Sua revista escolar de filosofia.

quarta-feira, 30 de março de 2016

Aprendiz filosofando

Filosofar é a maneira de se aprender filosofia.

Não apenas repeti-la como pensamentos transmitidos, mas anunciá-la como aquisição do próprio intelecto. 

Esta didática mostra comoventes resultados quando aquele que ensina filosofia percebe o aprendiz filosofando. 

Quando se vê um aprendizado construído com base na reflexão que caracteriza a filosofia: uma atividade racional que se aprimora e se expressa com exatidão na linguagem.


É na linguagem que o cosmo, o desejo, o imaginário se elevam até a expressão. Paul Ricoeur


O mundo representado na consciência se torna linguagem para ser exposto, comunicado. Na linguagem mora a filosofia ou como diz Heidegger, a linguagem é a casa do ser, já que nela se manifesta o sentido das coisas.



Sobre isto, a estudante Letícia Lovato, do segundo ano da E. E. E. M. Santa Isabel, em Viamão, RS, filosofou o texto que deixamos para vocês.


A filosofia mora na linguagem


Para começar eu nunca entendi muito de filosofia, por isso talvez não saiba falar sobre esse assunto direito, mas refletir sobre isso é uma coisa que me ajuda a construir minha própria opinião sobre acontecimentos e tudo mais que é discutido na filosofia.


Então na minha opinião a filosofia mora na linguagem porque geralmente nos vários tipos de linguagem que tem, a filosofia está presente na forma de se expressar, até de se comportar. Filosofia e linguagem são duas coisas que na minha opinião andam juntas, porque filosofia é estudo do pensamento, lógica, questionamentos, entre várias outras coisas, mas enfim acho que se não fosse pela linguagem a filosofia não poderia ser isso, e por exemplo, como vamos achar lógica nas coisas se não for ter uma linguagem certa sobre aquilo, pra te explicar e te fazer compreender a lógica do que está sendo falado, e como vamos questionar sem uma linguagem certa junto com a filosofia?

Letícia

RICOEUR, Paul. O conflito das interpretações. 1978.
imagens: Letícia Lovato; tcd 
Texto e imagem publicados com autorização de Letícia Lovato

sábado, 5 de março de 2016

Αλήθεια.

Algumas vezes, conceitos tratados pela filosofia são resgatados e caem novamente no domínio público.

Novamente, porque, em dado momento, eles foram parte do ethos ou da episteme de um povo que o constituiu e o consagrou.

É o caso da palavra alétheia, usada para batizar a operação da Polícia Federal que no dia 04/03/2016 levou o ex-presidente do Brasil, Luiz Inácio Lula da Silva a depor obrigado pelo instrumento de condução coercitiva. Uma detenção temporária para prestar esclarecimentos em um inquérito, no caso aqui, parte das investigações de corrupção da Lava Jato.

Alétheia.

Αλήθεια.

Significa o que é lembrado, o não esquecido. Vem do grego léthe, esquecimento, com o prefixo “a”, negação. A alétheia é uma concepção de verdade ligada ao mito da encarnação das almas, quando bebiam a água do rio Léthe, que impregnado pela deusa de mesmo nome, fazia o homem esquecer a verdade do mundo inteligível. Na República há o relato posto por Platão no mito de Er

No mundo original está a essência do Ser.

Lá, a justiça, por exemplo, é ideal e perfeita, modelo a ser copiado no mundo material para realização do bem. Pretender a alétheia é querer alcançar o extremo da verdade.

O que é a essência do justo? 
Há a justiça perfeita? 
Como ela é?  

A concepção platônica aponta para o dualismo da realidade, sendo primordial a intelectiva e ideal, da qual deriva em simulação transitória e imperfeita do real concreto. 

Para os gregos, o ser estava dado como fato real e objetivo. 
Conhecer significava apreender a totalidade da coisa em sua estabilidade e identidade. 

O que é a coisa, sua causa? 

Parmênides diz que o ser é aquilo que é e sua essência só se alcança racionalmente.
O ser é razão.

"Pensar e ser são idênticos." 

É um exemplo de como os gregos tratavam o conhecimento e a verdade: o ser é verdade em si mesmo que o sujeito capta. 

A verdade está em o sujeito atingir o ser-em-si. 
O objeto (ser) se mostra ao sujeito e o condiciona. 
O que se conhece é o que o objeto revela. 

O que é o fato?

A operação policial sugere que quer a verdade radical dos acontecimentos. 

A epistemologia moderna se preocupa com o processo do conhecimento e as faculdades do sujeito.

Como é possível conhecer? 

Para os antigos, a preocupação é: como é possível se enganar, se o ser é fenômeno dado? 

Alétheia é a perfeita adequação entre o intelecto e a própria coisa, diferente da noção de veritas, a verdade por correspondência entre os enunciados da linguagem e as coisas.



Alethéia pretende conhecer a realidade ou irrealidade da própria coisa.
Veritas, a verdade ou a falsidade do discurso sobre a coisa. 

Alethéia é evidência.

Verdade manifesta e intuída do ser que é fato, que é fenômeno, onde não há espaço para seu oposto, o pseudo, o engano. 


link: FolhaSP
imagem: internet, OSul