Sua revista escolar de filosofia.

quinta-feira, 3 de julho de 2014

Ela não era quem se pensava que era

Você já leu a obra A menina que roubava livros?

Um dos capítulos se chama 'O incidente Jesse Owens'.

Ele descreve um dia em que o menino Rudy se pinta de carvão para viver a glória do atleta negro norte-americano que acabou com a pretensão esportiva nazista nos Jogos Olimpicos de 1936, em Berlim.

A ficção escrita por Markus Zusak em 2006 retrata o drama do totalitarismo alemão durante a Segunda Guerra Mundial e mergulha em contradições e absurdos do hitlerismo.


É excelente literatura.

Da imaginação aos fatos




Quando Jesse Owens humilhou o Reich nas pistas de atletismo em 36, deveria ter sido o suficiente para denunciar a loucura nazista da superioridade da raça ariana. Mas, tratada como acidente, a derrota germânica não impediu Hitler de comandar o holocausto nos anos seguintes.

O mito do arianismo, como qualquer outro, não possui bases objetivas.
 
André Comte-Sponville define o mito como "uma fábula que é levada a sério."

Nicola Abbagnano aponta três definições elementares para o mito:
- forma atenuada de intelectualidade;
- forma autônoma de pensamento ou de vida;
- instrumento de estudo social.

O mito serve, portanto, como fator a ser investigado para compreender o comportamento coletivo, como paradigma próprio e sem objetividade para explicar a realidade e tudo isto por ser um modo subjetivo de conceber os fatos.

O mito carece da objetividade científica, como apontado pelo Positivismo, por exemplo, ou por Francis Bacon, antes. Está epistemologicamente situado entre as crenças, não entre o conhecimento.


Foi para superar o mito como explicação total do Ser que nasceu a Filosofia.

Mas, vamos voltar ao mito da super raça ariana instituído pelo nazismo. Como fábula, na definição de Comte-Sponville, para ser construída, é preciso contar com a criação de fatos e narrativas que tenham a aparência da verdade.
 
Na Alemanha do Terceiro Reich, a propaganda disseminava a ideologia como nunca antes havia ocorrido. O governo utilizada técnicas e instrumentos de comunicação de massas para transmitir e consolidar os fundamentos morais, políticos e sociais do partido formando ideologicamente a sociedade civil e com isto reforçando a legitimidade do regime.
 
Uma das campanhas, chamada Sol em casa, era levada aos lares para a idolatria da perfeição anatômica da pessoa germânica.
Uma menina ilustrava os cartazes. 
 
Ela era judia.
 
Isto mesmo, judia. Do povo classificado como verme pelos nazistas e algumas vezes antes, como na expulsão deles da Europa medieval.
 
Aos 80 anos, Hessy Taft, que mora nos Estados Unidos, contou que hoje pode revelar sua identidade sem o risco de ser assassinada.
 
 
 
Será?
 
Quem contou a história a ela foi a mãe. A menina foi fotografada por um fotógrafo que tinha a intenção de ridicularizar o nazismo. A imagem dela foi adotada pelo Ministério da Propaganda comandado por Joseph Goebbels.

Em um mundo onde se mata por pouco, também por ideais e doutrinas, a ironia expõe o ridículo.
 
Veja o que está ocorrendo no Iraque, onde milhares já foram assassinados pelos jihadistas do ISIS no levante que proclamou a reinstituição do califado, extindo em 1924 com o fim do Império Otomano.
 
 
 
 
Você acredita que o mito é suficiente para definir e sustentar uma cultura?
Para fazê-la superior a outra?
Conflitos como os que há entre judeus e muçulmanos possuem raiz em mitos?
Há maneiras de superar o mito?
Ou ele é uma necessidade humana, um modo lógico de explicar o real a partir de estruturas básicas, como sugere a antropologia de Lévi-Strauss e que não pode ser desprezado?


COMTE-SPONVILLE, André. Dicionário filosófico. São Paulo: Martins Fontes, 2011.
ABBAGNANO, Nicola. Dicionário de filosofia. São Paulo: Martins Fontes, 2012.
links: La Repubblica, Jesse Owens.com, El Universal
imagens: larepubblica (ansa), galleryhip, universodosleitores, bundesarchiv_bild, HRW/AFP
 

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