Postei no
meu outro blog, o Capinando, uma reflexão sobre os rumos recentes de alguns sistemas de ensino no Brasil, no caso, o da rede estadual do Rio de Janeiro.
O texto compartilha opiniões do professor de Jornalismo Cristiano de Sales e foi publicado originalmente no
Observatório da Imprensa.
Vale a pena ler, pois aponta uma tendência
política para a educação que não está restrita ao Rio. A crítica surgiu a partir da publicidade e mostra o quanto a comunicação reproduz significados da estrutura. Se eles não são bons, afetam a todos e modo prejudicial.
Como objetivo maior, a lei brasileira orienta para uma formação cidadã do aluno, como sempre repetimos. No processo de ensinar e aprender, lida-se com sujeitos e
padronizar metodologicamente o ensino é um caminho que já se mostrou
autoritário, controlador e pouco democrático.
Para contribuir com a análise a partir do ponto de vista de Sales, trago aqui um texto produzido para a pós-graduação.
Veja se gosta!
A APRENDIZAGEM COMO UM PROCESSO INDIVIDUAL E
COLETIVO
Charles da Silveira Dalberto
Professora Denise
Voltolini
Centro Universitário Leonardo da Vinci – UNIASSELVI
- PÓS
Pós-graduação em Docência no Ensino Superior –
Psicologia do Desenvolvimento e da Aprendizagem 01/06/2013
Estudantes de uma mesma disciplina podem variar no
desempenho escolar. Isto ocorre porque o processo de aprendizagem diverge e
indivíduos diferentes aprendem de modo distinto, onde a relação
aprendiz/conhecimento se dá sob a interferência das características pessoais do
aluno, de seus valores culturais e aptidões cognitivas e também da maneira como
o professor interfere positiva ou negativamente na construção do saber. Pelo
lado dos alunos, o processo cognitivo resulta de variantes que vão desde os
aspectos biológicos aos sociais.
Sobre os primeiros, cada período da vida é marcado
por fases do amadurecimento intelectual e emocional que determinam o modo como
cada pessoa apreende as informações do meio e as elaboram em si mesmas transformando-as
em conhecimento e na consequente aprendizagem. É o que estudam ciências como a
neurociência e a psicologia aplicada à aprendizagem. Com o auxílio das
observações realizadas por estas áreas, pode-se compreender melhor a maneira
como se aprende. De que forma os estudantes executam seus métodos próprios de
investigação, o que se chama de estilos cognitivos. Dois grupos básicos
podem ser apontados: o daqueles que procuram o saber, sendo ativos e
independentes, levados por estímulos internos a formular o conhecimento de modo
construtivo, reelaborando esquemas que permitem a transformação necessária para
o aprendizado; e o dos estudantes com perfil de maior dependência externa, ou
seja, passivos ao conhecimento transmitido e aos estímulos do meio, mais inclinados
a respostas programadas, reforçadas pelo agente transmissor do saber, no caso,
o professor ou instrutor. Da parte de quem ensina, é fundamental entender quais
as principais variáveis que interferem na aprendizagem. Um professor ciente das
teorias cognitivas pode intervir com maior eficácia no processo pedagógico com
o objetivo de proporcionar aos alunos um desenvolvimento harmônico do ensino,
levando-os à meta, que é o saber. Ao trabalhar com alunos de estilos cognitivos
diferentes, o professor pode usar como ferramentas as teorias de aprendizagem.
Úteis, elas orientam na adoção de técnicas didáticas e ainda ajudam aos
próprios aprendizes a se autoconhecerem melhor, proporcionando descobertas que
podem conduzir à automotivação pelo prazer do estudo e à metacognição, por
exemplo, para uma relação mais livre e produtiva com o trabalho de estudo. Como
caso específico, pode-se citar uma aula de Jornalismo para o Ensino Médio de uma
escola pública onde se trabalha o perfil editorial de diferentes jornais impressos.
O professor pode propor que os estudantes avaliem as notícias políticas de
alguns veículos de comunicação indicados por ele. Na instrução, pode orientar os
estudantes a perceber a carga editorial presente na estrutura do texto e na
seleção das imagens fazendo uma análise semiológica. Porém, o professor consciente da realidade social de seus
alunos e dos interesses predominantes na faixa etária, pode traçar
limites flexíveis quanto à editoria escolhida. Em vez de impor a análise do
conteúdo político do noticiário, o professor pode abrir espaço que para os
próprios estudantes tragam também exemplos de reportagens de assuntos de
interesse deles para que sejam comparadas. A estratégia tem como função ser
estimulante e criadora de motivação nos alunos para a leitura crítica daquilo
que os atrai na comunicação. Pode ser indutora do crescente apetite pelo consumo de notícias ao
mesmo tempo em que aumenta a independência de campo dos estudantes e reforça o
lócus de controle interno, características importantes para a carreira
profissional futura destes alunos.
Esta postura libertária faz do professor um agente transformador por meio da
educação, na medida em que assume a identidade do educador progressista, como
afirma Freitas (2001). Nesta perspectiva pedagógica identificada coma
construção do saber, o educador é um interventor no sentido positivo do termo,
pois ele conduz seus alunos à libertação como indivíduos, orientando-os a estar
no comando de suas próprias capacidades para que assim construam a si como
cidadãos conscientes, inteligentes, emocionais, éticos e socialmente
participativos e úteis. O aprendizado não ocorre no indivíduo se ele estiver
sozinho. Sem entrar na discussão a respeito da existência ou não de
conhecimentos inatos, o que se observa é que o homem repete o que aprende na
medida em que se repete criando hábitos. Mas nunca de modo estanque. Por esta razão há o
progresso humano. Aquilo que se conhece não é suficiente para saciar a
curiosidade e a necessidade de resolução de problemas que surgem como o oposto
do saber, ou seja, a resposta a um problema é um mistério até ser descoberta ou inventada.
Assim, de um determinado patamar do conhecimento, migra-se para outro superior
provocado por questões que desafiam o próprio conhecimento e sua aplicação, num
processo dialético como defendeu, entre outros, Hegel. (STÖRIG, 2009). Deste modo, a interação
entre os estudantes e seus pares e entre eles e o professor é imprescindível
para que haja avanços no aprendizado. Uma vez que as pessoas são diferentes, por
seus valores intrínsecos elas elaboram interpretações variadas sobre estímulos
extrínsecos e chegam a novos significados sobre a realidade. Desta dinâmica
nascem pontos de vista inovadores e ideias que podem ressignificar conceitos
antigos e promover a reconstrução dos saberes, fazendo com que o avanço ocorra
e, com ele, as
mudanças trazidas pela aprendizagem. Segundo Gadotti (2007, p. 13) “A
diversidade é acaracterística fundamental da humanidade. Por isso, não pode
haver um único modo de produzir e reproduzir nossa existência no planeta.”
Aprender é, assim, um processo compartilhado entre o indivíduo e a coletividade
com participação determinante da escola.
REFERÊNCIAS
GADOTTI,
Moacir. A mudança está conosco. FILOSOFIA ciência & vida, ano I, n 10, p.
6-13, 2007.
Entrevista concedida a Faoze Chibli.
FREITAS,
Ana Lúcia Souza de. Pedagogia da conscientização: um legado de Paulo Freire
à formação de professores. Porto Alegre: EDIPUCRS, 2001.
STÖRIG,
Hans Joachim. História geral da filosofia. Petrópolis: Editora Vozes, 2009.
imagem: laparola.com.br