Sua revista escolar de filosofia.

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Isso muda o mundo

Uma das narrativas publicitárias é associar marca a ideias.

Não se vende o produto e não se fala, portanto, em preço.
Se oferece uma coisa conceitual, um jeito de pensar, de ser.

Um estilo de vida.

Com isto, reserva-se mercado aos consumidores que se identificam com o signo que é o argumento da campanha comercial. Marcas de cigarros sempre venderam liberdade. Enquanto podiam, no caso do Brasil. Montadoras de veículo vendem sensações de aventura, de conforto. Bancos nunca falam o valor de suas taxas e para uns isso muda o mundo.

E por aí vamos nós.

O significante não tem como significado a própria função do produto, mas um outro valor a ele associado e que induz ao consumo.

Quem lembra, por exemplo, daquele comercial de supermercado com aquele jingle

"O que você faz pra ser feliz?"

Ele tem uma mensagem simples e que todos sabem: satisfaça seu desejo. Mas isto não é comprar pão quando se está com fome, somente. É comprar naquela rede, ser uma das pessoas que faz alguma coisa para ser feliz e se diferencia de todas as outras encontrando nisto a satisfação de ser alguém diferente.

 
De ser um indivíduo.

Moderno, não?

O problema é que os desejos, mesmo estes ideológicos ou narcisísticos, são insaciáveis enquanto impulsos da vontade. Atendeu um, apareceu outro. Comeu hoje, tem fome amanhã. Se sentiu bonito hoje, amanhã precisa de novo. Se viu socialmente superior, semana que vem precisa sustentar o status.

Afinal, s
er feliz é atender à vontade ou realizar algo conforme o objetivo maior pelo qual se vive?
Há um objetivo, uma finalidade acima de todas as outras para a vida humana?

Tomás de Aquino
, amparado em Aristóteles, afirma que a felicidade está relacionada com a atividade própria da essência humana, que é conhecer.


"Se o fim de alguma coisa é algo exterior, também se denominará fim último aquela operação pela qual ela conseguirá alcançá-lo. Assim, daqueles para quem o dinheiro é o fim, se diz que a posse do dinheiro é o fim e não simplesmente amá-lo ou desejá-lo. Ora, Deus é o fim último da substância intelectual. Por isso a bem-aventurança ou felicidade do homem deverá consistir naquela operação específica na qual atinge a Deus. Ora, esta operação é o ato de entender, pois não podemos desejar o que não entendemos. Logo, a perfeita felicidade do homem consiste substancialmente em conhecer a Deus pelo entendimento e não em amá-lo." (Suma contra os Gentios, L.III)


Conhecer a realidade em grau máximo e adquirir a sabedoria plena. Isto é ser feliz e não atender a impulsos, segundo o escolástico.

E o que se faz todos os dias em busca de alegria?

Se busca o prazer.
Que dá e passa.

"[...] pois sem atividade não se produz prazer, e o prazer torna perfeita toda a atividade", diz Aristóteles no livro X da Ética a Nicômaco.

A felicidade pressupõe a manutenção de um estado de conforto que realiza o ser segundo sua essência. No caso do ser humano, sua substância, sua essência é ser intelectivo, é usar a inteligência e por meio dela conhecer, "para o homem é a vida conforme o intelecto, pois este é sobretudo, o que constitui o homem. Por isto esta é a vida mais feliz" (Ibidem).

Vamos voltar ao texto de Tomás de Aquino.



Ele também não parece meio herético diante do discurso teológico que algumas religiões destacam de amor a Deus? Tomás de Aquino foi revolucionário no século XIII e seu pensamento ainda provoca controvérsias ao aliar razão natural filósófica com razão sobrenatural revelada, o que modernidade tratou de dissociar alegando incompatibilidade, já que uma é crítica e outra dogmática.

Falar conceitualmente em Deus, em fim último ao qual o homem tende, etc, também não parece fora de moda?


O intelectualismo aristotélico e o tomismo, entre outras correntes filosóficas de concepção idealista se chocam com pensamentos que deslocam para a estética o princípio da realidade possível a ser experimentada pelo homem, ser sensorial.
Se o corpo é início e fim de tudo, atendê-lo é que é a felicidade, não ao intelecto, que é apenas parte do corpo, função do cérebro e não a substância humana.

Não parece mais com o pensamento predominante hoje?
Difícil, não, conciliar razão e sensibilidade?

O que é fácil de perceber é que n
a lógica antropo-ego-cêntrica e niilista do materialismo contemporâneo o sujeito é fim em si mesmo e o prazer é a felicidade, imediatamente, já ou nunca.Tudo a ver com o consumo.

Então, o
que você faz pra ser feliz?

imagens: geekpublicitário, montfort, makeoverday

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