Selfie.
Na foto autocaptada, a moça sorridente é María José
González, estudante de medicina da Universidad del Valle, no México. A senhora
ao lado, tão junto e tão só, é uma paciente em agonia.
Em seu primeiro dia de prática médica como assistente da
paciente, resolveu registrar o momento, como muitos fazem, para ter uma
recordação. Selfie. Enquanto
isto, a senhora morria.
María pretende ser médica.
E se esquece de ser humana na cultura que desumaniza lentamente.
E se esquece de ser humana na cultura que desumaniza lentamente.
Que vulgariza o sublime e humano momento de
se ausentar de modo absoluto. “O ser-para-a-morte é essencialmente angústia”,
diz Heidegger. Porque o ser humano é o único que sabe que vai morrer inexoravelmente. Ser consciente de um fim inevitável, trágico, produz angústia, que é um tipo de receio, de medo daquilo que não se pode evitar, mas não se sabe quando será.
Que angústia experimenta María diante da morte, que também é sua?
María é inconsciente do fim comum por negá-lo na impessoalidade de sua vida
imprópria, inautêntica, alienada e decadente de valores existenciais significativos.
María é selfie.
Carece de praticar o cuidado que é compromisso ético com a
existência, em especial, a humana.
María é está presa em si mesma.
Não vê o
outro, nem se vê no outro, apesar de estar diante dele.
O outro é só mais uma
coisa no mundo.
María não vê que “o
rosto do outro torna impossível a indiferença” como diz Boff, nem entende que “a
ética do cuidado aplicada à saúde enfatiza os papeis de interdependência mútua
e resposta emocional como parte importante de nossas vidas morais” porque “transcende
o cuidado em direção à cura física para o cuidado à atenção integral ao
paciente”, como escrevem Schwanke e Cruz.
María enxerga a si.
María está só.
Selfie.
Fontes: Ser e Tempo, Bioética, uma visão panorâmica
Imagem: María José González, via La FM, gertg