Você acredita no destino?
A resposta pode ser indiferente.
Pois, se o destino é força determinadora dos fatos ou não,
crer nele não faz diferença. Ele atuará ou não igualmente. Seria preciso,
então, encontrar argumentos consistentes o suficiente para comprovar que os
acontecimentos da vida são presididos pela força do destino.
O fenômeno é uma referência. O real concreto é fato. Aquilo que ocorre no mundo acontece por necessidade. Encontrar conexões que formam o conjunto de circunstâncias causadoras dos efeitos do mundo seria uma ilusão humana que caracterizaria a resistência em aceitar que o fato é único, jamais múltiplo.
O que ocorre descarta todas as outras possibilidades.
E por que as coisas ocorrem?
Seria pela conjunção dos fatores?
Estes fatores seriam voluntários ou determinados?
Esta é a questão.
Aquilo que existe possui realidade maior do que aquilo que é
especulado, imaginado, pensado, o que é abstrato, ideia, representação. Neste
sentido, a força atrativa da realidade para a produção dos fenômenos é a
própria força criadora ativa e concreta. Esta potência é presente.
Só há este
presente concreto transformando-se por suas próprias leis e, deste modo, a
vontade não pode intervir na potência real e possui apenas a ilusão de
controlar os atos quando o ser é sim guiado pela realidade que se impõe como verdade
porque de fato existe. Por exemplo, as escolhas que se faz ao longo da vida são as escolhas possíveis para confirmar o que a realidade quer.
Isto perturba?
Pode ser que sim. Pois, tira do sujeito o liberdade de arbítrio e confirma o trágico
como fim da existência. Por outro lado, configura a humildade do ser diante do
poder real, que em alguns casos é proposto como sendo o próprio poder divino imanente. Esta ideia é parte do núcleo ontológico estoico e está presente em diferentes filosofias, como nas de Nietzsche ou Spinoza.
"O destino guia aquele que consente e arrasta aquele
que recusa" Sêneca
"Que é Deus? Tudo o que vês e tudo o que não vês. Idem
"Lembra-te, pois, que se tomares como livres coisas que
são escravas por natureza, e por tuas as que são alheias, surgirão
continuamente obstáculos após obstáculos e ficarás aflito, perturbado."
Epicteto
"Sabes o que é teu? O uso que fazes da aparência das
coisas." Idem
"[...] existe acaso um só néscio que viva sem sofrer,
sem temer, sem cair, sem alcançar a meta? Nenhum. Não há, portanto, ninguém
livre." Idem
O filósofo francês Clément Rosset trata da questão no livro O real e seu duplo.
Diz, por exemplo, que a narrativa oracular guarda a ilusão de fuga do destino por conhecê-lo. Mas, ao fugir do destino, se faz com que ele se cumpra, como o mito de Édipo.
Não é estranho apesar de lógico?
Então, você aceita a ação do destino enquanto princípio
real, tenha ele o nome que tiver?
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citações: Mondolfo, Rosset
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