, pois, que há uma substância eterna e imóvel e separada dos seres sensíveis." (Metafísica, livro XII). Platão igualmente rejeita a imanência, como inúmeros outros pensadores.
Deus, não estando no mundo, cabe a este último a corrupção, a destruição.
Segundo Tomás de Aquino "Somente acredita na existência de Deus quem crê que todas as coisas deste mundo são governadas por ele, e submetidas à sua Providência." (O Credo) Deus é, portanto, objeto de crença, subjetivo.
Leibiniz procura resolver a questão do Mal com a Teodicéia. Para o filósofo alemão há 3 males: o metafísico - a finitude do mundo -, o físico - sofrimento consequente da imperfeição do mundo - e moral - imperfeito, o homem é livre e erra.
Russell não aceita a existência de Deus. Da ideia não se conclui necessariamente a existência. Deus é um conceito. "Todo o conceito de causa é algo derivado de nossas observações de coisas específicas; não vejo razão alguma para supor que o total tenha qualquer causa." (RUSSELL)Depreende-se que os fatos não estão sujeitos a razões de ordem divina.
A questão de Deus é afirmação central na Patrística e Escolástica. Recebe reforço em Descartes.
MONDOLFO, R. O Pensamento Antigo, Vozes. 1973
STÖRIG, H. História Geral da Filosofia. 2009
AQUINO, T. O Credo. Vozes. 2006
RUSSEL, B. Po que não sou cristão. LP&M. 2011
Sobre o significado de imanência e transcendência, pesquisar o Speculum.
ResponderExcluirhttp://www.filoinfo.bem-vindo.net/filosofia/modules/lexico/entry.php?entryID=709
No Estoicismo, o problema do Mal recebe por resposta a necessidade da existência dos contrários. "O mal tem uma razão própria: porque também ele nasce, de certo modo, segundo a razão da natureza e, por assim dizer, não nasce sem utilidade para o todo: pois de outra maneira não existiriam os bens." (Crisipo) Sem a injustiça não se reconhece a justiça, por exemplo. Algo sem seu oposto decreta a inexistência de ambos. "Acham-se ligados um ao outro, como diz Platão, por vértices opostos entre si; se tirares um, terás tirado os dois." (Gélio)
ResponderExcluirNo período pré-socrático, destaca-se o pensamento de Heráclito sobre a mobilidade do Ser e a necessidade dos contrários. Afirma o filósofo de Éfeso "Tudo se faz por contraste; da luta dos contrários nasce a mais bela harmonia." (fragmento 8) Diz ainda: "Deus é dia e noite, inverno e verão, guerra e paz, abundância e fome[...] Uma coisa só é sábia: conhecer o pensamento que governa tudo através de tudo." (fragmentos 67,41) Pelo que aqui se traz de Heráclito e os Estóicos, a causa primordial, que é Deus, criou o mundo e o governa sob a perspectiva da ação de forças contrárias. O ciclo de geração e corrupção compõe a mecânica do Ser e desta metafísica se extrai implicações morais.
Nas tradições do ocidente e do oriente, sejam filosóficas ou/e teológicas, argumentos desta natureza são considerados junto a outros, conforme a escola doutrinária.
Retomando Leibiniz, este é o melhor dos mundos e Deus não o fez perfeito porque assim teria criado algo como a si mesmo. Do Mal metafísico decorrem o físico e o moral e o Mal no mundo não anula a existência de Deus e portanto nenhum de seus atributos.
Relembrando Russell, a lógica causal é um artifício da razão e não é suficiente para garantir a existência real de Deus. Porém o Mal é real e deve ser combatido. Russell lutou por liberdades, por exemplo.
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Pelos males metafísico, físico e moral o real imperfeito se transforma. Ao se deparar com o Mal, o homem reflete sobre seu oposto, o Bem e pode assim compreendê-lo, avançando em humanidade.
Para ateus e agnósticos, o reconhecimento do Bem pode servir de apoio à construção moral e ética indispensáveis a uma sociedade melhor.
BORNHEIM, G. Os filósofos pré-socráticos. Cultrix. São Paulo. 1991.
MONDOLFO, R. O pensamento antigo. Mestre Jou. São Paulo. 1973.
Fílon de Alexandria (30 a.C. - 50 d.C.) foi um dos mais influentes filósofos do judaísmo. Interpretou o Antigo Testamento - sabedoria hebraica - à luz do pensamento grego a ponto de ser chamado o "Platão Hebreu".
ResponderExcluirSegundo Fílon, Deus perfeito e bom é o Ser por excelência. Pode ser conhecida sua existência, mas não sua essência transcendente. Criou as coisas existentes a partir do nada na matéria primitiva fazendo uso de potências inferiores, Ideias. Deus não se relaciona diretamente com a matéria, portanto, não há panteísmo. "Deu forma à matéria de todas as coisas, que era informe [...] imprimiu o seu selo sobre todo o mundo, ou seja, a ideia e a imagem próprias, o próprio Verbo." O Verbo é a autoimagem de Deus (ver Timeu de Platão).
O Mal humano é resultado de sua criação. O homem, feito por Deus, possui natureza mista: divina e das potências inferiores que criaram a humanidade junto a Deus. Delas o homem herda a imperfeição. "A Deus, chefe-supremo, não pareceu conveniente que fosse criado por ele mesmo, na alma racional, o caminho do mal, pelo que confiou a seus ministros a criação desta parte."
O Mal, em Fílon, recebe da providência uma utilidade moral: "A providência envia granizos, raios, gafanhotos: serve-se de semelhantes flagelos para levar seus filhos à sabedoria. [...] Logo, quem não reconhece a providência, será levado a reconhecê-la pela doença."
Sobre o destino do homem, sua ventura ou desgraça, Fílon afirma que todas as graças vêm de Deus e que a razão é insuficiente para compreendê-lo, restando a fé na sabedoria divina e a submissão à vontade ativa desta potência. "A mente, tornada perfeita, coloca o seu fim em Deus benfeitor..."
MONDOLFO, R. O pensamento antigo. Mestre Jou. São Paulo. 1973
O mais eminente filósofo da Patrística Latina afirma a impossibilidade de conhecer a essência de Deus, que tem apenas suas existência evidenciada. Segundo Agostinho, não há dúvida de que a consciência cognoscente existe. Pode-se duvidar, mas a simples operação mental é prova de que há o ser pensante. Agostinho usa o argumento cético fundamental, a possibilidade de duvidar, para chegar à certeza do cogito. Pela via da razão, a consciência parte da intuição daquilo que é sensível como conhecimento primário. A experiência sensorial fornece dados empíricos que são julgados pelo sentido interno da razão. Há, porém, um juiz da razão, que é a Verdade. Há conhecimentos que são verdadeiros, irrefutáveis e objetivos, como os matemáticos, sempre verdadeiros. Eles são reconhecidos como tais pela razão, indistintamente. Esta lógica norteia a razão. A razão julga os sentidos por ser superior a eles e a Verdade julga a razão por ser estar acima dela. Então há algo transcendente à razão, bom e verdadeiro, moderador do raciocínio. Ao conceber a Verdade fora da consciência, Agostinho percebe que Deus está seguramente neste domínio, o espiritual. "Deus deve encontrar-se no reino da verdade, ou em algo de que a verdade depende, ou em algo que explica as condições da verdade." (BOEHNER, GILSON)É a primeira vez na história da Filosofia que a prova da existência de Deus deriva da existência do ser pensante, o que vai se repetir no método de Descartes.
ResponderExcluirDo conhecimento inferior, das coisas externas, a consciência deve ingressar no conhecimento superior, da realidade espiritual da qual pertence. Da ciência vulgar, parte-se para a Sabedoria e nela se encontra a si mesma e a Deus.
Conforme Agostinho, todo o criado é bom, pois nada feito por Deus é mau. A maldade é afastamento do estado primitivo de bondade. O mal não possui substância. É ausência de bondade. O mal moral é, assim, resultado do exercício do livre arbítrio.
BOEHNER, Philotheus; GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã. Vozes. Petrópolis. 1991.