Sua revista escolar de filosofia.

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

Tudo está consumado

Você faria o que Walter fez?

Ele tinha insuficiência renal. Aos 68 anos, vivia na comunidade de Ossola, nas montanhas da fronteira entre Itália e Suíça. Precisava de um transplante de rim. Agricultor durante toda a vida, era de temperamento sereno, altruísta. Simples, sentia-se integrado ao seu mundo junto à natureza. É o que diziam os parentes  e amigos. Walter Bevilacqua não tinha esposa ou filhos. Um dia ele falou ao padre local que não faria o transplante. Entendia que havia pessoas mais necessitadas do que ele esperando. Gente mais jovem, com filhos. Há poucos dias, numa sessão de diálise, Walter morreu.



O jornalista e filósofo Roberto Saviano o chamou de um pastor corajoso.






O sacrifício de Walter é um mosaico de visões e permite comparações com outros. Para entendê-lo bem é necessário ler a reportagem sobre o assunto no La Stampa. Lá estão detalhes particulares sobre Walter que abrem espaço para a reflexão. A atitude causa impacto porque envolve uma decisão moral que implica em vida e morte em meio a uma ação que parece abnegada. Contudo, as informações revelam algo. Talvez Walter tenha se amparado numa razão altruísta como justificativa de consciência, mas influenciado por motivos egoístas.

Foi uma forma de suicídio? Justificado pela intenção de salvar outro, mesmo sem a certeza de que está realmente salvando? Se ele decidisse pelo transplante, em caso de sucesso, poderia ter aproveitado os anos seguintes em ações voluntárias para de alguma maneira salvar muitas outras pessoas? Foi mesmo um ato altruísta puro ou a vida havia cansado Walter e o levado a desistir dela? Este tipo de renúncia consciente, ao contrário das impulsivas, e as consequências dela são maiores do que tudo e por isso são um modelo de coragem? Nisto se enquadra perfeitamente este caso?

Walter, riposa perché tutto è già consumato.

fonte: La Stampa
foto: lastampa, robertosaviano.it

3 comentários:

  1. Do Facebook:

    Charles Dalberto: Vou te provocar, Alexandre Pedroso. Posso? O Walter não teria pensado no todo e sim no indefinido, o que é diferente. Abriu mão por uma única pessoa desconhecida que potencialmente seria beneficiada em seu lugar. Se a ação de Walter for tomada como parâmetro de conduta para o todo, ou seja, todas as pessoas que precisam de um órgão, para ficarmos só nesta necessidade, poderia ocorrer que órgãos apodrecessem e os pacientes morressem todos por excesso de gentileza. "Vai você. Não, vai você que precisa mais." Neste caso específico, Walter deu a vida por um outro e ponto. Isto é heroico. Mas, por que o fez? Estas razões é que podem ser pensadas. Valem como modelo de comportamento? E se em lugar de recusar o rim, Walter o tivesse aceito e dedicado seus próximos anos de vida a trabalhar voluntariamente salvando pessoas, muitas, de alguma maneira? A ação dele tem impacto por envolver vida, morte e abnegação, mas ao ler a reportagem, alguns detalhes chamam a atenção para uma reflexão maior. Claro que não se chegará ao fim, pois são apenas elementos de uma única reportagem. Porém, são preciosos. Eberson Corrêa, a perspectiva religiosa protege o ator, mas não exime os atos de serem observados para ver se são legítimos. O assunto não se esgota facilmente.

    Alexandre Pedroso Aceito a provocação meu amigo. Hehehe . Concordo contigo e talvez esta seja a definição do "TODO" no qual me referi anteriormente. Uma pequena referencia ao mundo formatado na qual vivemos nos arremete a um comportamento mais ao interesse próprio menos ao comum. Talvez fosse seu propósito? Realmente seria problemático se fosse uma situação natural a doação . Mas talvez ajudasse com problemas de rejeição e o tráfico de órgãos. Mas se pensarmos como se vivêssemos em uma ilha (o que não é uma inverdade) na qual precisamos relativamente do próximo , talvez surgisse ou imanasse o sentimento contrario ..... o de doação. Sem falar do lado espiritual na qual talvez optássemos por outra conotação a respeito do mesmo assunto. Mas acho que indiferente do sentimento semeado ou de sua intenção. O que realmente chama a intenção é o tempo em que este Sr viveu com esta decisão. As duvidas que poderiam ter surgido .... Realmente pode se mandar o mundo com atitudes.

    Charles Dalberto É isso aí, jovem! O importante é o diálogo e se com ele se consegue subir um degrau no entendimento, vale para a vida toda. Neste caso, fatos: um homem de 68 anos, sem vínculos afetivos familiares, aparentemente cansado de trabalhar e quem sabe, do tipo de vida que levava. Isto é o que revela a reportagem. Entre optar por continuar a viver, e com isto poderiam surgir várias opções para ele exercitar mais a fraternidade, ele decidiu ir levando até morrer e com isso deixar o órgão para outro supostamente mais necessitado. Ótimo, esta sua ação se enquadra no altruísmo. Só que não sabemos se houve o efeito desejado. Por outro lado, as motivações morais deste senhor não parecem muito genuínas. Parece que ele já não tinha muito a perder. E o que ele teria deixado nem fora nada dele! Ele não doou um rim! Ele se recusou a receber um de alguém caso surgisse! Ele não doou nada! Só passou a vez. E parece ter feito isso por ter, de certa forma, desistido da vida. Como justificativa de consciência o altruísmo está bem. Mas as motivações profundas dele não parecem servir de modelo moral a ninguém por não serem livres, autônomas e sim impregnadas de emoções patológicas. Neste sentido ele não é exemplo de conduta. Esta é a contradição do caso.

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  2. Como pensar a reflexão critica na sociedade atual
    O mundo de hoje caminha de uma maneira vertiginosa, e os acontecimentos afeta a sociedade. Há várias maneiras de refletir a mais usada e de criticar, no meu ponto de vista nos só temos que criticar em prol de criar benefícios a vida de alguém.
    A criança possui a tendência de copiar padrões de condutas, por este motivo retrata as atitudes que vivencia e observa. Não sendo punida pelos seus atos,mas protegida, através das atitudes que a põe a salvo da discriminação e da exploração. Guardando a timidez que ecoam negativamente. O adolescente também não é punido como um adulto, mas já possui um certo discernimento de seus atos, mas intimamente traz a vivências da infância que leva a agir de maneira brusca desrespeitosa, dirigida e agredindo a sociedade.
    Temos que criar uma infância equilibrada a fim de não acarmos com as consequências da indiferença.
    As crianças e os adolescentes devem ser respeitados e assim aprenderão a respeitar os outros, como e dito pelo povo uma mão lava a outra, e dando que se recebe.

    Política, Governança e Sociedade: são estes os pilares da democracia efetiva.
    Adriano de oliveira freire

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  3. Sobre alguns pontos de vista acima expostos, o estudo de Kant e o que sua filosofia fala a respeito de liberdade e moral é recomendável. Segundo o filósofo, uma ação só pode ser considerada moral se for tomada livremente, pela razoável decisão do cumprimento do dever. Ações motivadas por emoções, desejos ou inclinações pessoais não possuem valor moral.

    A indiferença estoica pela vida e o suicídio como ato honroso também pode servir para o entendimento e problematização do tema.

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