Sua revista escolar de filosofia.

sábado, 27 de dezembro de 2014

O que nos iguala aos animais?

Livre.

Um orangotango do zoológico de Buenos Aires, na Argentina, recebeu um habeas corpus da justiça.

Isto mesmo!

Ele foi proclamado livre e vai ser trazido para o Brasil onde viverá em liberdade parcial. Uma decisão tratada como inédita.

Ou seja, o judiciário entendeu, neste caso, que o animal é sujeito de direitos e de um em especial, caro à humanidade: a liberdade. Não se trata da aplicação de um código de defesa animal já expresso, mas do reconhecimento de direito. A medida representa um avanço significativo no campo ético.




Ou não?

Lembram de Peter Singer?

 A postura ética utilitarista do filósofo é em defesa da satisfação em vida, minimizando dores e maximizando o bem-estar. Princípio que se estende aos animais não racionais.



"A igualdade é uma ideia moral, e não a afirmação de um fato. [...] Se um ser sofre, não pode haver justificação moral para recusar ter em conta esse sofrimento. [...] Se se justifica que assumamos que os outros seres humanos sentem dor como nós, há alguma razão para que uma inferência semelhante seja injustificável para o caso dos outros animais?" Peter Singer - Libertação animal

 

Então, você se considera diferente e nisto superior a um animal no que se refere à dor?
A dor é referência suficiente para justificar ações éticas e legais em defesa dos animais não racionais?

O debate implica reflexões a respeito da relação global entre humanos e animais, os selvagens, os domésticos e os de corte.


link: Globovisión
imagens: Corbis, noticiaspecuarias

 

domingo, 14 de dezembro de 2014

Trabalho acadêmico: A aprendizagem como um processo individual e coletivo

Postei no meu outro blog, o Capinando, uma reflexão sobre os rumos recentes de alguns sistemas de ensino no Brasil, no caso, o da rede estadual do Rio de Janeiro.

O texto compartilha opiniões do professor de Jornalismo Cristiano de Sales e foi publicado originalmente no Observatório da Imprensa.

Vale a pena ler, pois aponta uma tendência política para a educação que não está restrita ao Rio. A crítica surgiu a partir da publicidade e mostra o quanto a comunicação reproduz significados da estrutura. Se eles não são bons, afetam a todos e modo prejudicial.

Como objetivo maior, a lei brasileira orienta para uma formação cidadã do aluno, como sempre repetimos. No processo de ensinar e aprender, lida-se com sujeitos e padronizar metodologicamente o ensino é um caminho que já se mostrou autoritário, controlador e pouco democrático.  

Para contribuir com a análise a partir do ponto de vista de Sales, trago aqui um texto produzido para a pós-graduação.

Veja se gosta!


A APRENDIZAGEM COMO UM PROCESSO INDIVIDUAL E COLETIVO

Charles da Silveira Dalberto
Professora Denise Voltolini
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI - PÓS
Pós-graduação em Docência no Ensino Superior – Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 01/06/2013

Estudantes de uma mesma disciplina podem variar no desempenho escolar. Isto ocorre porque o processo de aprendizagem diverge e indivíduos diferentes aprendem de modo distinto, onde a relação aprendiz/conhecimento se dá sob a interferência das características pessoais do aluno, de seus valores culturais e aptidões cognitivas e também da maneira como o professor interfere positiva ou negativamente na construção do saber. Pelo lado dos alunos, o processo cognitivo resulta de variantes que vão desde os aspectos biológicos aos sociais.

Sobre os primeiros, cada período da vida é marcado por fases do amadurecimento intelectual e emocional que determinam o modo como cada pessoa apreende as informações do meio e as elaboram em si mesmas transformando-as em conhecimento e na consequente aprendizagem. É o que estudam ciências como a neurociência e a psicologia aplicada à aprendizagem. Com o auxílio das observações realizadas por estas áreas, pode-se compreender melhor a maneira como se aprende. De que forma os estudantes executam seus métodos próprios de investigação, o que se chama de estilos cognitivos. Dois grupos básicos podem ser apontados: o daqueles que procuram o saber, sendo ativos e independentes, levados por estímulos internos a formular o conhecimento de modo construtivo, reelaborando esquemas que permitem a transformação necessária para o aprendizado; e o dos estudantes com perfil de maior dependência externa, ou seja, passivos ao conhecimento transmitido e aos estímulos do meio, mais inclinados a respostas programadas, reforçadas pelo agente transmissor do saber, no caso, o professor ou instrutor. Da parte de quem ensina, é fundamental entender quais as principais variáveis que interferem na aprendizagem. Um professor ciente das teorias cognitivas pode intervir com maior eficácia no processo pedagógico com o objetivo de proporcionar aos alunos um desenvolvimento harmônico do ensino, levando-os à meta, que é o saber. Ao trabalhar com alunos de estilos cognitivos diferentes, o professor pode usar como ferramentas as teorias de aprendizagem.
 
Úteis, elas orientam na adoção de técnicas didáticas e ainda ajudam aos próprios aprendizes a se autoconhecerem melhor, proporcionando descobertas que podem conduzir à automotivação pelo prazer do estudo e à metacognição, por exemplo, para uma relação mais livre e produtiva com o trabalho de estudo. Como caso específico, pode-se citar uma aula de Jornalismo para o Ensino Médio de uma escola pública onde se trabalha o perfil editorial de diferentes jornais impressos. O professor pode propor que os estudantes avaliem as notícias políticas de alguns veículos de comunicação indicados por ele. Na instrução, pode orientar os estudantes a perceber a carga editorial presente na estrutura do texto e na seleção das imagens fazendo uma análise semiológica. Porém, o professor consciente da realidade social de seus alunos e dos interesses predominantes na faixa etária, pode traçar limites flexíveis quanto à editoria escolhida. Em vez de impor a análise do conteúdo político do noticiário, o professor pode abrir espaço que para os próprios estudantes tragam também exemplos de reportagens de assuntos de interesse deles para que sejam comparadas. A estratégia tem como função ser estimulante e criadora de motivação nos alunos para a leitura crítica daquilo que os atrai na comunicação. Pode ser indutora do crescente apetite pelo consumo de notícias ao mesmo tempo em que aumenta a independência de campo dos estudantes e reforça o lócus de controle interno, características importantes para a carreira profissional futura destes alunos.

Esta postura libertária faz do professor um agente transformador por meio da educação, na medida em que assume a identidade do educador progressista, como afirma Freitas (2001). Nesta perspectiva pedagógica identificada coma construção do saber, o educador é um interventor no sentido positivo do termo, pois ele conduz seus alunos à libertação como indivíduos, orientando-os a estar no comando de suas próprias capacidades para que assim construam a si como cidadãos conscientes, inteligentes, emocionais, éticos e socialmente participativos e úteis. O aprendizado não ocorre no indivíduo se ele estiver sozinho. Sem entrar na discussão a respeito da existência ou não de conhecimentos inatos, o que se observa é que o homem repete o que aprende na medida em que se repete criando hábitos. Mas nunca de modo estanque. Por esta razão há o progresso humano. Aquilo que se conhece não é suficiente para saciar a curiosidade e a necessidade de resolução de problemas que surgem como o oposto do saber, ou seja, a resposta a um problema é um mistério até ser descoberta ou inventada. Assim, de um determinado patamar do conhecimento, migra-se para outro superior provocado por questões que desafiam o próprio conhecimento e sua aplicação, num processo dialético como defendeu, entre outros, Hegel. (STÖRIG, 2009). Deste modo, a interação entre os estudantes e seus pares e entre eles e o professor é imprescindível para que haja avanços no aprendizado. Uma vez que as pessoas são diferentes, por seus valores intrínsecos elas elaboram interpretações variadas sobre estímulos extrínsecos e chegam a novos significados sobre a realidade. Desta dinâmica nascem pontos de vista inovadores e ideias que podem ressignificar conceitos antigos e promover a reconstrução dos saberes, fazendo com que o avanço ocorra e, com
ele, as mudanças trazidas pela aprendizagem. Segundo Gadotti (2007, p. 13) “A diversidade é acaracterística fundamental da humanidade. Por isso, não pode haver um único modo de produzir e reproduzir nossa existência no planeta.” Aprender é, assim, um processo compartilhado entre o indivíduo e a coletividade com participação determinante da escola.

REFERÊNCIAS
GADOTTI, Moacir. A mudança está conosco. FILOSOFIA ciência & vida, ano I, n 10, p. 6-13, 2007. Entrevista concedida a Faoze Chibli.
FREITAS, Ana Lúcia Souza de. Pedagogia da conscientização: um legado de Paulo Freire à formação de professores. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
STÖRIG, Hans Joachim. História geral da filosofia. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.


 

imagem: laparola.com.br

segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Isso muda o mundo

Uma das narrativas publicitárias é associar marca a ideias.

Não se vende o produto e não se fala, portanto, em preço.
Se oferece uma coisa conceitual, um jeito de pensar, de ser.

Um estilo de vida.

Com isto, reserva-se mercado aos consumidores que se identificam com o signo que é o argumento da campanha comercial. Marcas de cigarros sempre venderam liberdade. Enquanto podiam, no caso do Brasil. Montadoras de veículo vendem sensações de aventura, de conforto. Bancos nunca falam o valor de suas taxas e para uns isso muda o mundo.

E por aí vamos nós.

O significante não tem como significado a própria função do produto, mas um outro valor a ele associado e que induz ao consumo.

Quem lembra, por exemplo, daquele comercial de supermercado com aquele jingle

"O que você faz pra ser feliz?"

Ele tem uma mensagem simples e que todos sabem: satisfaça seu desejo. Mas isto não é comprar pão quando se está com fome, somente. É comprar naquela rede, ser uma das pessoas que faz alguma coisa para ser feliz e se diferencia de todas as outras encontrando nisto a satisfação de ser alguém diferente.

 
De ser um indivíduo.

Moderno, não?

O problema é que os desejos, mesmo estes ideológicos ou narcisísticos, são insaciáveis enquanto impulsos da vontade. Atendeu um, apareceu outro. Comeu hoje, tem fome amanhã. Se sentiu bonito hoje, amanhã precisa de novo. Se viu socialmente superior, semana que vem precisa sustentar o status.

Afinal, s
er feliz é atender à vontade ou realizar algo conforme o objetivo maior pelo qual se vive?
Há um objetivo, uma finalidade acima de todas as outras para a vida humana?

Tomás de Aquino
, amparado em Aristóteles, afirma que a felicidade está relacionada com a atividade própria da essência humana, que é conhecer.


"Se o fim de alguma coisa é algo exterior, também se denominará fim último aquela operação pela qual ela conseguirá alcançá-lo. Assim, daqueles para quem o dinheiro é o fim, se diz que a posse do dinheiro é o fim e não simplesmente amá-lo ou desejá-lo. Ora, Deus é o fim último da substância intelectual. Por isso a bem-aventurança ou felicidade do homem deverá consistir naquela operação específica na qual atinge a Deus. Ora, esta operação é o ato de entender, pois não podemos desejar o que não entendemos. Logo, a perfeita felicidade do homem consiste substancialmente em conhecer a Deus pelo entendimento e não em amá-lo." (Suma contra os Gentios, L.III)


Conhecer a realidade em grau máximo e adquirir a sabedoria plena. Isto é ser feliz e não atender a impulsos, segundo o escolástico.

E o que se faz todos os dias em busca de alegria?

Se busca o prazer.
Que dá e passa.

"[...] pois sem atividade não se produz prazer, e o prazer torna perfeita toda a atividade", diz Aristóteles no livro X da Ética a Nicômaco.

A felicidade pressupõe a manutenção de um estado de conforto que realiza o ser segundo sua essência. No caso do ser humano, sua substância, sua essência é ser intelectivo, é usar a inteligência e por meio dela conhecer, "para o homem é a vida conforme o intelecto, pois este é sobretudo, o que constitui o homem. Por isto esta é a vida mais feliz" (Ibidem).

Vamos voltar ao texto de Tomás de Aquino.



Ele também não parece meio herético diante do discurso teológico que algumas religiões destacam de amor a Deus? Tomás de Aquino foi revolucionário no século XIII e seu pensamento ainda provoca controvérsias ao aliar razão natural filósófica com razão sobrenatural revelada, o que modernidade tratou de dissociar alegando incompatibilidade, já que uma é crítica e outra dogmática.

Falar conceitualmente em Deus, em fim último ao qual o homem tende, etc, também não parece fora de moda?


O intelectualismo aristotélico e o tomismo, entre outras correntes filosóficas de concepção idealista se chocam com pensamentos que deslocam para a estética o princípio da realidade possível a ser experimentada pelo homem, ser sensorial.
Se o corpo é início e fim de tudo, atendê-lo é que é a felicidade, não ao intelecto, que é apenas parte do corpo, função do cérebro e não a substância humana.

Não parece mais com o pensamento predominante hoje?
Difícil, não, conciliar razão e sensibilidade?

O que é fácil de perceber é que n
a lógica antropo-ego-cêntrica e niilista do materialismo contemporâneo o sujeito é fim em si mesmo e o prazer é a felicidade, imediatamente, já ou nunca.Tudo a ver com o consumo.

Então, o
que você faz pra ser feliz?

imagens: geekpublicitário, montfort, makeoverday