Sua revista escolar de filosofia.

sábado, 26 de setembro de 2020

Autoridade do professor

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO - 3º ANOS

Olá, gente!

A escola com perfil redentor é aquela que prepara para a sociedade sem se envolver efetivamente com as transformações sociais, colocando-se à margem de qualquer conflito e reservando sua ação para o horizonte interno da instituição.

Isso foi o que começamos a ver na postagem anterior, estabelecendo também um contraponto por meio do conceito de alienação e de uma pedagogia crítica progressista e libertária a partir do exemplo do texto de Paulo Freire extraído do livro Pedagogia do Oprimido, onde a ideia central é de que a educação constitui-se de uma dinâmica coletiva de troca de experiências significativas onde todos possuem espaço, saberes e valores a contribuir na formação educacional uns dos outros.

A educação, nessa concepção, liberta porque é construída com liberdade e para a liberdade de pensamento, de opinião, de busca do conhecimento, de autonomia dos costumes e das práticas sociais e políticas. 

Porém, vamos lançar nossa atenção um pouco mais na direção dessa ideia da escola redentora e perceber seu caráter tradicional e conservador.

Vamos fazendo isso pensando que não há uma pedagogia ou filosofia certa ou errada. Há sim tendências que são diferentes e atendem a propósitos distintos que se inclinam mais para um tipo ou outro de sociedade.


No caso da pedagogia tradicional, como o próprio conceito informa, ela é centrada em um conjunto de conhecimentos teóricos e práticos conectados às origens de um determinado modelo social e sua ação parte para a conservação desse estado de coisas.

Certos tipos sociais e suas funções são garantidas pelo modelo tradicional de ensino e aprendizagem, como por exemplo o saber acumulado do professor e sua figura como autoridade ativa na transmissão do conhecimento.

No lado oposto está o jovem aprendiz, passivo para receber o conhecimento e sem legitimidade de contestação, uma vez que ele é considerado ignorante e está sendo "formado" para uma sociedade que o espera e para a qual ele vai ser preparado pelo "especialista".

Essa tendência pedagógica levanta uma questão:

Que espaço ela deixa para a inovação?

Acesse o link abaixo e leia mais sobre a pedagogia tradicional e depois volte ao AVA Sala de Aula que há um exercício para você.

Clique aqui  → PROPOSTA PEDAGÓGICA TRADICIONAL  

Até mais!!

domingo, 13 de setembro de 2020

Trakinas, nunca mais

Oi, gente!!

Chegamos ao último tipo de amor.

Isso mesmo, depois de conhecer algumas características de Eros e Ágape na tradição filosófica clássica, vamos ao amor que nos falta compreender.

Para chagar lá, uma pequena história cotidiana de ficção, mas que permite marcar bem a característica desse modo de amar.

TRAKINAS, NUNCA MAIS

Início do ano letivo.

Primeiro ano do Ensino Médio e muita expectativa. Colegas novos e tals.

Controlando a insegurança, você espera que coisas boas aconteçam ao longo do ano. Uma delas, vai ocorrer em breve.

É que aquela sua amiga ou o seu amigo do fundamental está na mesma sala que você.

Legal!!

Já sentam juntas ou juntos e tudo começa a parecer mais fácil. Afinal, vocês são pessoas parceiras, de grande amizade, fazem as tarefas juntas, até dividem o lanche se precisar, o que não é nenhum sacrifício.

Outro dia mesmo, dividiram um pacote cobiçado, sonhado de Trakinas.

Na hora da fome, aquela foi a melhor bolacha recheada de todos os tempos na história milenar do universo. É que amigos de verdade são exagerados às vezes e prometem fazer tudo pela parceria, custe o que custar, " nada vai nos separar"!

Tudo muito bem, até que outra surpresa deixa o primeiro dia de aula ainda mais interessante.

É que você vê uma colega ou um colega novo, bonito, passando pelo corredor.

Bastou segundos "filmando" o/a colega e Eros já começou a fazer seu trabalho.

Você entende, né?!

Eros não brinca em serviço, ele provoca paixões do nada e com a rapidez da sua flechinha danada.

Vamos imaginar que esses melhores amigos sejam duas colegas.

Uma diz pra outra:

"- Migaaaaa!! Você viu?! Quem é aquele?!" 
"- Ai, não vi!" 

Agora elas tê uma missão juntas, descobrir quem é o colega novo e interessante da escola. No recreio, elas procuram.

"- Não olha agora, ele tá vindo..." 

Então, ele passa e Eros crava sua flecha ainda mais fundo.

"- Eu preciso saber quem é ele!" 
"- Eu acho que ele era do Adventista... Conheço uma galera lá, vou descobrir pra ti!" 
"- Ai, migaaa, brigaaaadaaaa!" 

Ainda mais unidas, elas dividem outro pacotinho de Trakinas selando o pacto entre fiéis companheiras.

Boralá, a missão segue!

Uma semana depois, a amiga que ficou de descobrir quem era o colega da outra turma, só enrola, não fala nada. Até que numa das saídas da aula, a amiga que se apaixonou pelo colega novo vê a melhor amiga conversando com ele numa esquina e, de longe, ela percebe que a coisa tá contra ela até que ele pega na mão da amiga... Opa! Ex-amiga...

A casa caiu!

Naquela hora, caiu...

No outro dia, elas se encontram na sala. Mas, a amiga traída agora sentou lá no fundo com o fone enterrado no ouvido e a cara como se tivesse lascado uma unha. A falsiane vê, finge que não é nada, senta do lado e pergunta:

"- Oi! Que tu tem? Tu tá bem?"

Pra que fazer isso?...

"- Tu é muuuuito fingida... Não tem vergonha, não?! Veem falar comigo por que, pra zoar da minha cara, é?! 
Eu viiiiiiiii vocêêêês doiiiiiiisss!!!! 
Agora não vem se fazer pro meu lado! 
Não quero mais ver a tua cara, falsaaaa!! 

Você, que vê e ouve a cena de longe e sabe do que se trata, nesse momento chega a uma conclusão certeira:



Trakinas, nunca mais.  



AMOR QUE É FILIA

O que aconteceu nessa história?

Simples, a confiança foi rompida e as amigas agora não têm mais relação uma com a outra, como todos viram.

Isso nos mostra uma característica inconfundível do amor chamado FILIA, que significa AMIZADE: ele precisa de reciprocidade.

A amizade é mantida enquanto há a troca equivalente de afetos ou, em outras palavras, os amigos precisam ser leais uns com os outros, honestos uns com os outros, parceiros uns com os outros, carinhosos uns com os outros, sinceros uns com os outros, etc. Caso contrário, a amizade se rompe.

Veja que Aristóteles (384 a.c - 322 a.c.) em sua mais importante obra sobre ética, a Ética a Nicômaco, diz que a amizade implica em "comportar-se com o amigo como consigo mesmo", quer dizer, ver no outro alguém que merece o mesmo tratamento que uma pessoa gostaria para si própria.

A amizade, então, é uma afeto que gravita em torno do amor e a tradição filosófica por vezes a considera como o legítimo amor humano, pois é amar quem nos ama.

Amar, mesmo quem nos odeia não é amizade, é o amor incondicional, Ágape, um amor para os candidatos a santos, difícil de praticar.

Amar quem não nos corresponde é paixão, participa de Eros, um amor impulsivo, irracional, para os "loucos", fácil de se perder por ele.

Amar quem nos ama é amizade, participa da Filia, um amor sereno, racional porque sabe quais razões para amar, um amor sábio, digno de quem se valoriza e sabe valorizar os outros.

O filósofo Plutarco (47 - 120 d.C) tem uma das suas mais populares obras dedicada à amizade. O tratado moral "Como distinguir o bajulador do amigo" é tipo um manual sobre a verdadeira amizade e uma orientação para reconhecer as pessoas que fingem ser amigas, porém exploram a vaidade dos outros por interesse. O bajulador é aquele "puxa-saco" que parece parça, mas não é. Diz Plutarco:

"Escolhe, como amigos, homens cheios de honra, 
Que nunca tentam alimentar teus vícios;
Mas expulsa de tua corte todo covarde e vil bajulador
Que, querendo te agradar, adula teus caprichos"  

Porque amigos de verdade querem nosso bem assim como queremos o deles. Fazemos o que podemos pelos amigos e vice-versa. 

Então, a Filia tem características próprias:

- é a troca de afetos positivos;
- não se baseia primeiramente em interesses úteis, mas na bondade recíproca, por isso um amigo não usa o outro;
- é intensa no encontro, no convívio entre pessoas que se estimam e se tratam bem enquanto se mantém essa relação de troca positiva de bons sentimentos


Veja só:

Eros é intenso na falta porque manifesta desejo que sofre para possuir aquilo que não tem.

Ágape é intenso em si mesmo porque ama sem esperar retribuição, sem interesse, desejo de posso e paixão.

Filia é intenso no encontro porque se sustenta na troca de afetos positivos em convívio sereno sem envolver desejos de posse ou sentimento incondicional.

"Ela não é o amor que toma (Eros), nem o amor que dá (Ágape). É o amor que se regozija e compartilha." André Comte-Sponville, filósofo. 

Regozijar-se é estar contente.

A amizade contenta e felicita, deixa alegre quem tem amigos, neles pode confiar e por eles ser também confiado.

Quem não quer sentir a alegria de ter amigos?

Quando você publica algo na sua rede social e ninguém curte, como você se sente?

"A amizade é o que há de mais necessário para viver" volta a dizer Aristóteles, pois uma vida sem amigos ele considera vazia e sem sentido, apagada como uma sombra

Pois, bem, agora que falamos de Eros, Ágape e Filia, você já é capaz de diferenciar o que alguém quer dizer quando diz que ama.

Se alguém te disser, "- Nossa, eu aaamoooo", você pode perguntar na hora:

"- Que tipo de amor você ama?"

A pessoa vai ficar pensando...

Mas, você não, você já filosofou um pouco sobre o amor para não ficar sem resposta. 

TAREFA:

Vamos agora para o AVA Sala de Aula que lá tem umas perguntas para vocês responder sobre os tipos de amor e a filosofia, afinal, nossa meta é entender porque a filosofia foi chamada assim, lembram disso?

Até +!

Editado em 15/08/2021

quinta-feira, 10 de setembro de 2020

Ingenuidade e alienação

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO PARA TERCEIROS ANOS. #10

Salve, pessoal!

Várias reflexões sobre o texto de Paulo Freire e o curta-metragem "Meu amigo Nietzsche".

Nosso propósito circula em torno da educação e seu compromisso ético, social e político.

Desse modo, o avanço está agora em observar certos aspectos da educação escolar e portanto formal, no que diz respeito aos seus objetivos sociais. Isso vai provocar uma intersecção entre tendências pedagógicas e a função da escola.

Em primeiro lugar, vamos pensar um pouco no objetivo social redentor da escola.

O que é isso, sor?!

Peraíííí!!!

Vamos lá!!!

Isso quer dizer que a escola pode assumir o papel de ser uma instituição voltada a integrar na sociedade aqueles que estão à margem dela e por isso, ela assume a postura de redimir a sociedade e seus integrantes das suas incapacidades.

De outro jeito: a escola redentora coloca a sociedade como ela é na posição de ser a sociedade adequada. Portanto, ela eleva a sociedade e suas estruturas a uma posição praticamente infalível. Sua função é atuar na correção de desajustes e não em alterações de padrões.

Por exemplo, a sociedade liberal de classes, como a nossa, é a sociedade adequada e quem não se adapta a ela é que tem problemas. O papel da escola vai ser preservar a sociedade como ela está e agir com esforços para trazer para dentro dessa sociedade aqueles que estiverem fora dela. Mais para frente vamos ver as teorias pedagogias relacionadas a esse modelo social.

The Wall - Pink Floyd; educação
padronizadora.

Essa tendência está constantemente "salvando" o modelo social como se ele fosse naturalmente o melhor e também agindo para corrigir os desvios daqueles que seriam potenciais riscos para esse modelo de sociedade. A escola, assim, coloca-se como a guardiã dos conhecimentos e costumes atuando não dentro, mas ao lado da sociedade para conservá-la.

"Com esta compreensão, a educação como instância social que está voltada para a formação da personalidade dos indivíduos, para o desenvolvimento de suas habilidades e para a veiculação dos valores éticos necessários à convivência social, nada mais tem que fazer do que se estabelecer como redentora da sociedade, integrando harmonicamente os indivíduos no todo social já existente." LUCKESI, p.37

A pergunta é:

e se essa sociedade não for a melhor que poderíamos ter?

Quem vai transformá-la e como?

Se a escola considerar que a sociedade está bem como está e que o problema são as pessoas que não se enquadram nela, a escola está contribuindo para modificar o que está errado ou para perpetuar esses erros?

Quanto dos problemas sociopolíticos brasileiros passa por uma escola que não investe em formar cidadãos mais esclarecidos e ativos?

Pense na pandemia... a falta de empatia de muitos, incluindo o Estado Brasileiro, não seria a consciência precária de não pensar no direito do outro, mas, mais em si, o que demonstra uma falha na educação republicana de igualdade e solidariedade entre todos?

A sociedade liberal não está formando sujeitos individualistas extremos?

Com isso, voltamos à pergunta:

o que você quer despertar no ser humano quando o educa?

No vídeo onde Rubem Alves fala em ser professor de nada, ele sugere que educar é despertar curiosidades. O sujeito curioso é aquele que vai questionar o mundo.

A questão em torno dessa tendência escolar redentora social está em que a escola renuncia à crítica e trabalha mais para conformar do que para libertar, mais para conservar do que para progredir e assim gera alienação. 

"Este é um modo ingênuo de entender a relação entre educação e sociedade." Idem, p.38 

Marx meme: alienação da imagem.
Pois o assunto do podcast é sobre a alienação como um problema a ser enfrentado pela escola.

Lá a gente troca uma ideia sobre Nietzsche e Marx para você refletir melhor.

Ouça no Sala Virtual.

Basta clicar aqui ou voltar para o AVA Sala de Aula.

Aproveite!!

LUCKESI, Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.

Aprender com o meio

FILOSOFIA DA EDUCAÇÃO. SEGUNDO ANO, ENSINO MÉDIO #10

São as múltiplas interações sociais que formam o ser humano, nos diz Luckesi e nisso ele direciona sua concepção sobre aprendizagem às teorias modernas e contemporâneas a respeito da ontologia humana e do conhecimento.

De forma simples, essa concepção vem ao encontro de um pensamento comum a quem educa e a quem aprende: de que o ser humano é quem humaniza o ser humano.

É um sentido distante das ideias essencialistas que tratam o sujeito como uma alma que contém dentro de si informações que são acessadas por processos críticos internos de levam ao autoconhecimento.


"São as ações, as reações, os modos de agir (habituais ou não), as condutas normatizadas ou não, as censuras, as convivências sadias ou neuróticas, as relações de trabalho, de consumo, etc. que constituem prática, social e historicamente o ser humano. Numa dimensão geral, o ser humano é o "conjunto das relações sociais" das quais participa de forma ativa." Luckesi, p.110



O que diz essa teoria sobre o aprendizado vai ao encontro de uma perspectiva fenomenológica, que considera que o conhecimento se dá numa relação intencional entre sujeito e objeto, quer dizer, a mente humana vai ao encontro das coisas para descobrir o que elas são a partir de como elas aparecem para nós.

No vídeo onde Rubem Alves fala em ser professor de nada, ele sugere que educar é despertar curiosidades. O sujeito curioso é aquele que vai questionar o o porque das coisas.

Na perspectiva hermenêutica, o conhecimento humano se dá quando a consciência se percebe no mundo em meio a outros seres e fatos e procura dar significado a tudo, interpretando a realidade e chegando também a um significado para si mesmo.

Desse modo, as teorias metafísicas sobre a essência ou natureza humana perdem espaço para a ideia de que o ser humano é um ser histórico e social construído pelas suas experiências.

"A concepção histórico-social se expressa em inúmeras tendências. O que importa destacar, apesar das diferenças entre elas, é a preocupação com o processo (nada é estático), com a contradição (não há linearidade no desenvolvimento que resulta do embate e do conflito) e com o caráter social do engendramento humano (o ser do homem se faz permeado pelas relações humanas e por isso se expressa de forma diferentes ao longo da história)." Aranha, p. 115 

Tranquilo?!

Agora acesse o podcast Locke, o brinquedo e a bolacha, no Youtube. (clique aqui ou vá para o AVA Sala de Aula).

Lá você vai conhecer um pouco sobre o filósofo John Locke (1632-1704) e como ele relaciona experiências, ideias, conhecimento e razão.

charles-ddalberto@educar.rs.gov.br




LUCKESI, Carlos. Filosofia da educação. São Paulo: Cortez, 1994.
ARANHA, Maria Lúcia de Arruda. Filosofia da educação. São Paulo: Moderna, 2006.