Sua revista escolar de filosofia.

sábado, 24 de janeiro de 2015

Muito prazer

O verão é um período dionisíaco.

Se vive o corpo e com ele as sensações.

O verão é um momento estético.

Em nome do descanso, as pessoas, de modo geral, relaxam as regras. Ou seja, deixam de lado a racionalidade que normatiza a conduta. Reduzem o intelecto e intensificam a experiência sensorial.

Exageros, nesta época, são tolerados mais do que em outras fases do ano por se instalar um pacto tácito de que é preciso fruir o prazer antes que a chance acabe. Uma dose de pressa agita a perseguição a esta felicidade passageira.

Alegria efêmera resultante de comportamento mais hedonista.

Comer além da conta, beber demais, se expor ao sol, desejar aventuras sentimentais, fazer toda a atividade esportiva acumulada, dormir até cansar, ficar acordado até não aguentar, festejar por qualquer motivo, cultivar euforias, etc.

É bom sentir alegria e o prazer é uma necessidade.

Mas, é ele, o prazer sensorial, o Bem humano?
É por ele que se vive?
As ações são movidas em busca de prazer?
O prazer, como fim, justifica os meios para obtê-lo?
Pode haver algum prazer além do experimentado como sensação física? 

Platão dedicou o diálogo Filebo a investigar o lugar que o prazer ocupa na vida humana e sua relação com a felicidade. Para o filósofo, a vida ideal e portanto boa é aquela onde se misturam em proporção harmônica o intelecto e o prazer. Não se pode viver, enquanto humano, uma vida de pureza intelectual, o que retiraria a sensação, nem de puro prazer, o que excluiria a razão.

"Platão sustenta que o Bem pode ser encontrado na vida mista, e mais provavelmente, quando existe uma mistura bem-feita de prazer e sabedoria." (MACIEL, 2002, p. 246)

Mas, qual a mistura que se pode considerar satisfatória? 
Nada fácil responder...

No entendimento da medida justa entre as partes intelectual e prazerosa Platão propõe que o intelecto oriente a conduta na seleção dos prazeres afastando os falsos e exagerados que podem se constituir modos violentos de satisfação, prejudiciais ao homem e preferindo os verdadeiros conforme o ideal de virtude.

A obra trata de analisar o tema sob as perspectivas práticas do bem resultante da realização da essência humana ou a partir de um motor da ação, no caso, o prazer.

Então, o que justifica os excessos do verão?




Ah! Vem aí o carnaval...






MACIEL, Sonia Maria. Ética e felicidade: um estudo do Filebo de Platão. Porto Alegre: Edipucrs, 2002.

imagens: arte2b, skoob, gabriel rangel
link: a filosofia

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