Sua revista escolar de filosofia.

domingo, 16 de dezembro de 2012

Fogo de Prometeu

Salve, Filosofósforos!

Prometeu é um ladrão.

Mas seu roubo beneficiou a Humanidade!

O Titã subtraiu do Olimpo o fogo e o entregou aos homens. As chamas, mais do que físicas, são a metáfora do conhecimento. Por sua ousadia, Prometeu foi castigado por Zeus. Acorrentado no Cáucaso, a cada dia uma águia viria comer pedaços de seu fígado, que se regenera e assim sua pena é eterna.

O fogo, porém, está conosco.

Vamos usá-lo mais uma vez.

Do mito ao mito?

Em tempos de comunicação digital, as fronteiras do diálogo ficaram reduzidas ao tráfego de dados. Distâncias físicas já não são impedimentos para a troca de opiniões.

Já em 1974, o canadense Marshall McLuhan, dizia que "a possibilidade de participação pública torna-se uma espécie de imperativo tecnológico que foi chamado "lei do lapão": "se isto pode ser feito, então existe" - uma espécie de canto de sereias do apetite de evolução. (MCLUHAN, Marshall. Journal of Communication, vol. 24, n° 1, p. 57)

Existe, pode ser feito e está sendo.

Como um imperativo da evolução social, conectar-se impõe-se como uma necessidade. O Primeiro Setor (governo), o Segundo Setor (iniciativa privada), o Terceiro Setor (sociedade civil organizada) e o cidadão em sua singularidade, sentem que estar fora do universo virtual é viver em uma dimensão tal que distante daquela onde todos os conectados se encontram.

Como fenômeno, a comunicação global, possibilitada pela tecnologia que por sua vez é resultado dos avanços na Física, traz implicações para o comportamento humano. Muito já se analisa há tempos a respeito. Como os estudos relacionados ao que se chama de Geração Y. (clique sempre no hiperlink para saber um pouco mais.)

Sobre a tecnologia e o impacto na vida das pessoas é o que pretendemos refletir.

Nesta primeira proposta de tema para o fórum Filosofósforos, as perguntas inicias sugeridas são:

O que é a tecnologia? 
A tecnologia, por si só, é positiva para a evolução social? 
A tecnologia está sendo supervalorizada? 
Uma supervalorização da tecnologia pode trazer quais consequências? 

Quem quiser participar, precisa apenas escrever seu comentário sobre qualquer uma das questões. O ideal é amparar a opinião em algum pensador. Desta forma, vamos criando um seminário e estimulando a pesquisa e o avanço reflexivo embasado e acadêmico. Os autores citados permanecem ainda como fontes de consulta para interessados no(s) tema(s) debatido(s).

Ilumine e ilumine-se.

fotos: inrj, contosencantar

3 comentários:

  1. Sobre a definição de tecnologia.

    É preciso distinguir tecnologia de técnica, não só como prática, mas como conceito. Segundo Arcângelo Buzzi(1989), a técnica surge como a intenção do homem grego de alcançar a harminia da physis, da natureza, harmônica, por meio do pensamento e da ação capazes de relevar a integração do Homem com seu meio. Este processo recebeu o nome grego de téchne. O fazer humano, desde as origens, procurou estar integrado de forma orgânica com a realidade. A técnica, portanto, é o conceito que explica a ação do homem paralela à natureza.

    A agricultura nasce como técnica, por exemplo. Também a Filosofia é téchne. No uso da razão, o filósofo procurou entender o Ser e dele se aproximar conhecendo-o. Em Platão, a Ideia é o fundamento de cada ente. A alma é a essência do homem, originada no plano ideal e presente no mundo do devir, como todos os outros entes, convidada à virtude como via ética para retornar em paz à instância da Verdade. O pensamento filosófico é uma técnica que revela a essência do homem e sua participação no meio.

    Para Buzzi, no entanto, a tecnologia é distinta da técnica. Não é uma evolução dos processos de descoberta da realidade e da integração com ela. Diz ele: "A tecnologia é o Leviatã da modernidade. Leviatã que comanda. Quem dirige e encomenda a pesquisa científica hoje é a tecnologia. Por isso, as universidades perderam em grande parte o senso da ciência. Perdeu-o também o próprio cientista, que está encarregado de pesquisar dentro de amplos programas cuja finalidade ele desconhece. [...] A tecnologia lança a sociedade moderna na grande aventura da vontade de dominação". (p.126,127)

    Postos os dois conceitos, vemos que a agricultura com controle biológico sustentável é técnica. A agricultura que usa defensivos nocivos,depreda,manipula sementes geneticamente sem resultados conclusivos sobre seus efeitos, etc, é resultado da tecnologia. Serve à dominação, à exploração, ao lucro de poucos. Não está integrada à harmonia do Ser e por isso agride a vida. A máquina que polui é resultado da tecnologia. Ajuda o homem e também o prejudica. A lavoura produz milhares de toneladas de grãos para alimentar as cidades, mas os agrotóxicos envenenam a água, causam câncer na população.

    Na ecologia há dois termos que diferenciam o ambiente natural e o artificial: ecosfera e tecnosfera.

    José Lutzenberger (1976) se posiciona radicalmente contra o uso da ciência com a finalidade de desenvolver macanismos obscuros de controle da produção. Afirma: "A tecnocracia endossa um otimismo englobante que pressupõe a onipotência tecnológica. Supõe-se que a tecnologia resolverá sempre todos os problemas [...] (p. 29).

    Há um impasse: a tecnologia seduz e domina, se faz útil mas cobra um preço caro demais. A Sociedade da Informação trouxe comunicação, só que é ao mesmo tempo um mercado ao qual nem todos têm acesso. Gera resíduos, influencia opiniões (ver Escola de Frankfurt). O ambientalismo é bandeira levantada após o desgaste do meio ambiente pelo desenvolvimentismo predatório. E temos inúmeros outros exemplos contemporâneos onde podemos aplicar a distinção conceitual entre tecnologia e técnica para compreender melhor os dois princípios.

    Para encerrar, Heidegger "(1958) diz que "A essência da técnica abriga em si o crescimento do que salva." (p. 38)

    Nas cidades, populações podem ser salvas com o uso do conhecimento e das ferramentas disponíveis sob a orientação da técnica e não sob a vontade de dominação da tecnologia.

    E o que mais pode ser salvo?

    BUZZI, A. Introdução ao pensar. Vozes. Petrópolis. 1989.
    LUTZENBERGER. J. Fim do futuro? Manifesto Ecológico Brasileiro. Movimento. Porto Alegre. 1976
    HEIDEGGER, M. A questão da técnica. Ensaios e conferências. Paris.

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  2. Morin e Kern (1995) falam em tecnociência. Uma junção destas competências, a descoberta científica e a utilização deste conhecimento para a tecnologia, o que moldou o mundo moderno que, por sua vez, legou ideologias e práticas ao contemporâneo.

    "A tecnociência não é apenas a locomotiva da era planetária. Ela invadiu todos os tecidos das sociedades desenvolvidas, implantando de forma organizada a lógica da máquina artificial até na vida cotidiana, expulsando da competência democrática os cidadãos em proveito dos experts e especialistas. Ela operou seus crackings no pensamento ao impor-lhe disjunções e reduções. A tecnociência é assim núcleo e motor da agonia planetária." (p. 92,93)

    O homem e seus saberes não incorporados pela tecnociência e do que queremos chamar de tecnologicismo, encontra menos espaço social e menor valorização. O paradigma desenvolvimentista, por muito tempo, propagandeou a ideia de que a sustentabilidade era um parâmetro retrógrado, anacrônico. Difundiu e plasmou a fé na tecnologia supervalorizando-a como a solução para o abastecimento e o progresso. Sentindo os efeitos do discurso inconsistente e da ação danosa, a sociedade se volta para o paradigma da sustentabilidade. Porém, o sustentável é um conceito que vem sendo incorporado pela indústria e pelo mercado, criando um novo mercado. O que era para ser inclusivo, repete uma lógica excludente e não aplaca a agonia. Ou se ingressa na lógica para não ser devorado ou é necessário lutar à margem, pois a política, a economia, a ciência e o que as implica socialmente está impregnado da mentalidade da tecnologia que domina à força e exige submissão.

    Castells (2012) alerta para alterações significativas em curso no atual sistema econômico. As crises do Capitalismo, agudizadas há cerca de 4 anos, colocaram o Dólar e o Euro em risco e se espalharam pelo planeta. A tecnocracia político/econômica não consegue atender às necessidades do bloco europeu. Portugal pede a cabeça do governo, Grécia protesta conta a austeridade, França se inclina à esquerda como reação. Moedas podem naufragar, os povos não. No tecido social, a desconfiança nas instituições faz surgir relações alternativas. Por meio de redes, a sociedade deve quebrar com a hierarquia e se organizar horizontalmente.

    Seria o uso da tecnologia digital sob o princípio da téchne! Para integrar o mundo integrando as pessoas mais harmonicamente. "As pessoas não confiam mais no lugar onde depositam seu dinheiro, e não acreditam mais naqueles a quem delegam seu voto. É uma crise dramática de confiança – e se não há confiança, não há sociedade."

    MORIN, E., KERN, A. Terra-Pátria. Sulina. Porto Alegre. 1995.
    CASTELLS, M. - Expansão do não-capitalismo. Revista Fórum online.
    http://revistaforum.com.br/blog/2012/11/castells-ve-expansao-do-nao-capitalismo/

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  3. muito legal a matéria,esse é um dos queridinhos,da minha professora de psicologia social!

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