Sua revista escolar de filosofia.

domingo, 13 de setembro de 2020

Trakinas, nunca mais

Oi, gente!!

Chegamos ao último tipo de amor.

Isso mesmo, depois de conhecer algumas características de Eros e Ágape na tradição filosófica clássica, vamos ao amor que nos falta compreender.

Para chagar lá, uma pequena história cotidiana de ficção, mas que permite marcar bem a característica desse modo de amar.

TRAKINAS, NUNCA MAIS

Início do ano letivo.

Primeiro ano do Ensino Médio e muita expectativa. Colegas novos e tals.

Controlando a insegurança, você espera que coisas boas aconteçam ao longo do ano. Uma delas, vai ocorrer em breve.

É que aquela sua amiga ou o seu amigo do fundamental está na mesma sala que você.

Legal!!

Já sentam juntas ou juntos e tudo começa a parecer mais fácil. Afinal, vocês são pessoas parceiras, de grande amizade, fazem as tarefas juntas, até dividem o lanche se precisar, o que não é nenhum sacrifício.

Outro dia mesmo, dividiram um pacote cobiçado, sonhado de Trakinas.

Na hora da fome, aquela foi a melhor bolacha recheada de todos os tempos na história milenar do universo. É que amigos de verdade são exagerados às vezes e prometem fazer tudo pela parceria, custe o que custar, " nada vai nos separar"!

Tudo muito bem, até que outra surpresa deixa o primeiro dia de aula ainda mais interessante.

É que você vê uma colega ou um colega novo, bonito, passando pelo corredor.

Bastou segundos "filmando" o/a colega e Eros já começou a fazer seu trabalho.

Você entende, né?!

Eros não brinca em serviço, ele provoca paixões do nada e com a rapidez da sua flechinha danada.

Vamos imaginar que esses melhores amigos sejam duas colegas.

Uma diz pra outra:

"- Migaaaaa!! Você viu?! Quem é aquele?!" 
"- Ai, não vi!" 

Agora elas tê uma missão juntas, descobrir quem é o colega novo e interessante da escola. No recreio, elas procuram.

"- Não olha agora, ele tá vindo..." 

Então, ele passa e Eros crava sua flecha ainda mais fundo.

"- Eu preciso saber quem é ele!" 
"- Eu acho que ele era do Adventista... Conheço uma galera lá, vou descobrir pra ti!" 
"- Ai, migaaa, brigaaaadaaaa!" 

Ainda mais unidas, elas dividem outro pacotinho de Trakinas selando o pacto entre fiéis companheiras.

Boralá, a missão segue!

Uma semana depois, a amiga que ficou de descobrir quem era o colega da outra turma, só enrola, não fala nada. Até que numa das saídas da aula, a amiga que se apaixonou pelo colega novo vê a melhor amiga conversando com ele numa esquina e, de longe, ela percebe que a coisa tá contra ela até que ele pega na mão da amiga... Opa! Ex-amiga...

A casa caiu!

Naquela hora, caiu...

No outro dia, elas se encontram na sala. Mas, a amiga traída agora sentou lá no fundo com o fone enterrado no ouvido e a cara como se tivesse lascado uma unha. A falsiane vê, finge que não é nada, senta do lado e pergunta:

"- Oi! Que tu tem? Tu tá bem?"

Pra que fazer isso?...

"- Tu é muuuuito fingida... Não tem vergonha, não?! Veem falar comigo por que, pra zoar da minha cara, é?! 
Eu viiiiiiiii vocêêêês doiiiiiiisss!!!! 
Agora não vem se fazer pro meu lado! 
Não quero mais ver a tua cara, falsaaaa!! 

Você, que vê e ouve a cena de longe e sabe do que se trata, nesse momento chega a uma conclusão certeira:



Trakinas, nunca mais.  



AMOR QUE É FILIA

O que aconteceu nessa história?

Simples, a confiança foi rompida e as amigas agora não têm mais relação uma com a outra, como todos viram.

Isso nos mostra uma característica inconfundível do amor chamado FILIA, que significa AMIZADE: ele precisa de reciprocidade.

A amizade é mantida enquanto há a troca equivalente de afetos ou, em outras palavras, os amigos precisam ser leais uns com os outros, honestos uns com os outros, parceiros uns com os outros, carinhosos uns com os outros, sinceros uns com os outros, etc. Caso contrário, a amizade se rompe.

Veja que Aristóteles (384 a.c - 322 a.c.) em sua mais importante obra sobre ética, a Ética a Nicômaco, diz que a amizade implica em "comportar-se com o amigo como consigo mesmo", quer dizer, ver no outro alguém que merece o mesmo tratamento que uma pessoa gostaria para si própria.

A amizade, então, é uma afeto que gravita em torno do amor e a tradição filosófica por vezes a considera como o legítimo amor humano, pois é amar quem nos ama.

Amar, mesmo quem nos odeia não é amizade, é o amor incondicional, Ágape, um amor para os candidatos a santos, difícil de praticar.

Amar quem não nos corresponde é paixão, participa de Eros, um amor impulsivo, irracional, para os "loucos", fácil de se perder por ele.

Amar quem nos ama é amizade, participa da Filia, um amor sereno, racional porque sabe quais razões para amar, um amor sábio, digno de quem se valoriza e sabe valorizar os outros.

O filósofo Plutarco (47 - 120 d.C) tem uma das suas mais populares obras dedicada à amizade. O tratado moral "Como distinguir o bajulador do amigo" é tipo um manual sobre a verdadeira amizade e uma orientação para reconhecer as pessoas que fingem ser amigas, porém exploram a vaidade dos outros por interesse. O bajulador é aquele "puxa-saco" que parece parça, mas não é. Diz Plutarco:

"Escolhe, como amigos, homens cheios de honra, 
Que nunca tentam alimentar teus vícios;
Mas expulsa de tua corte todo covarde e vil bajulador
Que, querendo te agradar, adula teus caprichos"  

Porque amigos de verdade querem nosso bem assim como queremos o deles. Fazemos o que podemos pelos amigos e vice-versa. 

Então, a Filia tem características próprias:

- é a troca de afetos positivos;
- não se baseia primeiramente em interesses úteis, mas na bondade recíproca, por isso um amigo não usa o outro;
- é intensa no encontro, no convívio entre pessoas que se estimam e se tratam bem enquanto se mantém essa relação de troca positiva de bons sentimentos


Veja só:

Eros é intenso na falta porque manifesta desejo que sofre para possuir aquilo que não tem.

Ágape é intenso em si mesmo porque ama sem esperar retribuição, sem interesse, desejo de posso e paixão.

Filia é intenso no encontro porque se sustenta na troca de afetos positivos em convívio sereno sem envolver desejos de posse ou sentimento incondicional.

"Ela não é o amor que toma (Eros), nem o amor que dá (Ágape). É o amor que se regozija e compartilha." André Comte-Sponville, filósofo. 

Regozijar-se é estar contente.

A amizade contenta e felicita, deixa alegre quem tem amigos, neles pode confiar e por eles ser também confiado.

Quem não quer sentir a alegria de ter amigos?

Quando você publica algo na sua rede social e ninguém curte, como você se sente?

"A amizade é o que há de mais necessário para viver" volta a dizer Aristóteles, pois uma vida sem amigos ele considera vazia e sem sentido, apagada como uma sombra

Pois, bem, agora que falamos de Eros, Ágape e Filia, você já é capaz de diferenciar o que alguém quer dizer quando diz que ama.

Se alguém te disser, "- Nossa, eu aaamoooo", você pode perguntar na hora:

"- Que tipo de amor você ama?"

A pessoa vai ficar pensando...

Mas, você não, você já filosofou um pouco sobre o amor para não ficar sem resposta. 

TAREFA:

Vamos agora para o AVA Sala de Aula que lá tem umas perguntas para vocês responder sobre os tipos de amor e a filosofia, afinal, nossa meta é entender porque a filosofia foi chamada assim, lembram disso?

Até +!

Editado em 15/08/2021

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