- Olha, tipo... eu também te amo, mas é um amor... tipo assim, platônico.
É, o amor é um caso brabo...
Ou a gente compreende como ele aparece ou acaba se confundindo!
Sim, porque o amor nunca é de um só tipo, apesar de ser um mesmo amor.
Vamos, lá, vamos tentar entender o tal de amor platônico para não se desesperar ou então... se achar o máximo.
Platão aponta para o mundo da ideais - Escola de Atenas |
Não entendeu, né?
Pense assim:
Você olha pela janela e vê árvores.
Imagina aí.
Cada árvore que você vê é uma unidade singular, uma árvore particular, uma parte do conjunto de todas as árvores que existem.
Como você sabe que e uma árvore?
Porque você tem uma ideia ou uma representação da árvore dentro da cabeça que faz com que você reconheça cada árvore que vê. Esse ideia é universal, vale para todas as árvores que existem. Se você tiver que desenhar ou explicar o que é uma árvore, você recorre a ideia de árvore ou ao conceito, mesmo que não haja uma árvore na sua frente naquele momento.
As árvores que estão no mundo físico só estão lá porque é como se elas tivessem sido "desenhadas", fabricadas a partir de uma forma universal, um modelo que existe naquilo que Platão chama de mundo da ideias.
Então, há dois mundos: o mundo sensível (físico) e o mundo inteligível (das ideias).
O mundo físico só existe porque há o mundo inteligível que serve de matriz para tudo ser criado.
E quem cria o mundo?
Sem entrarmos muito nesse caminho agora, vamos dizer que Platão entende que é um Ser Perfeito que pensa as ideias (formas) perfeitas a partir das quais o universo material é feito. Tipo um deus, uma inteligência absoluta, o Logos.
Bom, vamos então saber o que isso tem a ver com o amor platônico.
Estamos estudando as características de Eros, certo?
Para entender o amor platônico, temos que ter em mente essa noção da ideia perfeita.
Isso porque Platão vai apresentar Eros, o amor, em dois níveis: um vulgar e um sofisticado.
O Eros vulgar é aquela carência pelas coisas particulares que nos interessam, como já vimos, e que se torna desejo.
Assim, uma pessoa vê num objeto a razão da sua vida, vê na outra pessoa sua metade da laranja.
Assim, uma pessoa vê num objeto a razão da sua vida, vê na outra pessoa sua metade da laranja.
Por quê?
Uma das razões é porque acha bonito.
Vê a beleza da pessoa, de uma roupa, de uma obra de arte.
Quando o amor é apenas o desejo por uma pessoa ou coisa material, ele é vulgar, é um amor simples. É um amor centrado na aparência.
Agora, é por meio desse amor vulgar e simples que se pode chegar ao amor sofisticado, aquele mais sublime, o amor pela "alma do ser amado".
Se Platão estiver certo, por meio da procura pela essência das coisas, o ser humano chega no que ela tem de especial, de único, mas que é também universal porque está em todos que a possuem.
Essa essência é imaterial, ideal, perfeita, imutável, universal e não é percebida com os olhos físicos, mas apenas com a inteligência.
Os olhos físicos enxergam apenas a aparência.
Então, se alguém se apaixona pela aparência de alguma coisa, esse é o Eros vulgar.
Mas, se esse alguém é capaz de perceber aquilo que há de essencial nessa coisa, então ele já está amando aquilo que é universal, sublime, único, perfeito e que permite a essa coisa ser tão amável.
Exemplo:
Alguém que se apaixona por uma pessoa bonita só enxerga a beleza da pessoa.
Alguém que se apaixona pela Beleza em si, vê o belo que está além da aparência.
A beleza em si é a própria beleza em seu estado ideal, imaterial, eterno. Quer dizer, os olhos enxergam as coisas bonitas, mas o intelecto entende o que é a própria beleza e a "vê" como se a "enxergasse" apesar dela ser um conceito, isto é, ser "visto" apenas pela razão.
ARANHA e MARTINS. Filosofando, p.84 |
Você reconhece a beleza porque ela está na sua cabeça como a ideia de beleza, mas a própria Beleza em si não está toda na sua cabeça, ela está no mundo inteligível como uma ideia verdadeira, perfeita e eterna com a qual são feitas todas as coisas belas que existem no mundo físico.
Dá uma lida →
O amor platônico, então, é a capacidade de se encantar pela essência, não pela aparência. É a capacidade de amar o que os olhos não enxergam, mas a inteligência sim. É amar as coisas verdadeiras que só são "vistas" pela inteligência e não pelos sentidos físicos. Essas coisas verdadeiras, inteligíveis e universais são também eternas porque não estão sujeitas à ação do tempo, não se desgastam como a beleza física.
Assim, uma pessoa de aparência feia, ainda é bela porque é um ser humano e possui a grandeza de ser humana, mesmo que como pessoa ela seja imperfeita.
Então, você enxergou a essência da pessoa, a sua humanidade e o que há de belo nisso, de belo em ser um ser humano.
Mas, você não vê a humanidade de ninguém com os olhos físicos e sim com a inteligência, o intelecto, a razão porque humanidade é um conceito, uma ideia sobre o que é o ser humano.
É por meio do Eros platônico, do amor platônico, que o ser humano não ama apenas os sábios, mas ama a própria sabedoria. E por amar a sabedoria, ele se esforça para estar com ela.
Eros
O pobre deseja a fartura.
O feio deseja o belo.
O ignorante deseja o conhecimento.
Quem é carente do saber deseja a sabedoria.
Esse é o amor intelectual, dos que filosofam, dos que querem a verdade porque ela é essencial e vital.
Então, se alguém disser que sente amor platônico por você, o que ele quer dizer?
Se está na dúvida, leia de novo!
Espero que você tenha amado o amor platônico!
charles-ddalberto@educar.rs.gov.br
charles-ddalberto@educar.rs.gov.br
Atualizado em 14/06/21
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